Alemanha - Em vez de protegerem os cidadãos, as forças de segurança atentam
contra os direitos e liberdades dos angolanos. Activistas dos direitos humanos
dizem que as autoridades estão formatadas para a repressão e violência.
Fonte: DW
Club-k.net
Várias
organizações angolanas de defesa dos direitos humanos estão preocupadas com a
crescente violência que se vive no país.
“O que
estamos a testemunhar, nos últimos tempos, é uma escalada da violência policial
contra os cidadãos, violência em termos de criminalidade de toda a espécie. O
que aconteceu na cadeia de Viana é uma demonstração que temos um sistema
policial e de governação que acredita na repressão, violência, na tortura e no
castigo físico das pessoas, o que é uma aberração num Estado democrático e de
direito”, diz Elias Isaac, presidente em Angola da organização Open Society.
Da prisão
de Viana foram divulgadas imagens que mostram um grupo de reclusos a ser
violentamente agredido por guardas prisionais. O activista refere-se ao vídeo,
divulgado recentemente na internet, sobre a agressão de guardas prisionais
contra reclusos na cadeia de Viana, província de Luanda.
Elias
Isaac afirma que o passado colonial de Angola, a independência e a longa guerra
civil (1975-2002) deixaram a violência entranhada no sistema político e de governação
do país. “Vemos que a polícia e os serviços profissionais foram formatados para
reprimir, para serem violentos, não para criarem estabilidade e ordem pública”,
observa Isaac.
O
activista de defesa dos direitos humanos lamenta que, em vez de protegerem os
cidadãos, as forças de segurança e as autoridades são as primeiras a
desrespeitar a Constituição e a atentar contra as liberdades e direitos das
pessoas.
Os alvos
do costume
O
director em Angola da organização Open Society considera que o cidadão angolano
está vulneravel e propenso à violência. Muitas vezes, as manifestações
pacíficas são violentamente reprimidas.
Elias
Isaac cita um outro grupo particular que é frequentemente alvo de abusos: “as
mulheres que vendem nas ruas, as zungueiras, que tentam sobreviver (e elas não
estão na rua porque querem mas porque o governo não consegue cuidar dos seus
cidadãos)".
Segundo o
ativista, as zungueiras "são violentadas constantemente nas ruas pelos
policiais, pelos fiscais e ninguém diz absolutamente nada. Elas são cidadãs que
têm direito à vida, ao pão e a procuram este pão”.
Defensores
dos Direitos Humanos sob ameaças
O Estado
angolano continua portanto a faltar ao compromisso nacional e internacional de
proteger os direitos humanos assim como as próprias organizações. “Continua-se
a confundir a acção dos defensores dos direitos humanos como se fosse uma ação
do inimigo e uma ação partidária”, diz por seu lado, José Patrocínio, da
organização não-governamental OMUNGA, na província de Benguela, no oeste de Angola.
José
Patrocínio conta um caso particular que aconteceu, na segunda-feira (02.09), na
cidade do Lobito, na mesma província: “um dos nossos colegas foi mandado parar
o carro, apontaram-lhe uma pistola à cabeça e disseram-lhe que não acompanhasse
o caso que nós estamos a acompanhar que é o caso da “Shoprite”, se portanto não
queria morrer", relata.
"Já
tivemos muitos problemas de pressão psicológica mas nunca tivemos um membro que
tivesse sido ameaçado desta forma", confessa José Patrocínio. Apesar da
ameaça, a organização OMUNGA continua a acompanhar o caso dos trabalhadores da
empresa "Shoprait", em greve há oito meses.
Segundo o
ativista, os trabalhadores "foram vítimas de violência por parte da
polícia e o tribunal não tem dado a resposta necessária". José Patrocínio
aponta que o ciclo de abusos dos direitos humanos seja alimentado pelo sistema
judiciário de Angola.
“Há um
problema em que o sistema judiciário é chamado muitas vezes para legitimar,
para formalizar as condenações injustas. Ou seja, parece que há uma intervenção
policial violenta e depois o tribunal formaliza, legitima, condenando grande
parte das vezes as próprias vítimas, os inocentes", sustenta o ativista.
José
Patrocínio cita um outro exemplo concreto: "no Lobito, no princípio deste
ano, numa comunidade, que eram antigos moradores de rua, a polícia teve um
comportamento bastante violento e ainda por cima as pessoas vítimas foram
condenadas pelo tribunal”.
Os ativistas concordam que é necessário fazer um trabalho mais afinado de monitoria e denúncia de violações, produzir relatórios factuais e interagir com as várias instituições do Estado angolano e internacionais.
Os ativistas concordam que é necessário fazer um trabalho mais afinado de monitoria e denúncia de violações, produzir relatórios factuais e interagir com as várias instituições do Estado angolano e internacionais.
O
respeito pelos direitos humanos, em particular a questão da segurança pública,
esteve em destaque num encontro de várias organizações, na terça-feira (03.09),
em Luanda. Além da Open Society e da OMUNGA, participaram ainda a Associação
Justiça, Paz e Democracia (AJPD), a SOS Habitat, o Fórum Regional para o
Desenvolvimento Universitário (FORDU) e representantes do movimento juvenil
revolucionário.
No
encontro, os representantes do movimento juvenil revolucionário anunciaram uma
nova manifestação contra o governo angolano para 19 de setembro.
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