terça-feira, 20 de janeiro de 2015

William Tonet. REMEMBER 2014, A NOSSA POBREZA E A CORRUPÇÃO DELES (V)





CONTRADIÇÕES DE UM INTOLERANTE TOLERANTE OU QUANDO É PRECISO DAR NOME À PAZ (III)
Alguém pode levar a sério, um discurso com lugares comuns, ante a intolerância permanente, contra os adversários políticos e os intelectuais não bajuladores, bem como a violação grosseira da própria “Constituição Jessiana”?

FOLHA 8

que signifi­ca, “vamos fazer tudo para neu­tralizar as causas da intolerância política”, como disse José Eduardo do Santos, na men­sagem de ano novo, quando são quilométricas acções ilícitas praticadas pelo re­gime que nos (des)governa desde 1975?
Os exemplos de banaliza­ção da intolerância, se per­sistem intramuros. MPLA, alguém acredita ser pos­sível a sua erradicação da sanzala grande (País), com um mero discurso circuns­tancial?
Acompanhe, caro leitor, a cultura institucionalizada, no MPLA, desde o tempo de Agostinho Neto e que ainda faz morada, no ADN deste partido e nunca nin­guém se veio penitenciar.
- 1964 – Agostinho Neto, cujo ADN mental tinha elevados decibéis de complexo, expulsa os “nacionalistas-camaradas” que o tinham convidado a ser presidente do MPLA e mais se bateram para a sua libertação e reconhe­cimento internacional, como prisioneiro político: Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Gentil Viana, Matias Miguéis, en­tre outros.
Nasce imediatamente de­pois a intolerância contra a Revolta Activa.
- 1966 – Agostinho Neto ordena que seja quei­mado vivo, numa fogueira, nas chanas do Leste, com outros camaradas, o co­mandante Paganini, acu­sado de feitiçaria e de ter pretendido golpeá-lo em Brazzaville.
- 1968 – a política de intolerância de Agostinho Neto alimenta o surgimen­to da Rebelião da Jibóia, liderada pelo comandante Katuwa Mitwe, na Frente Leste, que depois, por uma questão semântica lexical se converteria em Revolta do Leste.
- 1969 – intolerância contra Daniel Júlio Chipen­da, então vice-presidente do MPLA, por não conde­nar os autores da rebelião da Jibóia.
- 1974 – num acto de intolerância e de batota po­lítica, Neto apercebendo-se de uma derrota histórica que uma eleição democrá­tica causaria, no 1.º Con­gresso de Lusaka, adopta a estratégia de Nito Alves de sabotar o conclave, retiran­do-se antes das eleições e apresentando-se em Luan­da, já com suporte militar cubano, como presidente legítimo, quando o eleito democraticamente, como presidente do MPLA, foi Daniel Júlio Chipenda, com quórum bastante, mesmo com a retirada de parte da Facção Presidencial e da Revolta Activa.
- 1975 – intolerância na violação dos Acordos de Alvor, impondo a Lei da Força contra os outros subscritores, FNLA e UNI­TA, com apoio das tropas portuguesas e cubanas, não realizando as eleições gerais e proclamando em 1975, um Estado de cariz comunista, a República Popular de Angola-
- 1975 – intolerância fu­zilando no Campo da Revo­lução, em Luanda, o coman­dante Virgílio Sotto Mayor, ligado ao 4 de Fevereiro e a guerrilha.
-1976 – intolerância contra os membros da Revolta Activa e outros intelectuais, levando-os, sem provas acusatórias e julgamento as cadeias.
- 1977 – intolerância maior de Agostinho Neto e de parte da direcção do MPLA, ao cometer a maior chacina depois da Segunda Guerra Mundial, no dia 27 de Maio de 1977 e esten­dendo-se por mais de um ano, assassinando sem pro­vas e julgamento cerca de 80.000 intelectuais acusa­dos de fraccionismo. A sua célebre frase, pronunciada numa cadeira baloiço: “Não vamos perder tempo com julgamentos”, deu o mote. Depois disso, foi a barbá­rie…, que nunca mais parou, simulada e dissimulada…
-1978 – instituciona­lização da intolerância a nível do Estado, ao se passar daí em diante a admitir exclusivamente membros do MPLA para os sectores-chave, inter­médios e mesmo de base.
-1979 – cansado de tantas reivindicações e lamúrias de familiares directos, das vítimas do 27 de Maio, timidamen­te libertou algumas e proibiu os assassinatos em massa, só em massa, os outros, os selectivos, continuaram.
-1979 – morre de cir­rose, segundo os médicos da ex-União Soviética, o In­tolerante Maior, o “médico profundamente assassino”, António Agostinho Neto.
In fine e aqui chegado, é-me imperativo recordar o pa­dre António Vieira quando do alto da sua sapiência dis­se: “grandes males não se curam senão com grandes remédios, e estes não se aplicam sem grande reso­lução”.
Logo resta-nos, enquanto cidadãos, definir o futuro, individual e colectivo, não com o coração, mas com o poder da mente.

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