sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (95). O dia-a-dia no meu campo de concentração de Luanda


Talvez sejam os dias sem sol que nos fazem tristes e agressivos
Os dias quando nascem não são para todos, continuam apenas para alguns. Sempre os mesmos como uma dinastia milenar. Nesta terra nada mudou, muito pelo contrário, tudo piorou.

Não apreendo a matriz genética dos nossos políticos
Há armas nos quintais, nas ruas, nos lares, nos carros… e nas crianças
Postos de controlo disseminados, com carteiristas fardados
Sem civilização, com máfias, sociedades secretas
E atributos genéticos que nos condicionam
Como o gene que bloqueia a noção de compromisso, de responsabilidade
«Está bom, não há problemas. Daqui a pouco já passo por aqui. Depois telefono, amanhã passo aí. Vou telefonar sem falta. Na próxima segunda-feira, volto mais tarde.»
É a politica dos apocalípticos
Um passo em frente e três atrás
O pressuposto de uma política congénita
O mais importante é acabar com o povo.

O dia-a-dia no meu campo de concentração de Luanda

Não sei se conseguirei dormir
para de manhã me levantar
Os estertores, estupores das festas que não decidem as frustrações
da violência sonora, da agressão espiritual, neuronal
Do sono inconstante, é irrelevante
Marés negras, petrolíferas de sons intranquilos
que enfeitam as infernais noites
Deito-me na ânsia de não ouvir tal mensagem
Até agora nada! Devem estar cansados
de tanto beber, amarrados, acostados

Os pardais já voam sonoros
O meu relógio biológico despertou
Saio da cama, obrigo-me a levantar
Sem água, sem luz, sem nada para manjar
Não sei o que fazer
Disseram-me que na Internet há muita comida
Não sei onde isso fica, como lá chegar, vou procurar
Hei-de qualquer coisa lá encontrar
para me consolar

Ah! Esta negra existência!
Porque querem acabar com a minha raça!?
Só branco é bonito, e negra feia porque escura, escurece o ambiente?
Hipócritas! Então que acabem com a escuridão das noites
Façam operação ocular para extrair a cor preta, negra
Depois não verão mais a minha beleza exótica, tropicalíssima
Bem feito! Malandros! Sacanas, é o que são!

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