Uma grande seca assola o mercado cambial
angolano. As famílias vêem-se e desejam- -se para obter notas verdes, ainda que
cumpram todos requisitos exigidos para o efeito, por exemplo, bilhete de
passagem e passaporte, no caso de viagem. Quem tem dólares no banco só lhe é
permitido levantar a conta-gotas.
http://expansao.co.ao/Artigo/Geral/52927
Quem ganha com a escassez de dólares são
as kinguilas. A nota verde disparou no mercado informal. A taxa de câmbio nas
kinguilas já terá testado 180 Kz por USD.
Se o acesso à moeda física é o cabo dos
trabalhos, fazer remessas ou transferências de divisas é um autêntico calvário.
Má sorte para os angolanos que têm filhos a estudar no estrangeiro e para os
expatriados com dependentes nos países de origem.
A utilização de cartões de débito,
pré-pagos e de crédito também está a ser cada vez mais racionada.
As empresas não têm melhor sorte que os
particulares. Nos bancos, amontoam-se as ordens de pagamento de firmas angolanas
para fornecedores estrangeiros.
Face à escassez de divisas, os agentes
económicos apontam baterias para os dois principais actores do mercado cambial,
isto é, o BNA e os bancos comerciais.
O BNA coloca as divisas no mercado
através de leilões semanais reservados aos bancos comerciais - mercado primário
- que por sua vez colocam junto dos seus clientes - mercado secundário.
Quando pedem explicações sobre escassez
de divisas os agentes económicos enfrentam o 'jogo do empurra'.
Os bancos dizem que a culpa é do BNA, e
o BNA diz que a culpa é dos bancos, provocando a confusão no mercado cambial.
"Algumas instituições financeiras
que operam no mercado bancário nacional têm procedido de forma inadequada e
prejudicial aos interesses dos clientes, pelo facto de não darem seguimento às
operações por si ordenadas e privando-os da utilização e movimentação dos
recursos depositados, negligenciando a existência de um vínculo contratual
estabelecido entre as partes", acusa o BNA, ao mesmo tempo que desafia os
agentes económicos a apresentarem queixa - sem queixa, o BNA não pode actuar.
O BNA tem razão em acusar os bancos. As
divisas depositadas nos bancos pertencem aos clientes que estão no direito de,
a qualquer momento, reclamarem os valores depositados. Cabe aos bancos adoptar
políticas de gestão de liquidez adequadas para responderem às solicitações dos
clientes, nomeadamente constituindo reservas para acudir aos levantamentos. Só
quando estão envolvidos montantes elevados é que se compreende que os bancos
exijam um pré-aviso.
Se o BNA tem razão em acusar os bancos
de conduta ilegal por restringirem os levantamentos de depósitos em moeda
estrangeira, os bancos não têm menos razão quando se queixam de que o BNA
reduziu a oferta de dólares no mercado primário e que por isso têm dificuldade
em atender os clientes que querem comprar divisas.
O principal fornecedor de divisas aos
bancos é o BNA - os bancos podem comprar divisas aos seus clientes, mas estas
transacções são residuais.
Para ajudar ainda mais à confusão que
grassa no mercado cambial, o governador do BNA veio dizer que não só não houve
redução de venda de divisas aos bancos, como até houve um aumento de 34% de
2013 para 2014.
Porém, de acordo com os dados do BNA em
2013 as vendas atingiram 19.281,8 milhões USD, baixando 0,6%, para 19.174,5
milhões USD, em 2014. Em média mensal estamos a falar de 1.607 milhões USD em
2013 e 1.598 milhões USD em 2014.
Na folha de cálculo publicada pelo BNA
(http://www.bna.ao/uploads/{719f3b2a- -4ac9-4912-906a-a05d145c38d3}.xlsx), consta
que, em 2014, a média mensal de venda de divisas foi de 2.130,5 milhões USD, o
que daria um aumento de 32,6% face a 2013. O problema é que a média das vendas
mensais de divisas em 2014 que consta da folha de cálculo do BNA - os referidos
2.130,5 milhões USD - está errada, porque resulta da divisão das vendas totais
de 2014 por 9 e não por 12, como deveria ser, pois o ano tem 12 meses e não 9.
Ou seja, o governador foi mal brifado
pelos seus assessores. O BNA está efectivamente a colocar menos divisas no mercado,
como aliás era previsível, face à queda do preço do petróleo. O ano que agora
começa constitui um sinal do que pode vir por aí: em Janeiro de 2015, o BNA
vendeu aos bancos comerciais divisas no valor de 1.123 milhões de dólares
norte-americanos, um trambolhão de 30% face à média mensal de 1.598 milhões em
2014.
A confusão que grassa no mercado de
divisas é culpa da escassez de dólares, resultante da queda do preço do
petróleo, mas a comunicação do BNA também não está a ajudar nada, ainda por
cima baseada em contas gatadas.
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