sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Kamalata Numa: "Também sou daqueles que acho que o contributo (de I. Samakuva) na UNITA está a chegar ao fim”




Luanda - Abílio Kamalata Numa assume-se como um presidenciável da UNITA. Não apoia a continuidade de Isaías Samakuva, que está há mais de dez anos no poder, rejeita a permanência vitalícia nas presidências dos partidos políticos. Ele defende uma agenda política abrangente para se discutir os problemas de interesse nacional e entende que se apadrinha uma crioulização em Angola que não é saudável para o nosso processo político.
Fonte: Figuras&Negócios
O senhor considera-se um presidenciável no seio da UNITA?
Kamalata Numa (KN) - Acho que quando se chega a esta fase não podemos dizer que não. Como eu, há outros da minha idade política como também outros mais novos, que vêm a seguir a nós que se acharem que têm de dar uma outra postura e alavancarem a UNITA para se guindar a latitude do seu papel, acho que são presidenciáveis muitos.
Disseram que você tem  violado a regra da disciplina partidária que a UNITA tem para conseguir atingir os seus objectivos. É verdade?
Não. Se estiver um pouco atento à nossa política doméstica, sabe que todas as declarações que foram feitas à comunicação social  não partiram de mim; partiram de outras fontes. Eu distribuí dois documentos ao Partido e alguns companheiros que tiveram acesso a eles distribuíram à comunicação social. E outra vez foi só a confirmação, que foi feita pelo Comité Permanente com a deliberação tomada por este órgão em relação à petição que eu tinha feito ao Conselho Nacional  de Jurisdição. Eu sou dos militantes do Partido que acha que as coisas têm de ser discutidas dentro, mas também sou daqueles que acha que os partidos políticos não são organizações secretas; são instituições que se colocam ao serviço do povo, por isso o povo deve conhecer essas organizações e os seus debates. Salvo estratégias e programas de acção que cada um de nós tenta esconder  um do outro, tudo o resto os partidos têm de estar abertos à sociedade para ela  perceber quem são os seus líderes nesses partidos.
Acha que não há essa abertura no seio da UNITA?
Olhe, esse défice não é só da UNITA,mas o nosso partido precisa de fazer mais um bocadinho de esforço.Porque é  a Unita  que lidera a agenda da democratização de Angola.
Com certeza?
Acho que sim, porque antes disso não se falava na democratização de Angola. Esta agenda vem precisamente a partir dos anos 90, com a assinatura dos acordos de Bicesse e a UNITA já vem desde 1974/75. Inclusivamente, recorda-se que quando o MPLA estava a implantar, aqui, a República Popular de Angola, a Unita e a FNLA, no Huambo, estavam a falar em República Democrática de Angola.
Naquela altura não havia disciplina democrática nesses dois partidos.
É um aprendizado constante que a UNITA tem de aceitar este processo, os partidos políticos todos têm de aceitar que isto é um processo e à medida que formos dominando melhor os meandros da democracia no mundo, em África em particular, nos nossos partidos, vamos aprendendo mais. Eu acho que mesmo nós temos estado a importar, de forma muito linear os conceitos de democraticidade das sociedades. E aqui em Angola e em África nós temos especificidades que estão muito distantes de conceitos democráticos que se possam implantar nas Américas quer latina ou do norte,na Europa ou na Ásia. Nós aqui temos especificidades, como uma sociedade que está a fazer uma transição de um momento de sociedades feudais, de sociedades rurais para uma sociedade industrializada. E este processo tem de ser encarado de forma diferente. Nós ainda temos as tribos, os grupos rácicos, as religiões ainda a fazerem um papel importante na política do País, por isso mesmo temos de ter um aprendizado diferente dos outros.
Temos de convir que não existem democracias como produtos acabados
Absolutamente, e é por isso mesmo que o regime democrático ainda é o melhor porque dá-nos essa latitude de podermos explorar caminhos, lá onde errarmos, corrigirmos até que possamos dizer que aqui atingimos no mínimo os melhores níveis da sua aplicabilidade.
E para si esse processo de democratização do País não está a ser bem conduzido?
Não. Porque partimos de pressupostos errados. Partimos do princípio de colocarmos os interesses dos partidos acima do interesse nacional. Ao termos partido na base desse pressuposto, nós divergimos exactamente no foco em relação à democraticidade de Angola, que é a maior aspiração do povo angolano. Portanto, é aqui que nós temos de fazer uma correcção.
E que passos deveriam ser dados?
Primeiro, identificar o interesse nacional e subordinarmos os partidos a esse interesse, subordinarmos o MPLA, UNITA, PRS, todos os partidos ao interesse nacional. Se partirmos deste pressuposto e com as leis que temos-e eu acho que as leis que temos são das mais modernas,-e essas leis a serem cumpridas na sua totalidade, acho eu que estaríamos a dar um passo significativo na correcção deste defeito.
Está a querer dizer que defende uma agenda nacional de consenso?
Não sei se isso é a agenda nacional de consenso mas sou daqueles que acha que nós temos de ir para o princípio e discutirmos de forma inclusiva, não bipolarizarmos essa agenda mas que tenha no centro o povo. Eu tenho estado agora a navegar um bocadinho nos meandros da sociedade civil e, acho que Angola tem perdido muito das competências que este meio envolve. Por isso acho que é fundamental que, de uma forma inclusiva, abordemos esta agenda de forma a corrigirmos os defeitos passados e adoptarmos uma nova caminhada.
Não será isso, também, consequência do deficit da classe política que temos hoje?
Também. E esses defeitos depois prolongam-se e têm  consequências na nova classe política que se vem firmando. Alguns chamam abrilistas, outros chamam a nova vaga de jovens que herdaram dos mais velhos intermediários. De Jonas Malheiro Savimbi herdaram-se coisas boas, de Agostinho Neto também, de Holden Roberto também; foram mais velhos que tiveram aqui uma visão em relação aos nossos partidos, mas de lá para cá nós temos estado a sentir que há um certo desvirtuar dos caminhos que esses partidos tinham inicialmente. E é ver como no MPLA Eduardo dos Santos se perpetua no poder há mais de 30 anos, é ver como no PRS o Presidente Kuangana  agarra-se ao seu Partido e não quer saber de mais nada e também é ver como nós abordamos as questões internas do nosso partido. E quem o fizer de forma muito aberta talvez não seja muito bem visto. Mas temos de ter essa coragem para dizermos que a agenda da democracia é útil, que tem de ser abordada com frequência e transparência.
Propositadamente, não citou Isaías Samakuva que também já está no poder há um bom par de anos…
O Presidente Samakuva já está há dez anos como Presidente da UNITA, foi eleito em três momentos mas eu também sou daqueles que acho que o seu contributo na UNITA está a chegar ao fim e é necessário que comece a preparar o partido para uma transição normal. Os líderes que se eternizam no poder normalmente depois ficam na perspectiva que depois dele é o caos. Não gostaríamos que isto acontecesse na UNITA. Portanto, o Presidente Samakuva tem de começar a preparar o partido para esta transição que queremos seja sã, inclusiva e que permita a UNITA de facto poder demonstrar aos angolanos que é um Partido sério.
O senhor é capaz de liderar esta mudança?
Há muitos companheiros capazes no seio da UNITA.
Ok, mas eu pergunto a si, atendendo que nos últimos tempos tem sido visto como um "enfant terrible" da UNITA?
A diabolização é o caminho mais curto daqueles que não pensam e nós temos de ter consciência de que isto vai perseguir-nos durante algum tempo. É diabolizado qualquer indivíduo que pensar diferente neste País.
Eu não sei o que vocês têm estado a ler e da forma como dizes que eu sou visto como o "enfant terrible" no seio da UNITA, mas não é muito bem assim. Eu quero contribuir de forma positiva para que os angolanos dentro da UNITA sintam orgulho do seu papel, em militarem neste partido, sintam orgulho quando se falar da UNITA. E isso só basta que a UNITA se abra um pouco mais à sociedade. Isto é fundamental. Se isto é mal, é a caminhada que temos de fazer até um dia atingirmos esse nível de perspectiva.
As suas relações com o Presidente Isaías Samakuva são boas ou cínicas?
Eu sou conselheiro do Presidente.
Bom, às vezes são títulos que se encontram para se acomodar pessoas. Será este o caso?
(risos)… Eu sou conselheiro do Presidente e discordo com o Presidente nalgumas coisas e nisto não tenho receio de afirmar em relação aos aspectos em que eu discordo com ele, mas ele é o Presidente do Partido a quem eu devo obediência.
O senhor deixou o cargo  de Secretário Geral da UNITA por vontade própria ou foi obrigado a sair?
