A hipocrisia Ocidental espalha-se por Angola ao ritmo do bigue-bangue
Está muito desenvolvida, até já tem disciplina universitária garantida
Está como os cães que também já não acreditam nos seus donos. Crise de hipocrisia canina
Ladram hipocritamente para os gatunos
Tão cínicos estão que fingem que gostam da comida que o dono lhes dá
E ladram no melhor sono da noite
Prazerosos em acordarem os donos
Ladram óperas
Os donos levantam-se agitados, dirigem-se para os amigos infiéis
As caudas peludas agitam-se. Justificam o ladrar tentando morder o ensonado
dono, fingindo que é um gatuno. Muitos proprietários aperceberam-se do logro
Já não lhes falam, ladram-lhes
A curto prazo uma serenata canídea será uivada
Como querem que acredite em Deus?!
Creio no Grande Deus da Fome. Quando morrer tenho o seu paraíso garantido
Antes de lá chegar aguardo por uma comissão da ONU para me governar
Kilimanjaro, a lenda do enterro do Rei Salomão
Tanta sabedoria deixada, talvez nunca igualada
Tenho que penetrar no fundo do tempo e trazê-lo à superfície
É uma instituição bajuladora que serve apenas para amigos
Chama-se propagação nacional de malfeitores
As igrejas ajudam-me na miséria. Aviltam-me com o que não tenho, dinheiro
Mesmo assim insistem porque senão!.. Deus que tudo vê, vai ficar muito zangado e não me agraciará. Meto-me no dinheiro emprestado para pagar o que não devo, assim mo exigem os abençoados pastores. Depois fome, a interminável cura
Do remediar dos meus males. Jovem precocemente velha
Angolana a morrer de fome e de doenças
Penetro o olhar no fundo da minha alma e vejo:
Chegamos a velhos e antes do derradeiro ai, descobrimos que andámos a vida inteira desgovernados
Não sei porque é impossível encontrar um governo de sábios
Os governos são como as lotarias, como os casinos
Apostamos, não acertamos, perdemos
Paradoxo: populações morrem à fome e aos governantes nunca lhes falta comida
Outro paradoxo: onde não há comida os ratos humanos multiplicam-se
Mais outro paradoxo: onde o ser humano se atrela, doenças e epidemias não faltam
Não consigo entender o porquê do angolano construir e depois destruir
Passa o tempo a edificar e a derrubar
É isso! Não consumimos bebida, ela consome-nos
E as farras, as festas perseguem-nos
As ruas entrevadas por onde passo parecem inundadas por rios de álcool
Parecem peixes, confundem-se com garrafas alcoólicas
a boiarem na corrente sem destino
A nossa existência depende dos vapores, dos volumes alcoólicos
do rodopio no éter
Quando dizemos a um possesso emborrachado:
«Não estás em condições de sair, podes ser assaltado. Não conduzas o teu carro. A polícia vai-te prender»
«Oh! Quero lá saber! A mim ninguém me maltrata, me prende»
E elas acontecem. Depois dos vapores vagamente extintos, os pobres ébrios arrependidos juram nunca mais beberem. Voltam à anormalidade:
«Vou beber só um copito»
Desajeitados como plantas sem água, como antenas parabólicas desdentadas
Neste beber, vejo crianças nascer, brincar, crescer… sofrer
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