quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Adolescente é morto por um tiro em protesto da oposição na Venezuela

Jovem se ajoelha diante de policiais após morte de colega. /STRINGER/VENEZUELA (REUTERS)

Ainda não foram esclarecidas as circunstâncias da morte do garoto de 14 anos
Morte ocorreu em meio a confrontos com forças de segurança no Estado de Táchira


crescente tensão na Venezuela se intensificou nesta terça-feira com a morte de um adolescente de 14 anos, Kluiver Roa, supostamente por um disparo, durante violentos confrontos entre manifestantes oposicionistas e as forças de segurança em San Cristóbal, no Estado de Táchira. A cidade foi o epicentro dos protestos nos quais morreram 43 pessoas há um ano. As circunstâncias da morte são confusas, segundo o chefe policial Ramón Cabezas, citado pela Reuters.
Cabezas afirmou que um policial disparou para o chão em meio a um confronto entre jovens e a polícia nacional bolivariana nas proximidades da residência do governador do Estado, José Gregorio Vielma Mora. Roa caiu ferido por uma bala. Alguns órgãos da mídia local informaram que o garoto não participava dos protestos, mas, ao mesmo tempo, começaram a circular fotos nas redes sociais nas quais se via Roa supostamente com um ferimento na cabeça. O incidente em Táchira ocorre poucas semanas depois de o Governo venezuelano autorizar o uso de armas pela polícia durante protestos.
Aumentou também a inquietação em relação às medidas que o governo venezuelano poderá adotar contra a oposição, em meio à crise econômica, política e social que o país atravessa, e meses antes das eleições parlamentares. Enquanto os partidos de oposição se encontravam em um ato de apoio ao prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, que está preso, foi dado o alarme de que havia uma invasão a uma das sedes do partido social-cristão COPEI em Caracas. Antonio Ecarri, presidente do partido na capital, lançou o alerta no Twitter. Ele disse que um “grupo armado” havia entrado na sede social em Las Palmas, onde são dadas aulas para crianças e consultas médicas para a comunidade. E denunciou que as pessoas que se encontravam no lugar tinham sido feitas reféns.
Em seguida, o vice-presidente do partido em Caracas, Mario Acosta, especificou que se tratava de um grupo de “invasores” que havia chegado de madrugada, rompido o cadeado e forçado a grade para ocupar a sede. Acosta afirmou se tratar de um grupo de homens e mulheres, alguns armados com revólveres, que exigiam um lugar para moradia digna. Segundo Ecarri, eram de 15 a 20 pessoas, partidárias do Governo, mas que portavam cartazes para reivindicar à Administração de Maduro que lhes desse uma habitação.
Por volta de meio dia a Guarda Nacional Bolivariana e agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) entraram no lugar, mas não desalojaram os ocupantes nem mostraram um mandado de operação ou buscas. “Não trocaram palavras conosco, com nenhum dos dirigentes do partido que estavam ali. É um evidente atropelo. O que primeiro acabou sendo um sequestro, passou a invasão e logo se tornou uma ocupação ilegal”, disse Ecarri. Os funcionários do Sebin levaram material de propaganda política de outras eleições que se encontrava no local. Nesta terça-feira a sede ainda continuava ocupada. O presidente do COPEI, Roberto Enríquez, disse também que outras sedes do partido em diferentes cidades do país tinham sido ameaçadas, mas não foi informado nenhum incidente.
Enquanto isso, um grupo de deputados governistas foi ao Ministério Público pedir a abertura de uma investigação formal de um deputado da oposição, Julio Borges, que Maduro acusou de estar envolvido em um suposto plano golpista contra ele. Algumas horas depois, foi convocada para esta terça-feira uma sessão da Assembleia na qual se irá debater a suposta participação de Borges nesses planos. “Temos de dar as caras e resistir”, disse Borges em uma rádio, antes do início da sessão parlamentar.
Segundo um artigo de Luis Vicente León, presidente do instituto de pesquisas Datanálisis, a repressão e a intimidação procuram provocar maior abstenção entre a população nas próximas eleições, fator que sempre favoreceu o Governo, que conta com uma máquina eficaz, mas também poderia se tornar contraproducente. “Levar à Justiça líderes oposicionistas-chave poderia gerar uma dinâmica contrária à que o Governo busca”, afirma. “Unificaria a oposição ao redor de uma estratégia eleitoral para encaminhar-se às eleições legislativas que estão por vir.”
Um dos líderes oposicionistas, Henrique Capriles, se referiu nesta terça-feira aos dados do principal instituto de pesquisas do país para voltar à carga, pelo Twitter, contra o presidente Maduro. Segundo o Datanálisis, 85,6% dos venezuelanos considera a situação do país negativa; 79% acreditam que Maduro não está preparado para enfrentar a crise econômica e 52,5% avaliam que o principal responsável pelo desabastecimento é o presidente.



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