quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Vice-Presidente de Angola é Director na China-Sonangol


por Rafael Marques de Morais
Manuel Vicente, o vice-presidente da República, continua a acumular funções de Estado com cargos privados no exterior do país.
Maka Angola
Documentos em posse de Maka Angola revelam que Manuel Vicente renovou a sua manutenção no cargo de director da empresa China Sonangol International Holding, baseada em Hong-Kong, a 6 de Setembro de 2012.
Contas feitas, Manuel Vicente submeteu a sua confirmação, como director da empresa, seis dias após ter sido eleito vice-presidente da República. Nessa altura, Manuel Vicente exercia já um cargo governativo, como ministro de Estado para a Coordernação Económica, para o qual fora nomeado, por decreto presidencial, em Janeiro de 2012.
A China Sonangol Internacional Holding (CSIH), criada em 2004, é uma empresa detida em 70 porcento pela Dayuan International Development Limited, cabendo à empresa angolana de petróleos Sonangol, a participação minoritária de 30 porcento.
Por sua vez, a Dayuan tem como sócios nominais a New Bright International (NBI), que detém 70 porcento, e pelo cidadão chinês Wu Yang (30 porcento). Investigações internacionais têm ligado Wu Yang aos serviços de inteligência da China. O relatório O Grupo 88 Queensway notou que Wu Yang usou o endereço oficial dos serviços de espionagem externa da China na constituição de empresas associadas a Sonangol. A revista The Economist revelou, em 2011, que Wu Yang foi afastado da empresa e intentou uma acção judicial contra os outros sócios fundadores. A NBI é detida pelos cidadãos chineses Veronica Yuen Kwan Fung (70 porcento) e Lo Fong Hung (30 porcento).
Todavia, apesar das formalidades legais publicamente conhecidas não o indicarem, como tal, o verdadeiro arquitecto e patrão da China Sonangol é o antigo traficante de armas chinês Sam Pa.
O que é a China Sonangol e porquê Manuel Vicente insiste em manter-se como seu director? As respostas a essas duas perguntas conduzem o leitor para uma teia de interesses obscuros, que usam o nome da Sonangol como cartão de crédito, acesso e credibilidade a nível internacional. É por essa via que o Presidente José Eduardo dos Santos, Manuel Vicente e o general Kopelipa transformaram o processo de reconstrução nacional num negócio da China. Este triunvirato tem garantido o carregamento anual de nada menos que metade do petróleo angolano para esse país e tem disponibilizado a guarda presidencial para receber, no aeroporto de Luanda, os mais de 258 mil chineses, enviados para Angola para implementar os projectos de reconstrução.
[...]
Constituição de Papel
Sobre a acumulação de funções exercida por Manuel Vicente, a Procuradoria-Geral da República (PGR) estabeleceu um precedente, no seu despacho de arquivamento do Inquérito Preliminar n° 06-A/2012, em Janeiro passado. A PGR reconheceu, como crime, o exercício acumulado de cargos em órgãos de soberania com funções de direcção em empresas comerciais, no referido despacho.
A investigação resultou de uma denúncia do autor, em Janeiro de 2012, sobre o envolvimento de Manuel Vicente e os generais Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Leopoldino Fragoso do Nascimento numa série de negociatas com o Estado angolano e entidades estrangeiras, para enriquecimento pessoal.
O despacho, assinado pelo Procurador-Geral adjunto Domingos Salvador André Baxe, certificou que o general Kopelipa, ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República exerceu cumulativamente com o cargo de administrador da sociedade Portuguesa World Wide Capital, S.A. até à entrada em vigor da nova Constituição.
É com base no argumento da entrada em vigor da nova Constituição que o Ministério Público exonerou o general Kopelipa de quaisquer actos de improbidade resultante da acumulação de funções.
Como irá a Procuradoria-Geral da República justificar a ganância de Manuel Vicente, que renovou a acumulação de cargos, públicos e privados, dois anos após ter sido aprovada a nova Constituição e seis dias depois de ter sido eleito vice-presidente?
Será necessário apresentar nova denúncia junto do gabinete do Procurador-Geral, o general João Maria Moreira de Sousa?
O presidente José Eduardo dos Santos, que quer ser lembrado como bom patriota, fechará os olhos, mais uma vez, a este atentado contra a soberania nacional? Ou é cúmplice ou mandante?
Há muito mais perguntas para endereçar aos patriotas do MPLA, que se acham com o poder exclusivo sobre Angola e o destino dos angolanos e sancionam o saque do país.
O uso abusivo da marca Sonangol, pertença do povo angolano, pelos chineses e a pilhagem consequente dos recursos nacionais é um acto de patriotismo de Manuel Vicente?
Pode aceder ao texto integral aqui.

Sem comentários: