Maka Angola
O governo provincial do Cunene proibiu,
a 7 de Janeiro, o jornalista Paulo Kuza de exercer a profissão naquela
localidade, por tempo indeterminado.
De acordo com Paulo Kuza, a proibição
foi-lhe comunicada directamente pelo director provincial da Comunicação Social,
Faustino Ndasuamba, que o convocou ao seu gabinete para o efeito.
Em Dezembro passado, o jornalista
tornou-se correspondente da Rádio Despertar, o único órgão radiofónico
que mantém uma linha editorial crítica do governo vigente. A rádio emite em FM
para Luanda apenas, desde 2006, em consequência dos Acordos de Paz entre o MPLA
e a UNITA.
Incrédula com a informação prestada pelo
seu correspondente, a direcção da Rádio Despertar contactou o director
provincial para confirmar a proibição.
Maka Angola teve acesso à gravação da
conversa telefónica entre o director-adjunto da Rádio Despertar,
Queirós Anastácio Chilúvia, e Faustino Ndasuamba, a qual efectivamente confirma
a proibição.
O director provincial confirmou ter tido
um encontro com Paulo Kuza, no qual informou o jornalista do seguinte: “Estou a
trabalhar em cadeia de mando. Trabalho com o vice-governador.” O director
explicou ainda que o vice-governador José do Nascimento Vayelengue responde
directamente ao governador António Didalewa.
“Se eu falou para esperar, ele tem que
esperar [pela] anuência do meu chefe, que é o vice-governador para a área
social. Ele [Paulo Kuza] não pode trabalhar”, reafirmou o dirigente provincial.
Queirós Chilúvia, da Rádio Despertar,
recordou ao director que a medida era uma inequívoca violação das liberdades de
imprensa e de expressão, e que, na realidade, o jornalista Paulo Kuza não
carecia da sua autorização para trabalhar.
“Não, não, eu tenho [as] minhas
limitações. Ele [Paulo Kuza] não pode trabalhar. Eu tenho o meu chefe, não
tenho autonomia para lhe autorizar a trabalhar”, justificou o representante do
governo provincial.
Persistente, Queirós Chilúvia questionou:
“Ele [Paulo Kuza] precisa da vossa autorização para exercer a profissão?”
“Não. Mas não sou eu que devo autorizar,
é o meu chefe [vice-governador]”.
O director-adjunto da Rádio Despertar socorreu-se da Constituição e da Lei de Imprensa para esclarecer que o governo provincial não tem competência para autorizar ou proibir um jornalista de exercer a sua profissão.
O director-adjunto da Rádio Despertar socorreu-se da Constituição e da Lei de Imprensa para esclarecer que o governo provincial não tem competência para autorizar ou proibir um jornalista de exercer a sua profissão.
Faustino Ndasuamba tinha mais um
argumento extraordinário na manga. Explicou, taxativamente, que “de acordo com
a norma administrativa [Paulo Kuza] não deve trabalhar”.
Questionado acerca da referida norma
administrativa e do seu enquadramento legal, mais não fez do que suspender a
conversa e solicitar que o contactassem noutra ocasião.
No dia seguinte, a 8 de Janeiro, Queirós
Chilúvia insistiu, fazendo novo telefonema ao director provincial da
Comunicação Social. Este reiterou as declarações do dia anterior e, de forma
ríspida, afirmou: “Estou a cumprir ordens superiores.”
Maka Angola contactou directamente Faustino Ndasuamba, que apresentou a sua versão. “É mentira. O jornalista não foi proibido. Era só para levá-lo ao sr. Governador para se explicar”, disse.
Maka Angola contactou directamente Faustino Ndasuamba, que apresentou a sua versão. “É mentira. O jornalista não foi proibido. Era só para levá-lo ao sr. Governador para se explicar”, disse.
Segundo o director provincial, a Rádio
Despertar quer “criar factos políticos. É o director-adjunto da rádio que
está a criar essa confusão. Ele está a atrapalhar-me com as suas perguntas. E
ameaçou-me que vai pôr o caso como notícia.”
Todavia, Faustino Ndasuamba insiste:
“Ele [Paulo Kuza] tem de esperar um bocadinho. Ele não pode esperar uns dias
até falar com o vice-governador e o governador?”
“São esses indivíduos [da Rádio
Despertar] que estão a criar problemas. Pronto, eu assumo. Ele
[jornalista] tem de esperar sem publicar nada até haver esse encontro.”
Para Alexandre Solombe, presidente do MISA-Angola, “o Cunene é o ponto extremado da ditadura disfarçada”. O ex-deputado à Assembleia Nacional considera “caricato o que está a acontecer. A decisão administrativa do governo provincial não tem qualquer fundamento na Lei de Imprensa ou na Constituição”.
Para Alexandre Solombe, presidente do MISA-Angola, “o Cunene é o ponto extremado da ditadura disfarçada”. O ex-deputado à Assembleia Nacional considera “caricato o que está a acontecer. A decisão administrativa do governo provincial não tem qualquer fundamento na Lei de Imprensa ou na Constituição”.
O líder do MISA-Angola, uma organização
de defesa dos direitos dos jornalistas, lembrou que casos de censura inequívoca
acontecem com regularidade. “A diferença, neste caso, é a denúncia pública.”
Após vários anos de trabalho no sector
das ONG, no Cunene, Paulo Kuza fez um curso de jornalismo básico, de três
meses, ministrado pelo Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional
(INEFOP). Após o seu término, em Setembro passado, Paulo Kuza realizou um
estágio na Rádio Despertar, tendo iniciado funções em Dezembro
passado.
Ao todo, enviou cerca de cinco notícias
acerca da intolerância política na província, da reclamação de vendedeiras
sobre a inundação do mercado onde labutam, e de encontros da oposição política.
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