segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Economias subsarianas ‘castigadas’ pelo preço do petróleo em 2015 e 2016






FMI revê em baixa ligeira crescimento da economia mundial, assinalando que os países mais afectados são os exportadores de petróleo. E volta a apelar, nos países produtores de petróleo, a reformas económicas.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa ligeira o crescimento da economia mundial este ano e no próximo, face às previsões de Outono, divulgadas em Outubro passado.

David Rodrigues

A região que integra boa parte dos países que faziam parte da ex-URSS - a Comunidade de Estados Independentes -, incluindo a Rússia, deverá ser a mais 'castigada', sobretudo pelo efeito da queda dos preços do petróleo, mas também a África Subsariana é afectada.
A queda do preço do petróleo, sublinha a instituição, é uma boa notícia para os países importadores. Os exportadores vão 'pagar a factura'. Segundo as projecções (ver gráfico ao lado), a economia mundial vai crescer 3,5% este ano e 3,7% em 2016, em ambos os casos menos 0,3 pontos percentuais (pp) face ao estimado em Outubro.
As 'economias avançadas', onde se incluem os EUA e os países da Zona Euro, vão crescer 2,4% este ano e em 2016, apesar da revisão em baixa, também ligeira, do desempenho de Alemanha e França. O Reino Unido, que não faz parte da Zona Euro, apresenta boas perspectivas de crescimento (2,7% em 2015 e 2,4% em 2016), assim como o Canadá.
"Ao nível dos países, as 'correntes cruzadas' traçam um cenário complicado", diz o director de Research do FMI, Olivier Blanchard. "Ou seja, há boas notícias para os importadores de petróleo e más para os exportadores. Boas notícias para os importadores de commodities, más para os exportadores. Boas notícias para os países mais ligados ao euro, más para aqueles que estão mais ligados ao iene" japonês, adianta o economista.
Nas economias emergentes, os países em desenvolvimento, o crescimento deverá manter-se estável em torno dos 4,3% este ano, aumentando para 4,7% em 2016, abaixo do previsto em Outubro. Na origem deste desempenho, segundo o FMI, está sobretudo a Rússia, cujas previsões são revistas em forte baixa, antecipando-se uma recessão este ano e no próximo, reflectindo a quebra do preço do petróleo e gás, e as tensões geopolíticas.
No caso da China, apesar da revisão em baixa, as perspectivas são positivas, o que é uma boa notícia para Angola, que tem em Pequim um importante aliado económico. O FMI não revela previsões para Angola, mas assinala um retrocesso na região subsariana, que deverá crescer 4,9% este ano (-0,9 pp face às previsões do Outono) e 5,2% em 2016 (menos 0,8 pp).
O recuo do crescimento da economia nigeriana, o maior exportador de petróleo da região, 'ajuda' à revisão em baixa. De acordo com a instituição liderada por Christine Lagarde, a quebra do preço do petróleo vai castigar fortemente a Nigéria, cujo PIB dever crescer 4,8% este ano (menos 2,5 pp face ao estimado em Outubro) e recuperar para 5,2% em 2016 (menos 2 pp).
O organismo com sede em Washington não tem dados sobre Angola, mas em Outubro, recorde- se, reviu em baixa as projecções de crescimento para este ano, para 5,9%, bem abaixo das estimativas que o Governo apresentou, no mesmo mês, no OGE para 2015 (9,7%), que agora deverão ser revistas em baixa no orçamento revisto. "Os exportadores de petróleo, cujas receitas têm um contributo significativo para as receitas fiscais, estão a viver choques mais fortes, em termos proporcionais", diz o FMI. "Os que acumularam reservas substanciais durante a alta do petróleo podem agora permitir-se aumentar os défices fiscais e apoiar-se nesses fundos para fazerem um ajustamento mais gradual da despesa pública", adianta.
O Fundo sublinha, contudo, que "preços mais baixos do petróleo constituem uma oportunidade para reformar subsídios a preços de energia e impostos, quer nos países exportadores, quer nos importadores".
O FMI, recorde-se, apresentou ao Governo angolano um 'guião' para a eliminação progressiva dos subsídios a preços, que em 2014 ascenderam a cerca de 3,4% do PIB. O OGE revisto, que o Governo está a preparar (ver páginas 2 a 6), deverá incluir cortes nestes subsídios como, aliás, já foi antecipado pelo Presidente da República no discurso de ano novo.

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