por Maka Angola - 02 de Junho, 2013
Victória Jamba Sequesseque está triste, mas tem
orgulho no seu filho. Emiliano Catumbela, de 22 anos, está detido desde o dia
27 de Maio por ter participado numa tentativa da vigília, no Largo da
Independência, abortada à bastonada pela Polícia Nacional.
A vigília, convocada pelo Movimento Revolucionário
Juvenil, visava assinalar, de forma pacífica, o primeiro aniversário do
desaparecimento dos activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule, raptados em
Luanda.
Actualmente encarcerado na Comarca de Viana, o
jovem revelou hoje, à mãe e ao deputado Leonel Gomes que o visitaram, como o
torturaram. “Foi a própria comandante provincial da Polícia Nacional, Comissária
Elizabeth “Bety” Rank Frank, quem pessoalmente ordenava, no local, aos agentes
para espancarem os jovens e atingi-los na cabeça, como nos confirmou o
Emiliano”, transmitiu o deputado da CASA-CE.
Por sua vez, Victória Sequesseque reproduziu o depoimento
do filho segundo o qual “os indivíduos da Polícia Militar, no local, tentaram
arrancar-lhe a unha de um dedo da mão direita, com um alicate, ainda no local.
Nota-se ainda o ferimento no dedo”.
Em cinco dias de detenção Emiliano Catumbela sofreu
também actos de tortura nas 1ª e 2ª Esquadras policiais e experimentou também
as celas da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC), bem como da
19ª Esquadra do Cantinton, no Rocha Pinto, município da Maianga.
“Eu vi um olho do Emiliano ainda com uma coroa de
sangue, por causa da tortura, e as escoriações da pancadaria que levou nas
costelas e lhe causam dores até agora. Só lhe deram uma injecção. Nem sequer
lhe prestaram assistência médica”, lamenta a mãe.
O advogado e presidente da Associação Mãos Livres,
Salvador Freire, manifesta o seu desagrado por a Polícia Nacional ainda não lhe
ter permitido contactar com o seu cliente Emiliano Catumbela.
“A DPIC instaurou, inicialmente, um processo crime
contra o jovem, por tentativa de ofensas corporais e remeteu-o à
Procuradoria-Geral da República. Esta devolveu o Processo n° 516/013-02 e nova
queixa foi formulada contra o arguido”, explicou Salvador Freire.
De acordo com o advogado, o comandante de divisão
da Polícia Nacional na Maianga, superintendente-chefe Eduardo Diogo foi quem
apresentou as duas queixas. “Primeiro, o comandante queixou-se contra o
Emiliano acusando-o de o ter tentado agredir. Depois formulou nova queixa
afirmando que o jovem o tentou matar e assim lhe foi instaurado o segundo
processo (Nº2176/2013) por tentativa de homicídio”, explica Salvador Freire.
Para o presidente das Mãos Livres, as queixas são
um absurdo: “No local estava um forte aparato policial e de segurança, com a
polícia montada, a brigada canina, a Polícia de Intervenção Rápida, a Polícia
Militar e os serviços de segurança”.
Salvador Freire interroga-se sobre “como pode um
jovem, que estava a ser torturado no local, ter tido tempo de atentar contra a
vida do comandante da polícia no mesmo local?”
Para si, o caso contra Emiliano Catumbela “é a
fabricação de um processo e a invenção de factos que embaraçam até a própria
Procuradoria-Geral da República”.
Confrontada com a situação actual do seu filho,
Victória Sequesseque afirma: “Não acho que o meu filho fez mal em se manifestar.
O meu filho não foi roubar, nem foi à rua violar a lei deste governo. Ele foi
cumprir uma missão, de defender o povo”.
A mãe lamenta apenas o facto do filho estar a
perder as aulas e faltar ao trabalho. Emiliano Catumbela frequenta a 9ª classe,
no período nocturno, e durante o dia trabalha como mecânico de motorizadas para
uma grande empresa em Viana.
“Ele paga as suas propinas num colégio privado,
alugou um quarto no bairro, para ter a sua vida independente, e cumpre com as
suas tarefas. Estou triste porque estão a maltratá-lo. Sou mãe e sinto a dor
dele”.
A tenacidade de Emiliano Catumbela é
extraordinária. Agentes policiais detiveram-no, pela primeira vez, por volta
das 20h00 de 27 de Maio, em companhia de Nito Alves e Albano Bringo. Os
efectivos policiais agrediram-nos à bastonada e a pontapés, no local.
Na 3ª Esquadra, na Vila Alice, os representantes da
lei e da ordem despiram e torturaram os prisioneiros, segundo depoimentos de
Nito Alves ao Maka Angola. De seguida transportaram-nos para o município
do Cazenga, na periferia da cidade, onde os libertaram.
Os jovens retornaram ao Largo da Independência para
retomar a vigília e, por volta das 22h00, agentes policiais detiveram Emiliano
Catumbela pela segunda vez.
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