Saí porque pedi. Não era vontade do Presidente deixar que eu saísse. Saí porque achei que era necessário ampliarmos o leque de lideranças dentro da própria UNITA e porque achei que havia uma engrenagem qualquer que não estava a bater bem. Uma delas é a permanente vitimização do meu partido em relação às questões de fraudes eleitorais. Eu precisava de perceber bem o que é isso e temos estado a chegar à conclusão que a própria UNITA tem de deixar de fora esse vocabulário de fraude eleitoral e tem de impor-se. Porque se formos ficar na fraude eleitoral, o MPLA vai fazer sempre essa fraude para se eternizar no poder.
Não haverá na UNITA um complexo de inferioridade de um partido que ainda não se urbanizou?
Não. A maior parte dos seus líderes estudaram em boas escolas.
Eu refiro-me ao facto de terem estado durante muito tempo nas matas e…
Não senhor. Temos perspectiva urbana e conseguimos conciliar bem esses dois pólos, a sociedade urbana e a sociedade rural. Sociedade rural porque é ali onde vivemos durante muito tempo e a sociedade urbana conhece-mo-la, vivemos porque foi aqui onde nascemos e nos firmamos.
Acha que a sociedade entende bem os vossos discursos inflamados pela mudança?
Precisamos de melhorar, acho eu, nos instrumentos para a imposição da agenda.
E isso faz-se com discursos inflamados, como é particularmente o seu caso?
Não, não. Se eu for a chamar corrupto a uma pessoa que de facto pratica a corrupção a sociedade acha que eu deveria colocar aqui uma forma mais amena de dizer a mesma coisa, mas eu não quero ser falso comigo próprio. A sociedade que temos é que nos obriga a falarmos assim. Porque se o MPLA não se colocasse acima da lei, se não tivéssemos uma sociedade completamente endémica do ponto de vista de corrupção, talvez não tivéssemos esse tipo de discurso. Agora, estarmos a branquear esta situação, talvez estaríamos a cometer um mau serviço público.
Não se esqueça que você é parte integrante do poder, enquanto deputado eleito, por isso com responsabilidades quanto a situação do País.
Sim. E mesmo aí no parlamento há algumas interrogações que se possam fazer. Fazem-se algumas acções isoladas aqui e acolá mas de forma contundente, incisiva de fiscalização do governo, por exemplo, o parlamento não faz. Desde que Paulo Kassoma, enquanto Presidente do Parlamento, emitiu uma norma que limita os deputados de exercerem esta função, a Assembleia Nacional nunca mais o fez.
A UNITA é, hoje, um partido unido, não existem discrepâncias que possam minar a «saúde política» do Partido?
Não. Acho que alguns problemas que a UNITA tem não são de ordem de unidade interna dos seus membros. Talvez a maior dificuldade que existe é uma questão de auto-suficiência para a UNITA poder se afirmar.
Auto-suficiência financeira?
Falo de auto-suficiência no sentido de que os membros no exercício das suas funções se sintam à vontade. Recordo-me dos quatro elementos que desertaram há bem pouco tempo, que levantaram a questão de falta de subsídios e outras questões. Talvez sejam mais assuntos de ordem material, mas do ponto de vista político, acho que não, a UNITA está unida. Agora, esta unidade não pode ser uma unidade qualquer, tem de ser uma unidade firmada em princípios sérios, onde o debate interno seja aceite como tal.
O caso Muzemba, por exemplo, não mina essa unidade, atendendo que vocês julgaram um militante vosso na praça pública?
Eu estou aqui mesmo para dizer que este é um erro que nós teremos que reparar. Há presunção de inocência e o Nfuka, antes de se provar do que é acusado, ele é inocente. Portanto, aqui nós temos de dizer sem curvas que nós, como direcção erramos. Não deveríamos vir a público e explicitar como fizemos naquela deliberação. Há aqui um órgão, que é o Conselho Nacional de Jurisdição que vai averiguar os factos e depois apresentar os resultados.
Dizem que Nfuka Muzemba é seu seguidor.
Eu não acho que Nfuka seja meu seguidor. O que acontece é o seguinte: Há alguns fantasmas que perseguem a UNITA e fundamentalmente dois: o fantasma do tribalismo e do racismo. E eu fui daqueles que defendi que era preciso matarmos alguns desses fantasmas, fazermos sobressair indivíduos de outros grupos etno-linguísticos para a esfera alta da liderança do Partido e começar essa rotura em relação a  Jura, seria fundamental. Portanto, não foi o papel só do Numa mas sim papel da direcção que fez essa leitura.
Não houve aí uma espécie de "mise enscene" quando se sabe que a vossa base de militantes é maioritariamente do sul?
