Medidas de austeridade propostas pelo governo angolano são um
"exagero político mal conduzido" que podem provocar instabilidade
económica e social.
As medidas de
austeridade propostas pelo governo angolano são um “exagero político mal
conduzido” que podem provocar instabilidade económica e social, disse nesta
quarta-feira à agência Lusa o economista e deputado da UNITA, maior partido da
oposição angolana, Fernando Heitor. “A situação vai agravar-se (…) Vamos ter
aqui um barril de pólvora”, disse Fernando Heitor, contactado telefonicamente
pela Lusa a partir de Lisboa, criticando as medidas de austeridade que podem
vir a ser agravadas pela retificação do Orçamento Geral do Estado que vai ser apresentado
na Assembleia Nacional ainda este mês.
Para o deputado
da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), “vai agravar-se
a situação das empresas e a situação social e vai haver maior desemprego. O
próprio governo já disse que não vai admitir as pessoas que contratou para o
setor da educação, das finanças e da saúde e vamos ter aqui um barril de
pólvora”.
“O Presidente da
República há vários anos que não convoca o Conselho da República e agora acaba
de convocar o órgão para o dia 10, para dar informações sobre a situação
económica e sobre as medidas de austeridade que o governo pensa tomar”,
acrescentou o economista e deputado da UNITA, partido que se opõe às medidas de
austeridade defendidas pelo Executivo.
“O governo tem
perfeitamente margem de manobra para ir buscar financiamentos, quer internos
quer externos, para cobrir o défice e não proclamar, desta forma, uma crise que
está a provocar algum pânico – quer no setor empresarial nacional e
internacional – e até mesmo nas famílias”, defendeu.
Fernando Heitor
sustentou ainda que “os bons gestores são aqueles que se afirmam em momentos de
dificuldades financeiras e uma dificuldade financeira circunstancial como esta
tem contornos necessariamente diferentes. É preciso que haja uma continuidade,
durante alguns anos, para que seja proclamada a crise. Não é o caso”.
O deputado da
UNITA critica também a forma “otimista” como o governo apresentou taxas de
crescimento da economia, acrescentando que a análise “não podia ser boa” e que
o Executivo devia ter ouvido a oposição ao longo dos últimos anos. Para o
economista, a situação está a ser “exagerada” pelo governo que, segundo afirma,
não está habituado a lidar “com este tipo de situações” e não se preparou
convenientemente, estando atualmente a tomar decisões que não são as mais
adequadas.
O deputado
acrescenta que “uma crise não surge de repente” e que Angola viveu pelo menos
oito anos com preços do petróleo favoráveis sendo que Luanda chegou a informar
sobre a criação de um fundo de petróleo e mais tarde de um fundo soberano e
que, por isso, a crise pode ser evitada ou, pelo menos, “bem gerida e
controlada”.
Além do mais,
argumentou, Angola é um país com uma reserva internacional liquida que – de
acordo com os dados oficiais – cobre importações a cinco e a seis meses, tem
uma dívida que está abaixo dos 40% do Produto Interno Bruto (PIB) e com
reservas de excedentes que se constituíram em fundos soberanos. “O Banco
Mundial já se ofereceu para conceder um crédito para cobrir o défice na ordem de
mil milhões de dólares”, sublinhou.
Com as novas
políticas impostas pela revisão do orçamento, disse o dirigente da UNITA,
Portugal é um dos principais países a sentir o efeito da austeridade em Angola.
“É evidente que as importações vão ser prejudicadas. Depois da China, Portugal
está com a maior quota de mercado em Angola no setor da construção mas o
investimento público vai ficar penalizado. Vai sofrer bastantes cortes e, por
isso, empresas de construção civil portuguesas vão ficar também penalizadas”, referiu.
Fernando Heitor
recordou que o seu partido alertou e toda a oposição votou contra o orçamento
em vigor porque, classificou, “é absurdo”. “Com a leitura que o governo fez
sobre a tendência de crescimento, apresentar uma taxa de crescimento de 9,7% quando
o preço do barril do petróleo estava a 81 dólares, é absurdo”, destacou o
deputado, defendendo maior transparência por parte do Executivo.
“Uma pessoa olha
para o Orçamento Geral do Estado e fica ainda mais confuso do que antes de
olhar para ele. Não há contabilidades. Não há rigor, não há auditorias e agora
a situação está aí e as pessoas não conseguem explicar para onde foi o dinheiro
que foi amealhado no tempo das vacas gordas”, afirmou, ao mesmo tempo que
alertou para a necessidade de uma eficaz diversificação da economia angolana.
“Nós
insistentemente temos vindo há décadas a falar disso, eu venho falando disso,
até a Igreja fala disso mas eles (Governo) não ouvem. É a tal coisa das
maiorias absolutas, as pessoas não ouvem, não dialogam, não tomam decisões
assentes numa concertação ampla e transversal”, concluiu.
LUSA
ANGOLA24HORAS
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