quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sonangol: "Guião" para a crise força congelamento salarial





Os instrumentos de gestão aprovados para o triénio 2015-2017 tornaram-se irrealistas, por força da queda do preço do petróleo, o que obrigou a petrolífera estatal a promover a sua revisão em linha com a nova conjuntura e com a capacidade efectiva da empresa.

Francisco de Andrade
http://expansao.co.ao/Artigo/Geral/52868

O congelamento de aumentos salariais durante um ano, o cancelamento de acções de formação fora do País e os cortes entre 30% e 50% nos contratos de consultoria económico-financeira, de vigilância e segurança, limpeza, higiene e conforto, são medidas que integram um 'Guião para a Redução e Contenção de Custos' na Sonangol, a que o Expansão teve acesso e que surge em função da queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional.
O 'Guião para Redução e Contenção de Custos no Triénio 2015- -2017', de obediência corporativa obrigatória, estabelece um conjunto de medidas para a redução de custos na Sonangol EP e suas subsidiárias.
No documento, a petrolífera refere que a acentuada redução no preço do petróleo (Brent) em 24 USD, no período que vai de 19 de Dezembro (data de aprovação dos instrumentos de gestão previsionais de 2015) até ao momento, desvirtua todas as previsões de arrecadação de receitas e consequentemente os custos e despesas projectadas, tendo como referência o nível previsional inicial de arrecadação.
"Os instrumentos de gestão aprovados para o triénio 2015- -2017 tornaram-se irrealistas, pelo que urge promover a sua revisão em linha com a nova conjuntura e capacidade efectiva da Sonangol. Face à conjuntura de crise vigente no mercado petrolífero e à perspectiva da sua continuidade nos próximos anos, a revisão dos instrumentos de gestão para o triénio deverá ser realizada na base da austeridade", lê-se no documento.
Assim, as unidades orgânicas da multinacional angolana foram instadas a empreender substanciais reduções nos seus respectivos custos de estrutura, operacionais e até mesmo nas despesas de investimento. Dentre as medidas de austeridade, o conselho de administração da maior empresa pública do País deliberou, também, o congelamento de aumentos salariais no grupo durante o ano em curso, o cancelamento de toda a formação de curta duração, seminários, workshops e brainstormings no exterior.
Está igualmente cancelada a formação em língua inglesa a ser realizada fora de Angola. Conforme indica o guião, a formação de longa duração, fora do programa de bolsas de estudo, deverá ser aprovada discricionariamente pelo conselho de administração da Sonangol EP, os on job training a serem realizados deverão ser suportados integralmente pelas companhias de acolhimento.
O documento ordena o cancelamento dos prémios e bonificações a serem atribuídos por participação em acções de formação e restringe a participação de quadros da instituição em workshops, fóruns e outras formações de curta duração, com custos para a companhia. Entretanto, não serão impostas restrições às formações mandatórias de suporte ao licenciamento profissional.
Contratos serão negociados com descontos de até 50%
As medidas específicas para a redução de custos na Sonangol passarão ainda, dentre outras, pela revisão de toda a contratação plurianual em execução na Sonangol EP e subsidiárias, prevendo-se a negociação de descontos em intervalos de 50% a 45% nos contratos de consultoria económico-financeira a serem continuados.
O mesmo sucederá com os contratos de consultoria nas áreas jurídico- legal, de recursos humanos e tecnologias de informação, O documento não avança o valor actual dos acordos, mas adianta que o contrato de 'vigilância e segurança', a par do de 'limpeza, higiene e conforto', igualmente em curso, deverão ser negociados por forma a reduzir o seu valor num intervalo de 40% a 30%.
A Sociedade Nacional de Combustíveis decidiu-se ainda pela atribuição e entrega, em tranche única, de um plafond anual equivalente a 5.000 USD, aos membros das comissões executivas das subsidiárias e directores da empresa, para despesas de representação, não referindo, no entanto, a tranche que era atribuída antes da crise. Não serão contabilizadas e liquidadas, pela Sonangol EP e subsidiárias, despesas de representação, ligadas a restauração, recriação, entertainment e outras da mesma natureza. A realização de todas as reuniões de gestão das concessões, OCM, RTM, e outras de índole técnica da mesma natureza, deverá ter lugar em Angola.
No que tem que ver com questões operacionais, recomendou-se, também, a redução dos custos de produção por barril, nos blocos operados (Bloco 3/05 e 4) para 20 USD. Outra das decisões é a fixação da taxa de remuneração dos despachantes oficiais, para importação de produtos refinados, em 0,03%, e demais actividades, em 0,3%. O guião de redução e contenção de custos sugere ainda a redução do valor dos actuais fretes pela prestação dos serviços de transporte, a Sonangol Logística, Sonangol Gás Natural e Sonangol Distribuidora.
Especialista reage às medidas
Reagindo à estratégia da multinacional angolana, José Oliveira, especialista em energia, defende que a Sonangol pode reduzir custos de consultoria sem diminuir a sua qualidade, caso o faça como todas as grandes empresas de petróleo no mundo e mantenha, como consultores, os seus bons quadros que têm vindo a reformar-se.
Em relação à redução dos custos de produção por barril, nos blocos operados (Bloco 3/05 e 4) para 20 USD, acha possível, na medida em que, como disse, "os atuais custos não estão muito acima disso". Porém, José Oliveira não vê bem a ideia de se baixar os custos no Bloco 4/05 por a produção ser 'muito' pequena, resumindo- se a "apenas meia dúzia de milhares de barris/dia", uma vez que o campo está em fase final de produção das suas reservas.
Comentando a atribuição e entrega em tranche única de um plafond anual equivalente a 5.000 USD aos membros das comissões executivas das subsidiárias e directores, para despesas de representação, o especialista considerou este tipo de generalizações 'negativo' em qualquer grande empresa, quer seja do País, quer de outra parte do mundo.
"Os administradores e directores de área da Sonangol que viajam e tratam de negócios no estrangeiro, fruto dos seus pelouros, precisam, com certeza, de valores maiores para não passarem por situações caricatas junto dos seus homólogos", sublinhou.
Advogou que, antes de tomar tal medida, o conselho de administração da Sonangol devia fazer uma investigação interna nas empresas do grupo para se inteirar se as compras ao mercado, de bens e consumíveis para o seu funcionamento do dia-a-dia, são bem feitas e aos melhores preços.

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