Washington - No ultimo trimestre do ano
passado a tendência descendente do preço do petróleo agravou‐se fixando‐se abaixo dos
$50.00 por barril em meados do mês corrente. Analistas oferecem varias razões
para justificar este queda vertiginosa do preço do ouro negro, que complica a
execução e previsões orçamentais de muitos dos países cujas economias dele
dependem.
Fonte: Club-k.net
De facto, uma revisão rápida do mercado
petrolífero revela que a flutuação do preço deste produto
é ocorrência normal, tendo registado quedas consideráveis já nos
anos 70 e 80. Porém, importa salientar que há factores múltiplos que, do meu
ponto de vista, tornam a queda actual diferente das anteriores podendo ter uma duração
mais longa com consequências drásticas para economias monoprodutivas, e
demasiadamente expostas, como é o caso da Rússia, Venezuela, Angola, etc.
Entre outros, saliento quatro factores:
- Com objectivo de criar
autosuficiencia, os EUA ‐ maior
consumidor ‐ tem em marcha
uma série de iniciativas que incluem o aumento da produção domestica, com
realce para o chamado petróleo de xisto e um investimento considerável no
melhoramento de tecnologias para a exploração da fontes alternativas de energia
– biocombustíveis, solar e eólica. A essência do problema
é político. A dependência do petróleo do medio oriente, região com
elevados níveis de instabilidade, torna a América vulnerável e viabilizava a
transferência de montantes elevados de receitas para aquela região.
- O aumento da produção petrolífera
canadiana, e a proposta de construção de um oleoduto que se estendera da
província de Alberta aos estados Americanos da região do Golfo do Mexico. A
ascensão dos republicanos no ultimo ciclo eleitoral, aumenta a probabilidade da
aprovação deste projecto.
- A economia Chinesa continua a dar
sinais de afrouxamento e a saúde económica da União Europeia ainda requer
cuidados.
- A Arabia Saudita, que contem a maior
reserva de petróleo com o mais baixo custo de produção, parece determinada a
elevar os seus níveis de produção. É óbvio que, esta medida visa, por um
lado criar concorrência a produção Americana, cujo custo de produção e elevado
e, por outro, compensar o deficit criado pela queda do preço.
Os quatro factores acima expostos tem, a
medio e longo prazo, um efeito cumulativo que vai manter altos os níveis da
oferta em relação a procura. Se quisermos ser optimistas e prever a recuperação
das economias chinesa e europeia a curto prazo, poderá registar‐se um aumento da procura. Porem,
é duvidoso que venha a ser suficiente para uma recuperação
substancial dos preços. Em relação a estratégia Saudita, há três cenários
prováveis:
a) inunda o Mercado com petróleo barato
forçando os Americanos a desistir;
b) os Americanos desenvolvem tecnologias
mais económicas de exploração do xisto e aguentando‐se no mercado;
c) aumentam os desacordos no seio da
OPEC, levando a uma maior liberalização da produção pelos seus membros e
provável irrelevância gradual da instituição. Seja qual for o cenário que vier
a prevalecer, e pode haver outros, vai haver muita oferta por um tempo
indeterminado que vai continuar a sufocar os preços.
No que diz respeito a Angola, torna‐se imperativo que o governo, veja esta situação como
uma oportunidade para introduzir reformas e diversificar a economia criando
alicerces seguros para a sua dinamização e para a prosperidade das
próximas gerações. Na actual conjuntura internacional, a estabilização do
mercado petrolífero não trará de volta os tempos dourados do passado recente.
Ao nível global, é cada vez maior a gama de alternativas ao mesmo tempo
que novas tecnologias reduzem os níveis de consumo. O petróleo continuara a ser
relevante. Porem, manter a economia dependente do petróleo, seria uma política
irresponsável e suicida. Já não podemos ir para as próximas batalhas económicas
apenas com a artilharia. Assim, a viabilidade económica futura do nosso pais
exige novos paradigmas de pensamento. No mínimo, este desafio implica:
a) Abandonar a actual arrogância
hegemonista que caracteriza o governo e, com humildade e responsabilidade,
engajar a sociedade num dialogo sério sobre questões que enfermam o nosso
crescimento coletivo, opções politicas e prioridades económicas. Um dialogo
desta natureza não seria sinal de fraqueza mas sim, sinal de maturidade. Os
governos existem para servir os cidadãos e a inclusão aumentara a probabilidade
de sucesso das politicas a seguir;
b) Diversificar a economia. Temos de
passar das palavras a ação. Angola tem uma vasta gama de recurso naturais e
enormes potencialidades nas áreas da agricultura e pesca, por exemplo. Além
disso, o sector de serviços e a inserção de Angola na rede turística regional
já existente, poderão trazer benefícios económicos;
c) Diversificar o conhecimento e
descentralizar a governação. É preciso investir mais no nosso capital humano
que é, em ultima analise, a nossa maior riqueza. Trata‐se essencialmente da saúde e da educação, incluindo
programas de treino profissional ajustados as necessidades de desenvolvimento
de curto e medio prazo, por forma a maximizar os benefícios da diversificação.
O desafio do futuro exige ainda o abandono da tradicional centralização
governativa para que se criem polos de desenvolvimento nas varias províncias,
se devolva a iniciativa e a criatividade aos cidadãos, beneficiando o pais com
a dinâmica da competição positiva, tanto ao nível da política, como da
economia.
d) Fazer com que a política externa de
Angola sirva os objectivos da sua política nacional, buscando mais valias no
interesse coletivo.
Estamos pois, perante uma oportunidade
de buscar consensos e recorrer as nossas reservas nacionais para fazer
investimentos prudentes e urgentes, tendo em vista o bem estar do cidadão e a
preservação de uma sociedade estruturada, funcional e dinâmica.
*Dirigente da UNITA
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