Jovem se ajoelha diante de policiais
após morte de colega. /STRINGER/VENEZUELA (REUTERS)
Ainda não foram esclarecidas as
circunstâncias da morte do garoto de 14 anos
Morte ocorreu em meio a confrontos com
forças de segurança no Estado de Táchira
CATALINA LOBO-GUERRERO Caracas
A crescente tensão na Venezuela se
intensificou nesta terça-feira com a morte de um adolescente de 14 anos,
Kluiver Roa, supostamente por um disparo, durante violentos confrontos entre
manifestantes oposicionistas e as forças de segurança em San Cristóbal, no
Estado de Táchira. A cidade foi o epicentro dos protestos nos quais morreram 43
pessoas há um ano. As circunstâncias da morte são confusas, segundo o chefe policial
Ramón Cabezas, citado pela Reuters.
Cabezas afirmou que um policial disparou
para o chão em meio a um confronto entre jovens e a polícia nacional
bolivariana nas proximidades da residência do governador do Estado, José
Gregorio Vielma Mora. Roa caiu ferido por uma bala. Alguns órgãos da mídia
local informaram que o garoto não participava dos protestos, mas, ao mesmo
tempo, começaram a circular fotos nas redes sociais nas quais se via Roa
supostamente com um ferimento na cabeça. O incidente em Táchira ocorre poucas
semanas depois de o Governo venezuelano autorizar
o uso de armas pela polícia durante protestos.
Aumentou também a inquietação em relação
às medidas que o governo venezuelano poderá adotar contra a oposição, em meio à
crise econômica, política e social que o país atravessa, e meses antes das
eleições parlamentares. Enquanto os partidos de oposição se encontravam em
um ato
de apoio ao prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, que está
preso, foi dado o alarme de que havia uma invasão a uma das sedes do partido
social-cristão COPEI em Caracas. Antonio Ecarri, presidente do partido na
capital, lançou o alerta no Twitter. Ele disse que um “grupo armado” havia
entrado na sede social em Las Palmas, onde são dadas aulas para crianças e
consultas médicas para a comunidade. E denunciou que as pessoas que se
encontravam no lugar tinham sido feitas reféns.
Em seguida, o vice-presidente do partido
em Caracas, Mario Acosta, especificou que se tratava de um grupo de “invasores”
que havia chegado de madrugada, rompido o cadeado e forçado a grade para ocupar
a sede. Acosta afirmou se tratar de um grupo de homens e mulheres, alguns
armados com revólveres, que exigiam um lugar para moradia digna. Segundo
Ecarri, eram de 15 a 20 pessoas, partidárias do Governo, mas que portavam
cartazes para reivindicar à Administração de Maduro que lhes desse uma
habitação.
Por volta de meio dia a Guarda Nacional
Bolivariana e agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) entraram
no lugar, mas não desalojaram os ocupantes nem mostraram um mandado de operação
ou buscas. “Não trocaram palavras conosco, com nenhum dos dirigentes do partido
que estavam ali. É um evidente atropelo. O que primeiro acabou sendo um
sequestro, passou a invasão e logo se tornou uma ocupação ilegal”, disse
Ecarri. Os funcionários do Sebin levaram material de propaganda política de
outras eleições que se encontrava no local. Nesta terça-feira a sede ainda
continuava ocupada. O presidente do COPEI, Roberto Enríquez, disse também que
outras sedes do partido em diferentes cidades do país tinham sido ameaçadas,
mas não foi informado nenhum incidente.
Enquanto isso, um grupo de deputados
governistas foi ao Ministério Público pedir a abertura de uma investigação
formal de um deputado da oposição, Julio Borges, que Maduro acusou de estar
envolvido em um suposto plano golpista contra ele. Algumas horas depois, foi
convocada para esta terça-feira uma sessão da Assembleia na qual se irá debater
a suposta participação de Borges nesses planos. “Temos de dar as caras e
resistir”, disse Borges em uma rádio, antes do início da sessão parlamentar.
Segundo um artigo de Luis Vicente León,
presidente do instituto de pesquisas Datanálisis, a repressão e a intimidação
procuram provocar maior abstenção entre a população nas próximas eleições,
fator que sempre favoreceu o Governo, que conta com uma máquina eficaz, mas
também poderia se tornar contraproducente. “Levar à Justiça líderes
oposicionistas-chave poderia gerar uma dinâmica contrária à que o Governo
busca”, afirma. “Unificaria a oposição ao redor de uma estratégia eleitoral
para encaminhar-se às eleições legislativas que estão por vir.”
Um dos líderes
oposicionistas, Henrique Capriles, se referiu nesta terça-feira aos dados
do principal instituto de pesquisas do país para voltar à carga, pelo Twitter,
contra o presidente Maduro. Segundo o Datanálisis, 85,6% dos venezuelanos
considera a situação do país negativa; 79% acreditam que Maduro não está
preparado para enfrentar a crise econômica e 52,5% avaliam que o principal
responsável pelo desabastecimento é o presidente.
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