Muitos acham que Nfuka é um militante recente da UNITA. São quadros com uma certa história dentro do Partido. Agora, é verdade que também há conservadores, todas as organizações têm conservadores que limitam a progressão de uns porque acham que roubam espaços aos antigos. Mas as lideranças têm de estar atentas a isso para prevalecer o interesse do Partido.
Falou em racismo e tribalismo.Disseram-me que um dos factos que o levou a abandonar as FAA foi o complexo de ser mandado por um mestiço, o General João de Matos. É verdade?
Mentira. Falso, e isso digo de boca cheia. Sou muito amigo do João de Matos, ele sabe disso, e também não tenho nenhum complexo porque a minha trisavó era branca, eu tenho filhos com mulher mestiça. Aliás, na minha família isso é normal. Isso é a tal forma de diabolização que as pessoas utilizam para atingirem pessoas. Agora, eu tenho estado a levantar uma agenda da crioulização do regime de Angola em detrimento da maioria. Isso não tem nada a ver com tribos.
O que quer dizer com crioulização: que existe muita gente mestiça e branca a mandar?
Não, não é nada disso. Por exemplo, um dos complexos que o MPLA tem é este. Quando se tem de olhar para um dirigente que tem de dirigir o MPLA eles estão a olhar: mas esse indivíduo que vem de Malange pode ser, do Cunene pode ser? Mas se for um indivíduo que vem de S.Tomé e Príncipe já pode ser.
Na UNITA não existe esse problema? Vocês aceitariam, por exemplo, que o vosso Presidente fosse um bakongo?
Aceitamos, concerteza. E é aqui onde eu vou me bater com muito vigor. A UNITA tem de ser um Partido dinâmico, moderno, temos de fazer esse esforço, vigorar apenas o critério da competência. O militante mais competente e que pode, que seja ele a dirigir os outros.
Falemos então dessa crioulização que afecta o País.
Este é um processo muito vasto. Se recuarmos um pouco, vamos ver que a independência de Angola estava a ser vista na mesma dimensão da independência do Brasil. Deveriam ser os portugueses residentes no País, os autóctones portugueses residentes aqui a proclamarem a independência. Mas houve factores que inibiram isso e um deles foi que eles sempre foram uma minoria em relação aos autóctones deste espaço. Mas foram evoluindo até o passo de formarem os partidos comunistas de Angola, as FUAS e outros que depois emergiram no MPLA. E se você for a notar, a primeira divisão no seio do MPLA entre Agostinho Neto, Lúcio Lara e Viriato da Cruz, apesar desse ser mestiço, foi exactamente nesta base. O Viriato da Cruz defendia a posição de que nós devemos contribuir para a luta de libertação nacional de forma a estarmos aqui na retranca ajudando a maioria, os outros defendiam outra hipótese. Portanto,é aqui onde o MPLA precisa de se exorcizar para definitivamente se ultrapassar isso.
Eu vou-lhe ser franco: se o Ndalu for competente e o povo eleger o Ndalu, eu não tenho problemas nenhuns em aceitar que seja ele o Presidente de Angola.
Temos de convir que na África negra não tem sido muito comum esse seu exemplo.
Sim, não tem sido comum mas a África não pode ser isso. E nós temos aqui uma realidade: somos um país multi-étnico, multiracial, um país dos multis e temos de aceitar um dia que apareça um Rawlings ou uma outra figura que de facto seja aceite pela sociedade por aquilo que ela defende e seja eleita para Presidente do País. Mas é preciso que debatamos esse problema sem preconceitos nenhuns, e eu não tenho preconceitos em abordar este assunto. Agora, se me chamam racista por causa disto, é temporário, depois passa.
Como é que vocês gerem na UNITA essa questão do racismo e do tribalismo?
A UNITA não pode continuar a defender-se sobre problemas de racismo e tribalismo politicamente. A UNITA tem de se defender com actos. Nós, hoje, na UNITA temos umbundos, kicongos, kimbundus, temos quiocos, temos, a nível da Comissão Política, maiorias que não são umbundus, dos 250 membros da comissão politica. Agora, os membros que não são eleitos e são coptados pelo Presidente do Partido, é aqui onde tem de se jogar mais com equilíbrios para não serem maioritariamente todos a virem de um espaço geográfico em detrimento de outras.
A fazer fé nas declarações de Jorge Valentim,um antigo barão da UNITA, vocês têm muito dinheiro?
Há muita coisa que se diz sobre Jorge Valentim, mas eu quero desmistificar: nos anos 60, quando Jonas Savimbi e outros abandonam a UPA/FNLA e vão formar a UNITA, naquela altura o Jorge Valentim não estava neste grupo. Jorge Valentim fazia uma campanha num jornal chamado Avante contra a própria UNITA. Em 1974, em Outubro,-não consigo precisar a data,-a UNITA estava a realizar uma conferência e eu, que tinha entrado na UNITA em Agosto de 1974, assisti esta conferência que foi feita na mata a sul do Cangumbe. Durante esta a conferência, numa determinada altura, o Presidente Savimbi levantou a questão de Jorge Valentim que estava no Cangumbe e queria ser membro da UNITA. E eu recordo-me de, naquela altura, era muito jovem, o debate que se levantou e até recordo-me da posição do Tony da Costa Fernandes, hoje embaixador de Angola no Egipto: se o Valentim entrar numa porta eu saio por outra». Porque não o queriam, isto em 1974. Portanto, eu até entrei primeiro na UNITA do que o próprio Valentim. Ele  teve essa trajectória, de pessoa que já esteve contra a UNITA, continua outra vez contra a própria UNITA, tem o seu papel social e o que diz não é muito sério.
Mas a UNITA tem dinheiro ou não?
A UNITA tem um património muito grande mas é esse património que o nosso partido não conseguiu discutir com muita profundidade com o governo. Nós precisamos de dinamização dessa agenda de forma acutilante porque este património é nosso, merece-mo-lo e por isso mesmo tem de estar ao serviço do Partido. Mas temos esse património ainda fora da alçada do próprio partido.
Porquê que você é muito contundente quando fala do Presidente Eduardo dos Santos. Não reconhece a sua liderança?
Ele é mais velho mas fiquei muito decepcionado.Quando cheguei a Luanda em 2002, estava órfão, tinha perdido um pai, o Presidente Jonas Savimbi, e queria encontrar nas figuras políticas deste país alguém que fizesse este papel e estava a ver o Presidente da República exactamente com esses condimentos para poder fazer essa transição. Não só tínhamos terminado a guerra, não só pela primeira vez estávamos a encetar uma agenda de reconciliação, mas depois fui vendo com o tempo que não era bem verdade. O angolano é aquele que tivesse cartão do MPLA, os outros que se lixem, ainda muita gente continua a morrer com intolerância política, e isso me decepcionou muito. Por isso eu falo nestes termos que ele é humano e os angolanos têm que se preparar para esta transição, e tenho certeza que o próximo líder do MPLA não terá a mesma matiz de liderança do actual Presidente.
O senhor tem perfil para Presidente da República?
O que temos estado a fazer, todos nós, é prepararmo-nos para isso. Estou na política e se tiver oportunidade um dia poder candidatar-me, porque não? Não é crime nenhum.
Como posiciona Angola hoje na África e no mundo? Já é um País reconhecidamente aceitável pelo seu percurso pela consolidação da democracia e bem inserida no continente?
Angola tem uma especificidade de estar bem situada do ponto de vista geográfico. Tanto pode influenciar a África Austral como também ter influências na África Central. Tem posicionamento geográfico muito bom, devido a sua costa marítima vasta e uma ligação que pode fazer com outros continentes de forma facilitada. Agora, o nosso posicionamento político é ofuscado por esta não aceitação da democratização do País e as práticas endémicas de corrupção. Isto ofusca imenso o nosso posicionamento no mundo.
Temos condições materiais que nos podem levar a um posicionamento de liderança aqui no continente.Perdemos para a Nigéria e África do Sul em termos demográficos, mas tenho a certeza de que agora com a paz Angola demograficamente vai crescer imenso e a partir daí teremos uma coisa a dizer quanto a isso. Mas eu gostaria que o País resolvesse definitivamente os seus problemas domésticos. E os nossos problemas domésticos não são só políticos são também económicos; em vez de estarmos só baseificados na economia linear do petróleo, fazermos investimentos maiores noutras áreas, como a indústria, a agricultura e apostássemos seriamente no conhecimento com maiores investimentos no ensino.
É General, a farda fez de si um homem rico?
Não. Ainda passo momentos difíceis. Dependo do salário que recebo e sou patriarca da minha família. Sou daqueles que vive essencialmente daquilo que recebe. Não tenho empresas, não tenho excesso de carros.
Continua a ser sócio do Sporting de Portugal?
Continuo sim senhor e agora estou a vibrar com a nova direcção para recuperar a mística sportinguista

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