Contrariamente
ao que afirmaram certos comentaristas, a acentuada baixa do preço do petróleo
no mercado mundial terá – começou já a ter – fortes repercussões na nossa
economia e na nossa sociedade. O primeiro sinal veio pelas medidas restritivas
anunciadas, que se reflectirão, dentro em breve, no Orçamento Geral do Estado
revisto para 2015.
http://jpintodeandrade.blogspot.com/
2. Um
balão de ensaio está já a ser executado no sector público, com congelamentos na
entrada de novos funcionários, bem como a aplicação de travões na ascensão na
carreira dos funcionários existentes. A área desportiva que se subsidia no OGE
iniciou, igualmente, um plano de contensão que aponta para um corte de cerca de
50% relativamente ao Orçamento antes previsto.
3. O
sector privado da nossa economia sente já os efeitos de alguns constrangimentos
de carácter financeiro. E eles irão aumentar à medida que for decorrendo o ano
económico. Avizinha-se uma época difícil que poderá, inclusive, traduzir-se em
instabilidade social e, mesmo até, política. Preparemo-nos, pois, todos para
momentos menos bons…
4. A crise
iniciada em 2008 começou por se abater sobre as economias mais fortes do mundo.
Depois, estendeu-se para todo o lado, debilitando indiscriminadamente a
economia mundial. E os seus impactos políticos foram profundos, levando a queda
de governos (claro, por via eleitoral) na Europa, fruto do clima de
insatisfação social que, entretanto, se instalou.
5. A crise
de 2008 fez cair governos tidos como de Direita mas, igualmente,
social-democracias. As razões de tais substituições não foram, pois, de cariz
ideológico, mas, sim, fruto das políticas restritivas e de austeridade
colocadas em prática pelos respectivos governos.
6. Quem se
distanciou dessas políticas contracionistas foi o governo norte-americano. E os
resultados são hoje perfeitamente visíveis: recuperação de empresas em
dificuldades, modernização das que haviam perdido competitividade, crescimento
económico, criação de empregos. No domínio económico, a presente Administração
americana está em alta.
7. A
presente baixa do petróleo parece vir a favor das economias mais avançadas – na
sua maioria, importadoras de crude – e pode ser um factor estimulador da sua
recuperação. Tal contexto, aparentemente favorável à recuperação dessas
economias, deve ser visto com certo cuidado, pois as multinacionais envolvidas
no negócio do petróleo, originárias dos países mais ricos, começam, elas
também, a dar sinais de algum nervosismo.
8. Um
preço demasiado baixo causará constrangimentos a tais multinacionais. Pelo
menos momentaneamente, elas perderão algum interesse na realização de
investimentos em pesquisa e exploração. Deverão adiá-los para melhores dias,
para quando os preços do crude voltarem a subir. Mas o protelar dos investimentos
em pesquisa e produção pode agravar ainda mais a situação económica dos países
subdesenvolvidos exportadores de petróleo.
9. Com os
actuais níveis de produção, os mercados registam um excesso de oferta,
responsável pelo presente preço do crude. E um aumento da oferta resultante da
entrada em exploração de novos campos de produção, faria baixar ainda mais o
preço, multiplicando as dificuldades para quem já vive dias difíceis.
10.
Acresce a isso o facto de nem todos os países exportadores terem a mesma
sensibilidade aos preços. Por exemplo, o Irão declarou que um preço próximo dos
usd 25/barril não lhe causará grandes perturbações. Dado o actual nível dos
seus compromissos económicos e sociais, a Venezuela só poderá sobreviver com um
preço rondando os usd 85/barril. Outro país-charneira neste “puzzle” é a Arábia
Saudita, dos maiores produtores e o maior exportador mundial. Com custos de
produção geralmente muito baixos, e enormes reservas financeiras acumuladas, a
Arábia Saudita dá-se ao luxo de ficar como que indiferente aos preços agora
vigentes.
11.
A Rússia, muito dependente das exportações de petróleo e gás, é dos países mais
atingidos pelos preços baixos, ao que se junta o impacto das sanções impostas pela
comunidade internacional, em especial, os EUA e a União Europeia, para a
castigar pelo seu envolvimento no conflito da Ucrânia. E com isso, o rublo – a
moeda russa – perdeu, até agora, cerca de metade do seu valor.
12.
A baixa do preço do petróleo está a ser acompanhada por um relativa valorização
do dólar norte-americano, relativamente às outras divisas internacionais e, em
particular, face ao euro. A valorização do dólar torna mais caras as
exportações norte-americanas e mais favoráveis as exportações europeias –
claro, as da Zona Euro – o que se traduz num facto positivo para a recuperação
da economia europeia.
13.
E aqui entre nós, que impactos terá um dólar mais valorizado? Uma
desvalorização do kwanza, teoricamente, pelo menos, tornaria mais fáceis as
nossas exportações. Mas, que exportações, se nós quase que apenas exportamos
petróleo? E o impacto de uma tal depreciação do kwanza sobre as nossas
importações? Torna-as mais onerosas, portanto, mais difíceis. A questão agora é
saber qual desses dois lados afectará mais a Balança Comercial, se a redução do
valor das exportações, se a contração das importações?
14.
Haverá, igualmente, outras implicações que não cabem no restrito espaço de que
agora dispomos. Possivelmente, numa próxima ocasião.
Sem comentários:
Enviar um comentário