CONTRADIÇÕES DE UM INTOLERANTE TOLERANTE OU QUANDO É
PRECISO DAR NOME À PAZ (III)
Alguém pode levar a sério, um
discurso com lugares comuns, ante a intolerância permanente, contra os adversários
políticos e os intelectuais não bajuladores, bem como a violação grosseira da
própria “Constituição Jessiana”?
FOLHA 8
que significa, “vamos fazer tudo para neutralizar as
causas da intolerância política”, como disse José Eduardo do Santos, na mensagem
de ano novo, quando são quilométricas acções ilícitas praticadas pelo regime
que nos (des)governa desde 1975?
Os exemplos de banalização da intolerância, se persistem
intramuros. MPLA, alguém acredita ser possível a sua erradicação da sanzala
grande (País), com um mero discurso circunstancial?
Acompanhe, caro leitor, a cultura institucionalizada, no
MPLA, desde o tempo de Agostinho Neto e que ainda faz morada, no ADN deste
partido e nunca ninguém se veio penitenciar.
- 1964
– Agostinho Neto, cujo ADN mental
tinha elevados decibéis de complexo, expulsa os “nacionalistas-camaradas” que o
tinham convidado a ser presidente do MPLA e mais se bateram para a sua
libertação e reconhecimento internacional, como prisioneiro político: Mário
Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Gentil Viana, Matias Miguéis, entre outros.
Nasce imediatamente depois a intolerância contra a
Revolta Activa.
- 1966
– Agostinho Neto ordena que seja
queimado vivo, numa fogueira, nas chanas do Leste, com outros camaradas, o comandante
Paganini, acusado de feitiçaria e de ter pretendido golpeá-lo em Brazzaville.
- 1968
– a política de intolerância de
Agostinho Neto alimenta o surgimento da Rebelião da Jibóia, liderada pelo
comandante Katuwa Mitwe, na Frente Leste, que depois, por uma questão semântica
lexical se converteria em Revolta do Leste.
- 1969
– intolerância contra Daniel Júlio
Chipenda, então vice-presidente do MPLA, por não condenar os autores da
rebelião da Jibóia.
- 1974
– num acto de intolerância e de
batota política, Neto apercebendo-se de uma derrota histórica que uma eleição
democrática causaria, no 1.º Congresso de Lusaka, adopta a estratégia de Nito
Alves de sabotar o conclave, retirando-se antes das eleições e apresentando-se
em Luanda, já com suporte militar cubano, como presidente legítimo, quando o
eleito democraticamente, como presidente do MPLA, foi Daniel Júlio Chipenda,
com quórum bastante, mesmo com a retirada de parte da Facção Presidencial e da
Revolta Activa.
- 1975
– intolerância na violação dos
Acordos de Alvor, impondo a Lei da Força contra os outros subscritores, FNLA e
UNITA, com apoio das tropas portuguesas e cubanas, não realizando as eleições
gerais e proclamando em 1975, um Estado de cariz comunista, a República Popular
de Angola-
- 1975
– intolerância fuzilando no Campo
da Revolução, em Luanda, o comandante Virgílio Sotto Mayor, ligado ao 4 de
Fevereiro e a guerrilha.
-1976
– intolerância contra os membros da
Revolta Activa e outros intelectuais, levando-os, sem provas acusatórias e
julgamento as cadeias.
- 1977
– intolerância maior de Agostinho
Neto e de parte da direcção do MPLA, ao cometer a maior chacina depois da
Segunda Guerra Mundial, no dia 27 de Maio de 1977 e estendendo-se por mais de
um ano, assassinando sem provas e julgamento cerca de 80.000 intelectuais
acusados de fraccionismo. A sua célebre frase, pronunciada numa cadeira
baloiço: “Não vamos perder tempo com julgamentos”, deu o mote. Depois disso,
foi a barbárie…, que nunca mais parou, simulada e dissimulada…
-1978
– institucionalização da
intolerância a nível do Estado, ao se passar daí em diante a admitir
exclusivamente membros do MPLA para os sectores-chave, intermédios e mesmo de
base.
-1979
– cansado de tantas reivindicações
e lamúrias de familiares directos, das vítimas do 27 de Maio, timidamente
libertou algumas e proibiu os assassinatos em massa, só em massa, os outros, os
selectivos, continuaram.
-1979
– morre de cirrose, segundo os
médicos da ex-União Soviética, o Intolerante Maior, o “médico profundamente
assassino”, António Agostinho Neto.
In fine e aqui chegado, é-me imperativo recordar o padre
António Vieira quando do alto da sua sapiência disse: “grandes males não se
curam senão com grandes remédios, e estes não se aplicam sem grande resolução”.
Logo resta-nos, enquanto cidadãos, definir o futuro,
individual e colectivo, não com o coração, mas com o poder da mente.
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