O atual Governo só pensa em dinheiro e não tem nenhuma ideia da
importância da Lusofonia
Angola é, de
entre as ex-colónias portuguesas, um dos mais desenvolvidos e ricos, onde têm
estado a trabalhar e a ganhar dinheiro muitos portugueses. Sendo certo que
muitos angolanos ricos têm vindo também instalar-se em Portugal, país irmão,
onde adquiriram empresas, de comunicação social, telecomunicações e cimentos,
entre outras. Angola é um Estado rico em petróleo, diamantes, excelentes terras
de cultura, com uma costa enorme e também grandes rios como o Cuanza. Foi por
isso considerado, durante muitos anos, como um país com muitas potencialidades,
que atraiu cerca de 200 mil portugueses, que aí foram bem recebidos e bem
tratados.
De repente os
Estados Unidos puseram de parte os mercados usurários, que furavam a terra a
grande profundidade para obter mais petróleo e gás. Foi algo que prejudicou o
oceano Atlântico, com as consequências daí resultantes. Nesse sentido, Barack
Obama achou por bem fazer baixar o preço do petróleo em todo o mundo,
dificultando a situação financeira de Angola. O que teve consequências
negativas para o país, que os portugueses que aí se encontram também estão a
sofrer.
O primeiro
Presidente de Angola, Agostinho Neto, com quem Portugal acordou no Algarve a
independência e que se tornou meu amigo, morreu mais tarde na Rússia, em
condições nunca esclarecidas, para onde foi a convite dos soviéticos. O
Presidente José Eduardo dos Santos recebeu-me no seu país no final do meu
segundo mandato como Presidente da República, na sequência de diligências do
então primeiro-ministro, António Guterres. Foi comigo extremamente simpático e
aprofundámos as relações dos nossos dois Estados. Mas não voltámos a
encontrar-nos.
Já com o atual
Governo português em funções, José Eduardo dos Santos veio a Portugal e não
falou, quer com o Presidente Cavaco Silva quer com o primeiro-ministro Passos
Coelho. Deu uma ampla e notável entrevista a uma televisão, em que só falou - e
muito bem - do Povo Português. Foi uma entrevista longa que me impressionou
imenso. Não mais o ouvi, embora tenha conhecimento de que vai todos os anos à
Catalunha, ao que suponho por razões médicas.
Entretanto, como
já referi, Barack Obama fez descer em toda a parte o preço do petróleo. Angola
não escapou, o que a colocou numa situação bastante difícil. É nesse ponto que
estamos, com os portugueses que ali vivem há tantos anos numa situação nada
fácil.
Angola e
Portugal são dois Estados lusófonos e grandes amigos. É tempo de Portugal
ajudar Angola que já tanto nos apoiou. O atual Governo português não tem esse
critério, como se viu quando o ministro dos Negócios Estrangeiros foi a Angola
e não teve um gesto de solidariedade, sendo caricato o desejo de impor a Angola
a austeridade. É o momento de auxiliar Angola quanto pudermos, porque os nossos
compatriotas emigrados devem muito a Angola. Não o podemos esquecer.
A empresária
Isabel dos Santos, filha do Presidente angolano, tem tido uma ação enorme em
Portugal e, como se tem dito, ganha bastante dinheiro. Recentemente quis
comprar a PT em momento de crise. Era excelente que assim tivesse acontecido,
porque se trata de uma lusófona e além disso tinha um projeto articulado para
as telecomunicações dos países da Lusofonia. Pois o Governo português fez o
contrário, deixando que a venda da PT fosse feita, ao que parece, a uma empresa
francesa. Isto é, o atual Governo só pensa em dinheiro e não tem nenhuma ideia
da importância da Lusofonia.
Ao contrário da
visão do atual e excelente Papa Francisco que, consciente da importância da
Lusofonia no Mundo, acaba de nomear três novos cardeais lusófonos, entre eles o
primeiro cardeal de Cabo Verde e mais um de Moçambique. Note-se que, na sua
viagem para o Brasil, o Padre António Vieira pregou, na cidade da Praia, em
Cabo Verde, tendo palavras muito elogiosas para o prelado lusófono dessas
ilhas.
Sempre pensei
que três grandes Estados lusófonos deviam considerar o oceano Atlântico como um
espaço essencialmente lusófono: o Brasil, Angola e Portugal. Sem esquecer o
papel que nele poderiam também desempenhar Moçambique, Cabo Verde, Guiné e São
Tomé e Príncipe.
Por Mário Soares
VISAO
ANGOLA24HORAS
Imagem: digitalblue.blogs.sapo.pt
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