Lisboa - Desesperado com a contínua queda do
preço do petróleo no mercado internacional, o Presidente angolano, José Eduardo
dos Santos acaba de ordenar ao Ministério das Finanças para suspender,
temporariamente, pagamentos ao exterior decorrentes de empreitadas públicas e
imediata revisão, em baixa, do Orçamento Geral do Estado. Ao reunir esta semana
com dirigentes do MPLA e do Governo, Eduardo dos Santos, segundo soube o
Expresso, mandou congelar as transferências de dividendos, de prestação de
serviços e de importação de mercadorias.
Fonte: Semanário EXPRESSO
Presidente Eduardo dos Santos suspende
pagamentos ao exterior e encolhe orçamento
Os portugueses e as empresas
portuguesas, entre outras, dependentes da economia angolana, começam já a
sentir na pele os efeitos devastadores do pacote de austeridade preparado agora
por Luanda para enfrentar este novo tsunami financeiro. Um tsunami que pôs já
em alerta máxima o Ministério dos Petróleos ante a eminência de puderem vir a
ocorrer despedimentos nas empresas de prestação de serviços no ramo
petrolífero.
"Perante este cenário, a maioria
das construtoras portuguesas, com contratação pública, para não verem as suas
empreitadas interrompidas deverão pensar em renegociar com o Estado títulos de
dívida pública" disse ao Expresso o antigo vice-ministro da Indústria e
consultor económico, Galvão Branco.
O pacote de austeridade praparado por
Luanda, segundo apurou o Expresso, tem como prioridade o corte das importações
de determinados bens de consumo como cervejas, refrigerantes e água mineral,
maioritariamente provenientes de Portugal.
Além da pauta aduaneira, a adopção, a
partir desta semana, do principio de quotas de importações limitará também, de
forma gravosa, as exportações portuguesas, que, como as demais, passarão a ser
feitas a granel.
"Vão ter de se adaptar ao momento
crítico que vivemos porque, a partir de agora, só vai haver dinheiro para
salários" disse um alto funcionário do Ministério angolano das Finanças.
Com as calças na mão, o Governo vai
subir os impostos, cancelar temporariamente as admissões na função pública,
aumentar, novamente, em breve, o preço dos combustíveis e eliminar, de forma
gradual, os seus subsídios que ascendem os 5 mil milhões de dólares anuais.
E, vai ainda reduzir, ao máximo, as
viagens oficiais ao exterior e pôr governantes e deputados a viajar em classe
executiva em detrimento da primeira classe.
Mas as restrições não ficam por aqui. O
número de sessões de vendas de divisas por parte do BNA, em montantes que
ascendiam os 400 milhões de dólares por semana, será reduzido para menos de
metade e as concessionárias de automóveis, sem recursos cambiais, deixarão de
importar viaturas.
O quadro de restrições agora cozinhado
pelas autoridades de Luanda começa, no entanto a assumir contornos sombrios
para os empresários com a reanimação do mercado negro. Assiste-se já, à
formação, desde as primeiras horas do dia, de intermináveis filas de pessoas
diante das agências credenciadas pela Western Union para procederam à
transferência de divisas para o exterior.
O recurso à rua, por via das chamadas
"kinguilas" - vendedoras e compradoras ambulantes de dólares -
está a ser, novamente, a solução para angolanos e estrangeiros adquirirem
divisas a preços especulativos.
"As filas de espera para simples
transferências de 5 mil dólares estão em "banho maria" nos bancos mas
começam a ser feitas pela porta do cavalo a troco de comissões" -
confidenciou, irritado, Jorge Moreira, empresário angolano do ramo industrial,
que receia o regresso em Angola da predominância do mercado negro de divisas
dos anos 90.
Para tentar pôr fim à "farra"
despesista do passado, poderá estar de volta o jurista Carlos Feijó, para a
reforma do Estado, depois do antigo ministro das Finanças, José Pedro de
Morais, ter sido nomeado governador do Banco Nacional de Angola.
Alguns analistas, que sempre criticaram
a política de desperdício e de gastos inúteis do Governo, não acreditam, no
entanto, que as elites governamentais se venham a libertar dos vícios que as
alimentaram no passado. E, temem que, perante despedimentos em massa à vista e
uma perigosa espiral de criminalidade, se venha a instalar no país um clima de
protestos sociais de difícil controlo.
Imagem: despertatuquedormes.blogspot.com
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