Ficou famosa a idéia de que ele não foi profundo. Isso porque ele não e era estúpido. Na presença do absurdo ele ria, e era taxado de irreverente. Ele pensava que Deus não condenaria nem um padre para sempre – e isso era considerado uma blasfêmia. Ele lutou para que cristãos não se matassem entre si, e fez o que pôde para civilizar os discípulos de Cristo.
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Tivesse ele fundado uma seita e controlado um território da nação, tivesse ele queimado alguns hereges em fogo brando, iria ele conquistar a admiração, amor e respeito do mundo cristão. Tivesse ele apenas fingido acreditar nas fábulas da antigüidade; tivesse ele proferido rezas em latim, segurado um cordão de contas, feito o sinal da cruz, devorado de vez em quando a carne de Deus, e acendido fogueiras nos pés da filosofia em nome de Cristo, estaria ele agora no céu, comprazendo-se com o tormento dos condenados.
Tivesse ele simplesmente adotado a crença dos seus contemporâneos, se ele tivesse dito que Deus, o todo-poderoso havia criado milhões ou bilhões de seres humanos para a condenação eterna -- e todos pela honra de sua gloriosa justiça – que ele havia concedido poderes de advogado para um astucioso papa italiano, autorizando-o a salvar as almas das esposas e enviando viúvas honestas para o céu – se ele tivesse oferecidos às ventas do seu Deus o aroma de carne queimada – o incenso da fogueira – se ele tivesse preenchido seus ouvidos com o grito dos torturados – a música da prancha de tortura, ele seria hoje conhecido como São Voltaire.
Durante muitos anos este homem incansável encheu a Europa com o produto de sua mente. Ensaios, discursos, poemas, tragédias, comédias, representando cada fase da mente humana. Na mesma época ele se engajou em negócios com especulação, fazendo fortuna como um milionário, ocupado com as fofocas da corte e com os escândalos dos padres. Na mesma época, atento para as novas descobertas da ciência e as teorias dos filósofos, e ao mesmo tempo, nunca esquecendo de atacar o monstro da superstição. Dormindo ou acordado ele odiava a igreja. Com os olhos de Argus ele observava, e com os braços de Briareus ele atacava. Durante sessenta anos ele levou adiante uma guerra contínua e incansável ora em campo aberto, ora espreitando uma oportunidade – tomando o cuidado, durante todo o tempo, para manter-se independente de todos os homens. Ele foi bem sucedido. Viveu como um príncipe, tornou-se um dos poderosos da Europa e com ele, pela primeira vez, a literatura foi coroada.
Tem sido alegado pelos críticos cristãos que Voltaire foi irreverente; que ele examinou coisas sagradas sem a solenidade; que ele se recusou a retirar os sapatos diante do incenso queimado; que ele riu da geologia de Moisés; das idéias astronômicas de Josué; e que a biografia de Jonas lhe causou gargalhadas. Eles dizem que essas histórias, essas sagradas impossibilidades, essas falsidades inspiradas, devem ser analisadas por uma mente que crê, e por um espírito humilde; que elas devem ser analisadas em oração, enquanto se pede a Deus para triunfar sobre as conclusões da nossa razão. Esses críticos imaginam que uma falsidade pode ser velha o suficiente para ser venerada e que ficar de chapéu diante de sua presença é um ato de desacato. Voltaire abordou a mitologia cristã da mesma maneira com que abordou a mitologia grega e romana, ou a mitologia chinesa ou dos índios iroquois. Nada há neste mundo sagrado demais para não poder ser investigado, ou ser compreendido. O filósofo não se esconde. O segredo não é amigo da verdade. Nenhum homem pode ser reverente às custas da razão. Nada deve ser reverenciado até que a razão se decida se aquilo é digno de reverência.
Contra todos os milagres, contra todas as santas superstições, afiado pela ironia, envenenado com a verdade, sempre atingiu o centro.
Tem sido alegado por muitos que nada do mais santo e mais sagrado, pode ser ridicularizado. Na verdade, aquele que tenta ridicularizar a verdade, ridiculariza a si mesmo. Ele se torna o alimento da própria gargalhada.
A mente humana tem muitas facetas. A verdade deseja ser e deve ser testada diariamente, testada por todos os sentidos.
Mas de que maneira o absurdo da "presença real" pode ser respondido, exceto por irreverência, bom humor e ridicularização? Como você pode convencer um homem que acredita que quando ele engole a hóstia ele está engolindo a divina trindade, que um padre engolindo umas gotas de vinho está engolindo o Todo Poderoso? Como usar a razão com um homem que crê que as hóstias, quando não usadas, devem ser bem guardadas para que os ratos não devorem Deus?
Qual o efeito que a lógica poderá ter num homem que acredita que um Deus misericordioso enviou duas ursas para devorar e despedaçar quarenta e duas crianças por terem rido de um profeta calvo? Como essas pessoas podem ser respondidas? Como elas podem ser chamadas a ter um sendo de absurdo? Elas devem sentir na carne a flecha da ridicularização.
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