terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ANGOLA. Ex-PM Marcolino Moco propõe alternativa à revolução e à manutenção do atual estado de coisas


O ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco propõe aos angolanos a alternativa "da cidadania, da intervenção social".Entre a continuação do regime, que considera marcado pela "arrogância" e o nepotismo, e uma revolução violenta, como as do norte de África.
Em entrevista à Lusa, Marcolino Moco, que foi também o primeiro secretário-executivo da CPLP, considera que a sua alternativa, que frisou não ser um manifesto político-partidário, pode devolver a Angola a utilidade da política enquanto instrumento de desenvolvimento e não de projeto personalizado, como considera estar a ser atualmente desenvolvida.
"A primeira alternativa é esta presente, sermos governados por pessoas que acham que somos cegos, que não estamos a ver. Um dos princípios da democracia ocidental, que não deve ser negligenciado, é o princípio da alternância e o problema do Presidente José Eduardo dos Santos é que ele está há 32 anos, vai fazer 33 anos, no poder", salientou.
Antigo secretário-geral do MPLA, partido de que é atualmente apenas militante, Marcolino Moco teceu fortes críticas a José Eduardo dos Santos, cuja longevidade no poder o fez perder a sensibilidade de que "o poder está no povo".
"Ele (José Eduardo dos Santos) e as pessoas que estão a sua volta - também não são fixas, aí uma ou duas pessoas são sempre as mesmas, há uns que saem, entram, saem -, que de tanto estar no poder já perderam a sensibilidade que o poder é do povo, que os bens, o petróleo, o Banco Nacional, a televisão pública, isso é do povo", acrescentou.
A manter-se esta insensibilidade, a possibilidade de convulsões sociais é grande, cujo primeiro sinal Marcolino Moco considera ter sido dado pelas manifestações de rua antigovernamentais que marcaram a realidade sociopolítica de Angola em 2011.
A alternativa que defende, divulgada no seu blogue "À mesa do Café", constitui um desafio à sociedade angolana para o debate.
"Provavelmente, tenho um defeito: fui sempre homem de convicções demasiado profundas. Mas tenho uma virtude: nunca acreditei que algum homem fosse capaz de trazer soluções definitivas. Por isso, como sempre, o texto que vos apresento pode ser a abertura para um debate e não um conjunto de ideias acabadas", escreveu no blogue, na apresentação das suas ideias, que pretende editar em livro, a lançar em Angola e Portugal.
Marcolino Moco receia que os jovens que protagonizaram as manifestações de 2011 elevem o seu nível da contestação, reproduzindo em Angola as convulsões que modificaram o cenário político no norte de África, na Tunísia, Egito e Líbia.
"Não devemos ter medo de abordar os problemas. Esta proposta vem justamente nesse sentido, por isso poderá ser abraçada pelos jovens. Ou não. Se os jovens a abraçarem vão para a terceira alternativa, se não, isso tudo se a primeira alternativa continua na teimosia, na sua arrogância de que pode tudo, é dona do país, é evidente isso que está aqui escrito não vai evitar nada, a explosão da segunda alternativa por onde os jovens poderão enveredar", considerou.
Marcolino Moco acrescentou que os manifestantes "estão a ser reprimidos, a ser sujeitos a sevicias, as suas manifestações pacíficas são infiltradas por indivíduos da segurança do estado, de forma clara".
"Portanto quem tem que escolher é quem está no poder hoje", acentuou.
Marcolino Moco é da opinião que os problemas em Angola radicam na "longevidade do Presidente (no poder), no enriquecimento sem causa das pessoas ao lado do Presidente, no culto da personalidade".
"A terceira alternativa é uma contribuição, é uma tentativa a ver se encontramos caminhos em que a política seja útil à sociedade, porque desta maneira a política não é útil", concluiu.
EL.
Lusa/Fim
http://noticias.sapo.pt/internacional/artigo/ex-pm-marcolino-moco-propoe-alternativa-a-revolucao-e-a-manutencao-do-atual-estado-de-coisas_13764685.html

PR José Eduardo dos Santos manipula religião para consolidar poder político - Marcolino Moco (C/ÁUDIO)
07 de Fevereiro de 2012, 13:38

*** Serviço áudio disponível em www.lusa.pt ***
Luanda, 07 fev (Lusa) - O Presidente José Eduardo dos Santos "manipula" dignitários católicos para consolidar o seu poder político, acusou em entrevista à Lusa o antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco.
"Eu vou dizer isso claramente e pode escrever: os clérigos quimbundos (região de Luanda e norte de Angola) da Igreja Católica estão a ser manipulados pelo Presidente, que diz: 'se vocês deixarem que a Rádio Ecclesia vá para todo o país, depois nós vamos entregar o poder aos nossos inimigos'. O inimigo é a UNITA, são os ovimbundos (etnia do centro-sul de Angola)", disse Marcolino Moco.
Em causa está a continuada impossibilidade legal da emissora católica angolana emitir em todo o país.
"Eu fui educado na Igreja Católica. Os bispos todos me conhecem. Estamos a passar essa pouca vergonha de aceitar que o (Presidente) José Eduardo (dos Santos) impeça a Rádio Ecclesia de ser transmitida em todas as províncias do país enquanto as rádios da sua filha estão a expandir-se pelo país. Tem uma televisão também, a TV Zimbo", acrescentou.
Marcolino Moco referia-se à Rádio Mais e à TV Zimbo, órgãos que integram o maior grupo editorial angolano, o Media Nova.
"Alguns são parentes do Presidente. Mas pode mesmo escrever isso. Eles são familiares, são parentes, e depois querem impor o seu modelo, que ninguém está contra. Eu não sou contra ninguém que seja quimbundo", acrescentou Marcolino Moco, nascido em 1953 no Huambo, Planalto Central de Angola, sendo por essa razão um Ovimbundo.
Defensor de que não devem existir tabus, designadamente os de ordem étnica, Marcolino Moco classifica como "gravíssimo" que se queiram impor "idiossincrasias" a outros povos.
"É um problema que as pessoas não querem debater. Por exemplo, os bispos de outros grupos étnicos em Angola têm receio de abordar isso abertamente por causa das hierarquias. Mas é uma realidade e é perigoso em relação ao futuro, porque é adiar problemas", defendeu.
EL.
Lusa/Fim
http://noticias.sapo.mz/lusa/artigo/13764749.html

Sem comentários: