por Rafael Marques de Morais
http://makaangola.org
O Presidente José Eduardo dos Santos fez mais pela
oposição ao seu regime, na entrevista à SIC, do que a digressão europeia de
Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku, bem como o conjunto de iniciativas críticas
da sociedade civil dos últimos meses. Revelou o seu desinteresse pela realidade
do país.
O Presidente, ao chamar de frustrados os jovens que
se têm manifestado contra o seu poder, manifestou o seu medo pela juventude. O
Emiliano Catumbela, de 22 anos, está preso desde o dia 27 de Maio, por ter
exercido o seu direito de manifestação. Tem sido torturado e a Polícia Militar
do Presidente tentou arrancar-lhe uma unha com um alicate. É assim que o senhor
Presidente trata os jovens que frustra com as suas políticas.
Vi o Presidente por aquilo que ele é, cínico e
incapaz de manifestar qualquer empatia para com o sofrimento do povo que, há 34
anos, atormenta com o seu modo de governação.
Senti-me triste ao ver o Presidente a expor o seu
intelecto. É um universo de lugares comuns. É básico. Pouco ou nada sobra para
oferecer, a si próprio e aos seus colaboradores, uma saída airosa do poder.
Mais uma vez, organizou-se um carnaval
presidencial. A incoerência política vestiu-se de estratégia do grande líder.
Como sempre, a turba de militantes do MPLA ficou à espera da revelação dos
grandes pensamentos do seu incontestável guia. O carnaval passou à telenovela
da entrevista.
A entrevista-propaganda foi uma vergonha para a
nação angolana e uma zombaria para os portugueses.
Fica apenas a pergunta. Serão os angolanos tão
atrasados e divididos ao ponto de se renderem a um homem cujas acções são um
insulto à inteligência colectiva de todo um povo?
A culpa não é dele, compatriota. É minha e tua. É o
que tenho a dizer.
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