quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (87). Eu, o Presidente elegi-me, impus-me para governar


Para a paz mundial estabilizar, os impérios devem ensinar
empregar a nossa gestão participativa

Os arquivos electrónicos onde se guardam
as palavras, os passes secretos das fortunas fáceis
Nesta Angola que não é minha quem enriquece rouba
e roubar é tão fácil
Basta pertencer ou amigar à família no poder
E nascem condomínios, partem-se os domínios
dos casebres
Recebe-se o bónus dos negócios, ignomínias
Lamento muito, mas acho que não devo ser desprezada

Por aqui não existe nada seguro, tudo é inseguro
Quando o meu Presidente fala à nação, parece que está na ONU
Com palavras muito cultas, exorta a nossa cultura
a incultura da fome omite-a.
Ah! A fome, isso é da competência das agências internacionais
Eu, o Presidente elegi-me, impus-me para governar
Receber as altas individualidades que poisam nos nossos palácios
E falar… e falar que dentro dos próximos anos, sempre os mesmos
lutaremos, faremos qualquer coisa
Impávida e não serena a epidemia da fome alastra, estende-se como os desertos

Tão frágil parece o meu corpo na fortaleza da minha beleza

O mar encrespava em sinfonia
Com as nuvens negras do FMI parecendo chuva
A natureza remexia-se. Ordenava os preparativos
o desejo entre tantos venho já ausentes
Até logo, até amanhã entre aguardentes
que se perdem por um fio

O maldito humano destrói a comida marítima
Os marinhos, marinheiros em terra procuram a vida humana para alimentação
As barbatanas famintas para não serem extintas
Se alguma coisa em minha casa virem entrar, é certo que me vão assaltar

A minha vida de lavadeira não acabou
Tanta roupa que levei, lavei, e o sol não secou
Devo andar seminua, nua para um estrangeiro namorar
Se alguma comida para casa quiser levar
Não sou prostituta, sou um submarino que usa lastrar
O meu silêncio espectral é um acto eleitoral, conjuntural

Não sei o que não quero
Vesti uma hiper mini-saia aventureira, fronteira bivalve
Um amigo prevenia os incautos e escreveu na minha bifurcação:
«Perigo! alta tensão! Sida! qualquer um serve para se sentar na minha cadeira eléctrica»

A formação mais fácil da rentável escravatura: carregar no gatilho

Ah! Que agora neste outro poder libertador dos senhores negros
disputo aos abutres uma réstia de comida

Imagem: ALTO HAMA

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