quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Matar à fome. Há que reverter a política alimentar de imediato!


Desde há algum tempo a ascensão dos custos dos alimentos no mundo todo envoleu as famílias, os governos e os media numa tempestade. O preço do trigo subiu 130% no ano passado. [1] O arroz duplicou de preço na Ásia só nos primeiros três meses de 2008 [2] , e na semana passada atingiu alturas récorde no mercado de futuros de Chicago. [3] Durante a maior parte de 2007 o disparar dos custos do óleo de cozinha, das frutas e dos legumes, bem como dos produtos lácteos e da carne, levaram a uma queda no consumo destes ítens. Desde o Haiti até os Camarões e o Bangladesh, as pessoas estão a ir às ruas em cólera por serem incapazes de ganhar para a comida que precisam.

por GRAIN [*]

O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/grain260408.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Com medo da perturbação política, líderes mundiais têm estado a apelar por mais ajuda alimentar, bem como por mais fundos e tecnologia para promover a produção agrícola. Enquanto isso, os países exportadores de cereais estão a fechar as suas fronteiras a fim de proteger seus mercados internos, ao passo que outros países foram forçados a comprar em pânico. Será isto uma perturbação momentânea nos preços? Não. Uma escassez alimentar? Não, tão pouco. Estamos num colapso estrutural, o resultado directo de três décadas de globalização neoliberal.

Os agricultores de todo o mundo produziram um récorde de 2,3 mil milhões de toneladas de cereais em 2007, mais 4% do que no ano anterior. Desde 1961 a produção mundial de cereais triplicou, ao passo que a população duplicou. Os stocks estão no seu mais baixo nível de 30 anos, é verdade, [4] mas o que importa é que há bastante comida produzida no mundo para alimentar a população. O problema é que esta não chega a todos aqueles que dela precisam. Menos da metade da produção de cereais do mundo é comida directamente pelas pessoas. A maior parte vai para a alimentação animal e, cada vez mais, para biocombustíveis – maciças e inflexíveis cadeias industriais. De facto, uma vez que se olha por trás da cortina fria das estatísticas percebe-se que há alguma coisa de fundamentalmente errado com o nosso sistema alimentar. Nós permitimos os alimentos serem transformados de algo que alimenta pessoas e lhes proporciona meios de vida seguros numa commodity para especulação e regateio. A lógica perversa deste sistema chegou ao máximo. Hoje ela está a fitar-nos na cara e a dizer que este sistema coloca o lucro dos investidores antes das necessidades alimentares dos povos.

Realidades do mercado

Os decisores políticos que moldaram o sistema alimentar mundial de hoje – e que supostamente são responsáveis por impedir tais catástrofes – sairam-se com um certo número de explicações para a crise actual que toda a gente já ouviu repetidas vezes: secas e outros problemas que afectam colheitas; procura em crescimento na China e na Índia onde supostamente as pessoas estão a comer mais e melhor do que no passado; colheitas e terras a serem desviadas maciçamente para a produção de biocombustíveis; e assim por diante. Mas eles não contam a plena profundidade do que está a acontecer. Há algo mais fundamental em funcionamento, algo que reúne todas estas questões, e que os chefes das finanças e desenvolvimento mundial estão a manter fora da discussão pública.

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