A redução das receitas provenientes da
exportação do petróleo gerou uma extraordinária pressão sobre a nossa economia,
obrigando mesmo a uma revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE), pouco mais de
dois meses após ter sido aprovado na Assembleia Nacional, com o voto unânime da
bancada do MPLA. Tratou-se, de facto, de uma aprovação precipitada pois, na
altura, já era perfeitamente perceptível a trajectória descendente do preço do
petróleo no mercado internacional, embora ainda não se pudesse acertar onde o
mesmo estabilizaria.
JUSTINO PINTO DE ANDRADE
http://jpintodeandrade.blogspot.com/
2. A responsabilidade pela quebra
das receitas petrolíferas de modo algum pode ser atribuída a um qualquer
dirigente político ou económico angolano. Assim como qualquer outra oscilação
no preço, jamais seria assacada ao volume das nossas exportações, grande para a
nossa economia interna, mas mediano se comparado com o dos grandes produtores e
exportadores mundiais.
3. A presente variação no preço do
petróleo deve-se, sim, à conjuntura do mercado, onde se assinala o aumento dos
níveis de produção interna dos EUA – que fez reduzir acentuadamente a sua
dependência das importações –, conjugado com a redução da procura por parte da
China - hoje o maior importador desse produto estratégico -, também à
desaceleração de outras economias emergentes, assim como ao fraco desempenho
económico das principais economias europeias. Tudo isso motivou o presente
abalo económico em Angola e em outras economias fortemente dependentes das suas
receitas.
4. Coincidentemente, a redução das
nossas receitas de exportação do petróleo foi seguida de um abanão na estrutura
da equipa económica que governa Angola, sendo substituída a totalidade do
governo do Banco Central, o BNA. Pode-se daí deduzir que a gestão das nossas
divisas não teria, eventualmente, sido do agrado do Chefe do Executivo, uma a
ideia que faz todo sentido, dado que nos Ministérios das Finanças, do
Planeamento e outros correlacionados se mantêm os anteriores titulares.
5. Creio que com a intenção de
acalmar os mercados, o novo governador do BNA fez declarações optimistas, dando
a entender que o abalo nas receitas de exportação não estaria a ter
repercussões significativas na economia, que as restrições que se sentiam no
mercado cambial e financeiro seriam da inteira responsabilidade dos seus
gestores.
6. Mas o Governador do BNA foi, de
imediato, contrariado quer pela dura realidade, quer por declarações públicas
de responsáveis do sector bancário, a começar pelo PCA do principal banco do
Estado, o BPC, que se enrolou perante a comunicação social, deixando
transparecer que, de facto, havia constrangimentos nas transferências e em
outras movimentações financeiras envolvendo cambiais. E o imbróglio aumentou,
quando outros responsáveis, com destaque para a actual Ministra do Comércio, se
começaram a pronunciar, anunciando cortes nas importações e outras medidas
restritivas.
7. Tomando nota do mau momento
vivido pelo país, o mercado paralelo de divisas reanimou, e a taxa de câmbio do
dólar face ao kwanza quase que dobrou. O BNA teve que reagir, injectando mais
divisas no mercado, para contrariar tal tendência de subida que levaria,
inexoravelmente, a um disparo da taxa de inflação.
8. São já indesmentíveis os
estragos produzidos pela quebra do preço do petróleo no mercado internacional.
Alguns deles repercutem-se sobre os nossos parceiros, sendo Portugal, sem
sombra de dúvidas, um dos mais atingidos, pois algumas das suas cerca de 10.000
empresas relacionadas com o nosso país, estão já a recorrer à ajuda da banca
com capitais angolanos instalada em Portugal, para resolverem problemas de
tesouraria. Fazem-no sob a forma de pedidos de adiantamentos, a serem
ressarcidos posteriormente, quando as transferências bancárias de divisas
fluírem com maior regularidade.
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