Da soberania mil perigos me esperam, perseguem-me
São estas delícias sem vida
Quando nascemos ficamos, não pisamos
em qualquer terra
Mas é em qualquer lado que morremos, em qualquer terra
Senhor:
Porque escolheste apenas Angola para lançares as tuas pragas
esquecendo, protegendo outros lugares onde os ardilosos se escondem
nesta terra tão vasta
Porque não provocas a doença do sono nos sedentos do poder fácil
nos idiotas e similares
Porque não os hibernas, porque não os pões a dormir, eternamente, congeladamente
Que, prometemos-te que os sensores electrónicos que os vigiam
sofrerão rigorosa manutenção e vigília
Estamos tão cansados de tanto o nosso soberano nos esbofetear
que já não temos mais faces para dar
Já estamos no receio do viver desfigurados. Que faremos Senhor?!
Não sabes?! Não te lembras?!
Cá estamos no cume do cinismo, de tanto fingir
que em Angola existe democracia
Não existimos, fingimos
Falamos, criticamos… e nunca nos cansamos?!
Os românticos abolicionistas lutavam contra a desigualdade
Lutar para abolir a escravidão é uma coisa, a sua formação é outra
Libertarem-me e continuar escrava é puro romantismo
Liberta no cativeiro, cativa da liberdade da chama trémula da vela
Os campos de concentração angolanos são um imenso oceano
Onde só navios da fome navegam
As roupas muito justas no meu corpo sensual
despertam a sensualidade no olhar dos homens
E esquecem as formigas transportando comida na vertical parede
As plantas mostrando a sua beleza ao seu namorado Sol
Perto, restos de uma cadeira comentando a vida passada
de opositores políticos
Crianças saem da escola fugindo da morte
dos velozes automóveis enlatados nas estradas
sem escoamento
A morgue vigia-as. Chegam a casa famintas… espera-as a insaciável fome
O sinal vermelho paralisa os mastodontes metálicos
O verde surge. Lançam-se numa louca corrida pelo capim da selva asfaltada
A História da Humanidade é a história das guerras
para o controlo das matérias-primas. As civilizações desapareceram
devido ao desenvolvimento de armas sempre mais poderosas
Até à descoberta do nuclear. Sempre em conflito com a Natureza
Os idiotas não sabem que ela tem consciência
A revolta final é a revolução da Natureza. Como uma gigantesca empresa de limpeza e saneamento a terra é varrida, limpa da erva daninha humana
A civilização humana termina, outra surge. O ciclo é repetitivo. A Natureza sente-se só, cria humanos para se divertir. Quando cansada dá-lhes com a raquete, como se fossem uma bola de ténis
Sem leitura não há desenvolvimento intelectual, é por isso que o meu cérebro não funciona
Os outros povos avançam e nós recuamos, contentamo-nos em apanhar migalhas que eles vão deixando
De qualquer modo esta é a mais atroz escravidão que ainda não foi devidamente contada. O mais ignóbil acto criminoso de todos os tempos. Exterminar povos. Sob a voz do comando angolano: COMAM A FOME!!!
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