por Maka Angola
Soldados das Forças Armadas Angolanas (FAA)
encontram-se a patrulhar as ruas da vila de Cafunfo e a proceder a detenções
arbitrárias no seguimento de uma grande manifestação ocorrida no Sábado, 15 de
Junho.
Mais de 15 mil cidadãos saíram à rua ontem em
repúdio à onda de homicídios e mutilação de corpos de camponesas, na referida
localidade diamantífera, no município do Cuango, província da Lunda-Norte.
“Os militares das FAA estão a romper as casas das
populações à procura de jovens para prenderem”, disse ao Maka Angola
Paula Muacassenha, uma das organizadoras do protesto.
“Hoje (domingo) às 21h00, os militares prenderam
dois irmãos, o Júnior e Waicela Alberto, que se encontravam a ver televisão em
casa. Eles não participaram da manifestação, mas foram detidos sem causa. As
FAA estão a prender à toa e a criar uma situação de terror aqui em Cafunfo”,
disse a activista política.
Segundo depoimentos recolhidos junto da família dos
jovens, os pais foram obrigados a pagar 16,000 kwanzas (equivalente a US $160),
pela libertação dos jovens, após estes terem sido torturados de forma severa
pelos militares. Os militares transferiram depois as suas vítimas à custódia da
polícia, que continuou com os espancamentos antes de aceitar o pagamento.
Após a manifestação a Polícia Nacional deteve o
representante regional do Partido de Renovação Social (PRS), Domingos Marcos
Kamone, e outros 17 manifestantes, por voltas das 14h00 horas. O PRS apoiou o
protesto popular.
A concentração teve início às 7h00, no bairro do
Bala-Bala, ao que se seguiu uma procissão por várias artérias de Cafunfo,
animada por cânticos religiosos, entoados por mulheres que constituíam a vasta
maioria dos participantes. “As mulheres de Cafunfo apareceram em massa. As
mulheres estão furiosas, incluindo eu própria. No Sul, quando desaparece um
boi, até o governo se preocupa. Aqui matam as mulheres de forma macabra e a
polícia e o governo cruzam os braços”, lamentou Paula Muacassenha.
Em seguida, a população dirigiu-se ao Campo Onze,
onde deveria ser lida uma mensagem, endereçada às autoridades locais, de
repúdio à vaga de violência contra camponesas na região. No entanto, segundo
Manuel Muacabinza, um dos participantes na manifestação, efectivos da Polícia
Nacional interromperam o acto com um forte tiroteio.
“A manifestação foi ordeira e pacífica. Quem
arranjou confusão foi a própria polícia com os seus disparos. Na retirada,
alguns jovens furiosos começaram a apedrejar a polícia e incendiaram uma
motorizada de um agente regulador do trânsito”, revelou o manifestante.
Uma vez terminada a manifestação, o comandante
local da Polícia Nacional telefonou ao representante do PRS, Domingos Marcos
Kamone, para “discutir um assunto”, segundo o relato de Manuel Muacabinza ao Maka
Angola. Mas quando o líder partidário se dirigiu à esquadra, foi detido de
imediato e transferido para o comando municipal da Polícia Nacional na vila do
Cuango.
No dia anterior, a 14 de Junho, o administrador
municipal, Luís Figueiredo Muambongue, convocou uma reunião com os
organizadores da manifestação. Segundo Paula Muacassenha, que liderou o grupo
de mulheres, o administrador pediu aos sobas e aos comandantes militares e
policiais presentes, união no combate à onda de crimes que têm aterrorizado as
camponesas.
“O administrador não falou na manifestação. Tentou
ignorar o assunto apesar de o termos informado. Agora temos essa onda de
perseguição. É esta a unidade a que ele se referia?”, questionou Paula
Muacassenha.
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