A Amnistia Internacional (AI) denunciou os despejos forçados, a
repressão aos direitos de liberdade de expressão e manifestação, os homicídios
e o desaparecimento de pessoas em Angola no relatório anual, hoje divulgado.
"Seria bom
que se avançasse um pouco mais no respeito pelas liberdades civis e também pelo
direitos económicos, sociais e culturais em Angola", disse à Lusa Vítor
Nogueira, presidente da direção da AI Portugal, lembrando ainda que é
necessário investigar com rigor e punir os culpados nos casos de mortes e
desaparecimentos que envolvem as forças de segurança angolanas.
Segundo Vítor
Nogueira, o relatório da AI descreve questões relacionadas com os
"despejos forçados, a repressão dos direitos de liberdade de expressão e
manifestação, o desaparecimento de pessoas, o uso excessivo da força pela
polícia e os homicídios realizados pelas forças de segurança".
De acordo com o
documento da organização de defesa dos direitos humanos, em 2014 as autoridades
realizaram despejos forçados numa escala superior em relação aos anos
anteriores.
"Pelo menos
4.000 famílias foram desalojadas pela força e as suas casas foram demolidas na
província de Luanda e setecentas destas famílias ficaram sem habitações
adequadas. Houve informações sobre outros desalojamentos forçados na província
de Cabinda", indicou o relatório.
De acordo com a
AI, "a polícia e as forças de segurança usaram a força ou a ameaça de
força, assim como detenções arbitrárias, para reprimir manifestações pacíficas
em Angola".
Em várias
ocasiões, a polícia deteve manifestantes para depois os espancar e abandonar a
centenas de quilómetros do lugar onde foram presos, segundo o relatório.
De acordo com o
documento, a polícia e as forças de segurança continuam a gozar de impunidade
por alguns casos de homicídios, tendo cometido estes crimes em várias
províncias, como Luanda, Malanje, Lunda Sul e Lunda Norte.
Como exemplo, a
organização refere que, em maio, agentes da polícia civil, vestidos à paisana e
identificados como elementos da 32.ª esquadra de polícia do distrito de Kilamba
Kiaxi, em Luanda, mataram a tiro Manuel Samuel Tiago, Damião Zua Neto (Dani) e
Gosmo Pascoal Muhongo Quicassa (Smith), no bairro 28 de Agosto.
Foi aberto um
inquérito, mas não houve mais informações sobre o caso até o fim do ano
passado, segundo a AI.
Vítor Nogueira
referiu que continuam a "decorrer processos por difamação" contra
várias pessoas, como o jornalista Rafael Marques, e as penas de prisão
"podem ser pesadas".
A 19 de agosto,
o jornalista Rafael Marques compareceu perante o Tribunal Provincial de Luanda
por acusações de difamação contra sete generais e a empresa Sociedade Mineira
de Cuango, no caso relacionado com o seu livro "Diamantes de Sangue:
Tortura e Corrupção em Angola", publicado em Portugal.
Até ao final de
2014 não se havia fixado uma data para o julgamento, segundo a AI.
A organização
lembrou ainda o caso do jovem Manuel Nito Alves, que foi julgado, a 14 de
agosto, por difamação contra o Presidente e foi absolvido por faltas de provas.
As acusações apresentadas relacionam-se com camisolas com inscrições
consideradas ofensivas ao Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Em 2014, a
polícia espancou e prendeu jornalistas que informavam sobre as violações dos
direitos humanos e pelo menos dois foram presos por divulgar as atividades da
polícia.
A organização
lembrou ainda que, a 18 de novembro foi retomado no Tribunal Provincial de
Luanda o julgamento de oito agentes do Estado pelo sequestro, em maio de 2012,
e posterior assassínio de Silva Alves Kamulingue e Isaías Sebastião Cassule,
caso que levou à organização de várias manifestações na capital angolana,
também reprimidas pela polícia.
Em outubro, na
Revisão Periódica Universal (RPU) do Conselho dos Direitos Humanos das Nações
Unidas, das 226 recomendações que foram sugeridas a Angola, o Governo aceitou
192 e decidiu submeter as 34 restantes a posterior consideração,
"inclusive as relacionadas com a liberdade de expressão, reunião e
associação", referiu o relatório.
LUSA
ANGOLA24HORAS
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