Rafael
Marques, jornalista e ativista angolano, disse à Lusa que Angola está a
dirigir-se para o "desastre político e social" e acusa o chefe de Estado,
José Eduardo dos Santos de não ter diversificado a economia, cada vez mais
dependente do petróleo.
"Nós
estamos a caminhar para um desastre político e social, porque ao invés de o
Presidente se abrir ao diálogo e chamar outros setores da sociedade no sentido
de encontrarmos soluções comuns e inclusivas para se lidar com a crise,
fecha-se cada vez mais", afirmou Rafael Marques, acrescentando que um dos
problemas do país é a dependência em relação ao petróleo.
A revisão do
Orçamento Geral do Estado angolano deverá estar concluída em fevereiro e vai
implicar menos 12,3 mil milhões de euros em receitas petrolíferas, com a
previsão do barril de crude a cair para 40 dólares.
"A situação
económica vai agravar-se porque Angola não produz nada. Angola vive de
importações. Como é que o governo vai lidar com estas restrições, não tendo
feito investimentos em áreas básicas como na indústria alimentar? E porque é
que não se fizeram investimentos e não temos uma economia competitiva",
questiona.
De acordo com
Rafael Marques, uma das causas da situação em que o país se encontra é a
"corrupção" e a imposição" a todos os estrangeiros que querem
fazer negócios e investir em Angola de terem "dirigentes ou alguém da
família presidencial" como sócios.
Para o
jornalista e ativista, este tipo de "imposição" limitou a capacidade
de diversificação da economia porque, afirma, ficou tudo centralizado nas mãos
de "poucos indivíduos" que têm o poder ou influência nas decisões.
"Por
exemplo: a Isabel dos Santos (empresária, filha do Presidente angolano) vai
fazer mais um supermercado, Kopelipa (general Hélder Vieira Dias, ministro de
Estado e chefe da Casa de Segurança da Presidência da República angolana)
também fez o seu supermercado, mas depois todos os produtos que estão nesses supermercados
são importados de Portugal e de outras partes do mundo, exceto alguns vegetais.
Mas não há restrições económicas para estes indivíduos, há restrições na
importação por parte daqueles que têm menos poder e não para aqueles que têm
muito poder", acusa.
Rafael Marques
diz também que o "caminho do descalabro é difícil de evitar" mesmo
que o preço do barril volte a subir porque, argumenta, não existem políticas de
contenção de gastos e porque Angola tem um dos Executivos mais pesados do
mundo.
"A elite
continua a andar de carros de luxo: às centenas. Continuam a verificar-se
gastos supérfluos com os fundos públicos. Não há nenhuma medida de
racionalidade, exceto o aumento do preço dos combustíveis que está a afetar os
mais pobres", disse.
Angola subiu
"exponencialmente" o preço dos combustíveis numa altura em que se
verifica a queda do preço do barril de petróleo, facto que segundo Rafael
Marques, está a agravar a situação económica e social porque "o governo
não tem um plano efetivo para lidar com a crise".
"Vamos ter
problemas sérios. Um soldado em Angola ganha o equivalente a 250 dólares (221
euros) e são estes indivíduos que normalmente são os mais prejudicados com
estas políticas de contenção porque o governo não deixa de pagar aos
generais", afirmou.
Ao nível da
elite e das Forças de Segurança "há muito descontentamento" pela
forma "errática" como o chefe de Estado está a dirigir o país, disse
ainda Rafael Marques para quem a oposição tem sido "bastante cívica"
nos alertas sobre o estado da economia.
A sociedade
civil, acrescentou, tem feito a sua parte, apresentando ideias e soluções mas
até esta altura muito pouco pode ser feito porque essas iniciativas nunca são
levadas em consideração.
"O
Presidente, por mais hábil que seja não vai conseguir manter esta situação por
muito mais tempo, a menos que o preço do petróleo volte acima dos 100 dólares
por barril e ele possa continuar a levar os fundos do Estado como bem entende,
porque não havendo dinheiro vai começar a haver problemas muito sérios",
prevê Rafael Marques.
Autor do livro
"Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola", em que sete
generais angolanos o acusam de denúncia caluniosa por ter exposto estes
alegados abusos na província diamantífera angolana da Lunda Norte, e pela qual
deverá começar a ser julgado no próximo dia 24 de março, Rafael Marques
investiga atualmente os processos de expropriação de terras aráveis por parte
da elite angolana, em todo o país e sobretudo na província do Cuanza Sul.
LUSA
ANGOLA24HORAS