por Maka Angola
A polícia francesa apreendeu perto de 3 milhões de
euros (cerca de US $4 milhões) e deteve cinco indivíduos, acusados de
branqueamento de capitais e crime organizado, num caso que envolve o general
Bento dos Santos “Kangamba”, dirigente do MPLA e figura próxima do presidente
José Eduardo dos Santos. A informação foi divulgada pelo jornal francês La
Provence.
As apreensões tiveram lugar em duas ocorrências
separadas no dia 14 de Junho, e as viaturas que transportavam o dinheiro
partiram de Portugal. À uma hora da manhã, nas portagens de Arles, no sul de
França, a policia alfandegária encontrou na bagageira de um Mercedes de
matrícula portuguesa, acomodados num saco de plástico e numa caixa de sapatos,
40 maços de 50,000 euros cada. O motorista do veículo, Daniel de Andrade
Moreira, de nacionalidade portuguesa, disse que se dirigia ao Mónaco para
entregar o dinheiro.
Sete horas mais tarde, nas portagens de Saint-Jean
de Védas (Hérault), a cerca de 80 quilómetros do local da primeira apreensão, a
polícia deteve os ocupantes de um segundo Mercedes, Anércio Martins de Sousa e
Gaudino Vaz Gomes, de nacionalidade angolana e cabo-verdiana respectivamente,
que transportavam 910 mil euros. O motorista explicou que o dinheiro se
destinava à compra de um imóvel em Nice e que ele receberia 10 porcento do
montante por fazer o transporte do dinheiro até ao seu proprietário, José
Francisco.
Os ocupantes do segundo Mercedes foram levados para
a esquadra de Montpellier, onde outros quatro indivíduos se apresentaram para
os libertar e recuperar o dinheiro. Os quatro foram também detidos. Um deles,
Carlos Filomeno de Jesus Lima da Silva, era portador de 60 mil euros e de um
cartão bancário em nome do general Bento dos Santos “Kangamba”.
Por sua vez, José Francisco, disse ser o
proprietário de apenas 100 mil euros, de entre o montante apreendido, que se
destinaria a gastos de jogo no casino Metrópole no Mónaco. José Francisco
reconheceu também, como seus, vários registos de movimentos bancários, no valor
de vários milhões de euros, também apreendidos, relativos a transações de
diamantes entre a Suíça, Angola e Israel.
O angolano Carlos Filomeno de Jesus Lima da Silva,
de 47 anos, natural de Malange, disse ao juiz Charles Duchaine, na audiência em
tribunal, que o dinheiro não teria origem criminosa: “Em Angola é normal
transportar dinheiro assim. Eu não sou criminoso”. Em 2004, o suspeito obteve a
nacionalidade portuguesa.
Durante a sua audição, José Francisco revelou o
suposto destino que seria dado ao dinheiro, argumentando também ser normal, em
Angola, a circulação com malas e caixas de dinheiro. “O Bento [Kangamba]
explicou-me que as apostas nos casinos do Mónaco são muitos elevadas e podemos
chegar a gastar oito mil euros em cinco minutos”, justificou.
Quem é Bento Kangamba?
A 7 de Maio de 2012 , um tribunal de Sintra,
Portugal, ordenou a penhora de bens detidos por Bento Kangamba, nesse país
europeu, para a execução de uma dívida de mais de um milhão de euros ao cidadão
português Manuel Lapas. Entre os bens penhorados constavam um apartamento de
Bento Kangamba na freguesia de Oeiras, duas viaturas de luxo Mercedes-Benz e
seis contas bancários no Millenium e Banco Espírito Santo, com um valor
irrisório e total de €15,035. No entanto, recentemente, o general adquiriu um
apartamento de Luxo (uma penthouse) para o seu sogro, na zona da Expo, em
Lisboa e adquiriu, há dias, uma vivenda de luxo no principado de Mónaco,
avaliada em vários milhões de euros.
Bento Kangamba é membro da família presidencial por
via do seu casamento com Avelina Escórcio dos Santos, filha de Avelino dos
Santos, o irmão mais velho de José Eduardo dos Santos.
Em Abril de 2012, o presidente José Eduardo dos
Santos, na qualidade de comandante-em-chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA),
promoveu Bento Kangamba ao grau militar de general de três estrelas.
A 27 de Outubro de 2000, o Tribunal Supremo Militar
havia condenado o então brigadeiro na reserva, a uma pena única de dois anos e
oito meses de prisão maior, por cúmulo jurídico, como autor de crime de conduta
indecorosa, burla por defraudação e dois crimes de falsificação de documentos.
O empresário foi ainda condenado a pagar uma indemnização no valor de US
$427,531 à empresa portuguesa Filapor – Comércio Internacional Lda, com sede em
Portugal, que foi vítima de burla.
A 19 de Junho de 2002, Bengo Kangamba foi de novo
condenado pela justiça angolana, quando o Tribunal Supremo condenou Bento
Kangamba a uma pena de quatro anos de prisão maior, por crime de burla por
defraudação, bem como ao pagamento de uma indemnização de US $75 mil às
empresas Nutritiva e Lokali.
Em Outubro passado, José Eduardo dos Santos nomeou
a sua sobrinha, Avelina dos Santos, para o cargo de directora-adjunta do
gabinete do Presidente da República.
Bento Kangamba passou a dispor de um gabinete na
Casa de Segurança do Presidente da República, a partir da qual tanto dirige os
seus negócios como intervém em assuntos de Estado. A 14 de Maio passado, ligou,
à meia-noite, para o ministro do Interior, Ângelo Tavares, tendo solicitado que
este enviasse logo pela manhã, ao seu gabinete, o director da Direcção Nacional
de Investigação Criminal, (DNIC), comissário-chefe Eugénio Pedro Alexandre.
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