Lisboa - A situação da economia angolana está
a pressionar ainda mais os bancos portugueses, já afetados pela alteração na
ponderação do risco da dívida decidida pelo Banco Central Europeu (BCE), em
especial o BPI, consideram analistas ouvidos hoje pela Lusa.
Fonte: Lusa
Pedro Lino, presidente da DIF Brokers,
afirmou à Lusa que devido à baixa dos preços do petróleo, principal fonte de
receitas do Estado angolano, o país vai ter muita dificuldade em pagar obras já
iniciadas e terá de suspender outros investimentos programados, o que se está a
refletir no valor da dívida soberana. "Há empresas construtoras [em
Angola], que foram pagas com dívida angolana e já estão a oferecer essa dívida
quase com 50% de desconto", indicou hoje este responsável à Lusa, acrescentando
que "o risco de não pagamento da dívida é grande".
Por outro lado, com maiores riscos de
incumprimento nos pagamentos da parte das empresas angolanas, os bancos
portugueses diretamente presentes no país "vão ter também muitos
problemas", acrescenta.
No caso do BPI, a essas dificuldades
juntam-se os problemas que foram criados pela recente decisão das autoridades
europeias sobre a avaliação do risco em Angola.
A exposição indireta do BPI ao Estado
angolano e ao Banco Nacional de Angola (BNA) vai passar a ser avaliada pelas
regras comunitárias a partir de 2015, ficando acima do limite dos grandes
riscos, anunciou em dezembro passado o grupo liderado por Fernando Ulrich.
Em causa estão títulos de dívida pública
detidos pelo Banco de Fomento Angola, participado pelo grupo financeiro
português, e ainda reservas mínimas de caixa e outros depósitos e reportes
também do banco angolano, indicou o BPI em dezembro, num comunicado enviado aos
mercados.
Com a aplicação dos novos ponderadores,
a partir de 2015, os riscos atribuíveis ao grupo pela exposição ao Estado
angolano aumentam para 3.616 milhões de euros e pela exposição ao BNA para
1.297 milhões de euros.
Questionado sobre a estratégia que o BPI
poderá adotar face à situação económica em Angola e à exposição ao risco que
neste momento enfrenta, Pedro Lino considerou que "em última análise vai
ocorrer um aumento de capital para manter a exposição". "Essa é uma
opção preferível para os acionistas, quando a dívida angolana está a ser
transacionada a quase metade do preço", sublinhou.
Já a eventual aquisição do Novo Banco,
que tem estado no horizonte do grupo, pode ficar dificultada, uma vez que
"é um esforço adicional em que seria sempre preciso um aumento de capital
de grandes dimensões", a juntar às necessidades criadas pela necessidade
de adequar a situação do banco às novas regras decididas pelo BCE.
Mas não é só o BPI, ou mesmo os outros
bancos com presença direta em Angola, como o BCP, que ficam afetados pela
situação económica no país. "O fluxo de dinheiro angolano para Portugal
vai desaparecer, tal como todo o investimento em empresas portuguesas e os
'vistos gold', por exemplo", alertou o presidente da DIF Brokers.
Já Filipe Garcia, economista da
IMF-Informação de Mercados Financeiros, avisou que devido à entrada de menos
divisas em dólares, "neste momento há algumas dificuldades em aceder a
moeda estrangeira em Angola, pelo que os bancos portugueses a operar no país
têm mais dificuldade em intermediar operações financeiras e nas transferências
internacionais".
Quanto à questão que o BPI enfrenta,
Filipe Garcia entendeu que "a questão de sair de Angola não pode fazer
parte do cenário atual", uma vez que muita da rentabilidade do grupo
liderado por Fernando Ulrich tem origem no país. Esse pode ser também um
obstáculo a um eventual 'spin-off' da participação angolana para fora do
universo do banco em Portugal, sublinhou.
A alternativa para os acionistas do BPI
é "recapitalizar o banco" ou "tentar comprar outra
instituição", afirmou o economista, referindo-se ao Novo Banco. Filipe
Garcia acredita que dessa forma, a exposição ao risco angolano ficaria mais
diluída no balanço do grupo.
De acordo com os resultados de 2014 hoje
anunciados pelo BPI, o grupo registou prejuízos de 161,6 milhões de euros, face
aos lucros de 66,8 milhões de euros obtidos em 2013. Esta divulgação de
resultados ocorreu já após o fecho dos mercados, numa sessão bolsista que ficou
marcada por uma descida de 5,31% das ações do grupo financeiro.
Imagem: mulheradventista.com
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