Agentes da Policia Nacional dispersaram à
bastonada os manifestantes que participavam na vigília convocada para esta
tarde, em Luanda, pelo Movimento Revolucionário. Um dos manifestantes, Raúl
Lindo “Mandela”, de 27 anos, foi brutalmente espancado e terá sido depois
abandonado, inanimado, nas imediações da Shoprite.
“Foi o Lucas Pedro quem deu conta do Mandela,
desmaiado, porque havia um grupo de pessoas que o cercava”, explicou Domingos
Cipriano “Aristocrata”, um dos manifestantes que teve a missão de prestar
assistência aos mais afectados pela violência policial.
“Quando o Mandela recuperou os sentidos, já
no nosso carro, ele explicou-nos que, na Sexta Esquadra da Polícia, junto à
Cidadela, os agentes despiram-no e o torturaram com uma barra de ferro, depois
vestiram-no outra vez e foram deixá-lo junto à Shoprite, desmaiado”, disse o
Aristocrata.
Segundo o Aristocrata, o Mandela deu entrada
na Clínica do Prenda à meia-noite sem mobilidade nos membros superiores e
inferiores.
Por sua vez, Domingos Cipriano “Pisca”
informou o Maka Angola que, durante três horas, transportou o
Mandela a quatro clínicas diferentes, no Grafanil, Viana, Golf e Luanda-Sul sem
sucesso. “Recusaram-se a tratá-lo”, disse.
Pisca transmitiu também o testemunho de
Mandela, segundo a qual este reconhece muito bem o agente policial que o
torturou com a barra de ferro na Sexta Esquadra.
O também manifestante reiterou, no entanto, a
resistência dos agentes policiais enviados ao largo em espancarem os
manifestantes. “Os polícias normais estavam a negar a tortura. Os próprios
comandantes é que nos estavam a bater com cassetetes”, referiu o Pisca.
A vigília, inicialmente, juntou cerca de 30
manifestantes no Largo da Independência. Ao cair da tarde, agentes da Polícia
Nacional e membros da Polícia de Intervenção Rápida cercaram o local, com o
auxílio da brigada montada e canina, e atacaram os manifestantes, forçando-os a
abandonar o local. A Polícia Militar e agentes dos Serviços de Informação e
Segurança de Estado, SINSE, também enviaram consideráveis forças ao local.
A polícia deteve cerca de 10 manifestantes no
local, e libertou-os mais tarde. Os agentes levaram três dos detidos para um
giro, numa viatura policial, por algumas zonas do bairro do Cazenga, tendo sido
depois libertados no centro da cidade. Nito Alves e Alexandre Dias dos Santos
“Libertador”, veteranos em manifestações, foram libertados depois de terem sido
levados para a Terceira Esquadra. Horas mais tarde a polícia libertou também
Emiliano Catumbela, outro detido que passou pelo “giro do Cazenga”.
Adolfo Campos, Nicola, Queirós Thiluvia e
Albano Bingo também sofreram breves detenções.
Maka Angola anotou também relatos de que outros manifestantes
terão sido espancados por membros das forças policiais.
Segundo declarações de Adolfo Campos à rádio
online AngoDiáspora, os manifestantes concentraram-se depois no Primeiro de
Maio onde foram novamente cercados por um forte dispositivo militar.
A vigília pacifica de hoje foi convocada para
assinalar o desaparecimento de Alves Kamulingue e Isaías Cassule e as milhares
de vítimas dos massacres de 27 de Maio de 1977.
Actualização: A Polícia
Nacional emitiu um comunicado de imprensa em que justificou a violência, da sua
parte, indicando que “os visados jovens arremessaram pedras e outros objectos
contra os efectivos da polícia, tendo sido necessário, recolhê-los em viaturas
para dispersá-los em outros locais”.
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