terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (99). Restam as ruínas dos prédios dos brancos. É isto a luta de libertação.



Esta epopeia interminável

Era negra como o vento, o coração, sorrisos, amor
céu, sol, sem cor
e como a água, incolor
agora sou predadora

As estradas são necessárias para o bem da humanidade
Por aqui são óptimas para o trânsito de exércitos de ocupação
E depois destruídas para que o inimigo não as possa utilizar
E as populações, que mais têm de suportar?

Conservo uma réstia da minha voz melodiosa, cheia do perfume perdido
da minha mocidade amordaçada
Nos meus ténues gestos de mãos acorrentadas
num infinito grão de areia de bolor
Sentir um pouco de amor (?)
Que já não resta no meu coração. Jasmim sem odor

Gostava muito de ver o sol nascer
Agora vejo a minha beleza no meu sorriso de tristeza
ao entardecer

Existe sempre um dia. O meu dia
Assim como existem anos
e silêncios
Que o infinito nevoeiro do tempo se dissipe
e se lembre de mim
Ah! Ditadores e falsos democratas
existe sempre um dia!

Já não ando, voo no nosso contento
no avião do feitiço da independência
que inventaram
Demora dez minutos nas viagens
Os nossos negócios vão bem no avião do feitiço
Vem sempre carregado com coisas que comerciamos
Quero ser honesta mas não consigo, não me deixam

Trabalhar?! Tratam-me como escrava
Libertaram-me de tudo, esqueceram-se da escravidão
E se adoecer abandonam-me até falecer
Sem assistência médica devo morrer
As morgues dos hospitais dos campos de concentração
esperam-me
Dão à costa como marés desgovernadas
Angola é um campo de concentração com corpos inertes
Onde os descolonizadores esquartejam sempre mais um pedaço
E o crescimento económico que o FMI apregoa para a minha Angola, minha não, deles, isso sim!
Está nas morgues. É um crescimento de mortandade mórbida
O FMI negocia contratos de números cadavéricos com a Angola da FAMÍLIA

Com a beleza externa que contradiz a interna
É como passar o tempo que resta da vida a projectar
Os movimentos nas janelas assomadas, sem pretensão de originar
A mínima descrição do que os olhos vêem mas os sentidos não captam

Observar sem discernir prenúncia ditadura
Má governação

Sem comentários: