terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Albert Camus. Como em todos os lugares, as quimeras do "crescimento" e do "desenvolvimento" não são mais do que chamamentos disfarçados para se sacrif


Durante os meses de maio e junho, aconteceram manifestações por toda Argélia (entre elas, duas em Argel), apesar de que muitas delas haviam sido proibidas pelas autoridades.

http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html

Segundo os organizadores, as manifestações deviam ser pacíficas; como já é costume, as frações social-democratas organizam manifestações com o objetivo de subir no carro do movimento que lhes escapa. Isso parecia ter dado resultado durante um "período de calma", no qual os manifestantes seguiam docilmente os organizadores que patrocinavam como ação levar cartas de petições dirigidas ao governo. Mas a calma desse período resultou muito relativa e finalmente durou pouco tempo. A tentativa desmobilizadora fracassou e desde meados de junho, os confrontos recomeçaram com maior vigor, assumindo traços semi-insurrecionais. Além disso, o movimento se estende agora a novas regiões da Argélia.

Na sexta-feira, 1 de junho, os distúrbios explodem em Khenchela (550 km a leste de Argel), Aurès (um morto), Aïn Fakroun (500 km a leste de Argel) e El Ghozlane (130 km ao sul de Argel).

Duas semanas depois, na quinta-feira, 14, na mesma Argel, violentos enfrentamentos explodem, cerca das 13 horas, em torno da praça 1º de Maio entre proletários e a polícia antidistúrbios: "As pedras e os projéteis lançados pelos manifestantes são respondidos com granadas lacrimogêneas, canhões de água e balas reais. Alguns hangares do porto de Argel são saqueados. Esta parece ser a ação mais importante desde o início da revolta nascida em 18 de abril em Cabila. [...] Nas ruas de Argel, os nomes das cidades [são] pronunciados como as notícias de uma frente de que ninguém chega a prever suas chamas. [Em] ‘Kenchela, um morto – diz um -. [Em] Skikda, atrás das barricadas’, responde outro. ‘Souur El Gozlan destruído. E ‘Annaba, também’. Agora, a revolta ultrapassou amplamente Cabila, cujas zonas não se apaziguam há uns quarenta e cinco dias." (15) A manifestação de 14 de junho reuniu na capital entre 500.000 e 2.000.000 pessoas segundo as fontes. Todas as manifestações que se haviam sucedido durante os dois meses precedentes tinham seguido um único itinerário, imposto pelo estado. Esta foi a primeira ilegalmente desviada, sob a determinação dos proletários, para a sede da presidência da república.

Forças e debilidades do movimento
É necessário se remontar a 1988 para achar uma explosão similar na Argélia (de que falaremos a seguir). Num contexto mundial ainda globalmente marcado pelas debilidades das lutas de nossa classe, os últimos movimentos importantes a escala do continente africano datam igualmente de vários anos (16). Como em outros lugares do planeta, as ilhotas de intensa valorização do capital (extração de ouro, diamantes, urânio, mas também petróleo e gás...) e de pólos de concentração industrial coexistem na África com amplas zonas abandonadas pelos capitais, que constituem verdadeiras reservas internacionais de mão de obra barata, castigada por "recordes" de miséria absoluta.

Se, para a eliminação do proletariado excedente (para as necessidades de valorização do capital, evidentemente), as mal denominadas catástrofes naturais não bastam (na realidade, penúria, fome, enfermidades diretamente ligadas ao modo de produção, entre as quais está a destruição do sistema imunológico, catalogada sob o nome de AIDS), os massacres e as guerras imperialistas, exoticamente atribuídas aos "ódios tribais" e os "conflitos interétnicos", complementam a imunda tarefa. Como em todos os lugares, as quimeras do "crescimento" e do "desenvolvimento" não são mais do que chamamentos disfarçados para se sacrificar aos interesses do capital. Por isso, contra toda ideologia que baseia sua análise na teoria de "países pobres e países ricos", nós afirmamos que a miséria mundial do proletariado não tem outra solução que não seja mundial e revolucionária.

Uma das maiores forças do movimento atual na Argélia consiste justamente em que é uma negação viva do mito derrotista burguês, segundo o qual a luta do proletariado não teria atualidade. A situação descrita aqui corrobora além do mais em diversos pontos a "caracterização geral das lutas atuais" (17), que nós pusemos em relevo numa de nossas revistas anteriores, a saber:

• O proletariado sofre hoje, sem uma resposta geral digna desse nome, a degradação extrema de sua situação, assim como grandes massacres.

• Quando o proletariado manifesta sua existência o faz repentinamente e de forma diretamente violenta, com base na sua ação direta, e tende a se afirmar fora de todo terreno particular ou setorial (locais de trabalho, bairros...). Essa afirmação violenta nega as divisões mantidas pela burguesia (trabalho, idade, origem, gênero...) e tende a se generalizar com um rechaço global ao estado e todo enquadramento social-democrata e reivindicativo (contra toda mediação do estado, dos partidos burgueses, contra as palavras de ordem legalistas, pacifistas, eleitorais...).

Estes traços essenciais de afirmação da luta proletária caracterizam também hoje o movimento proletário que se desenvolve em Cabila, em particular, e na Argélia, em geral:

• O velho arsenal social-democrata não tem nenhum efeito frente à ação determinada e violenta do proletariado.

• A revolta não proclama objetivos precisos e explícitos e não propõe nada de positivo.

• Os proletários expropriam diretamente a propriedade burguesa para satisfazer imediatamente as suas necessidades.

Imagem: http://images.google.com/hosted/life/l?imgurl

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