quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (94). Era assim que pensávamos na nova ideologia revolucionária: só os livros marxistas-leninistas eram edificantes


Isto não é Angola
são banqueiros e demais carniceiros
na carnificina
Se fosse como eles, se roubasse estaria rica. Este é o único meio que ainda subsiste para enriquecer
Que me provem o contrário. Não haverá ninguém
que me atire o primeiro milhão de dólares para me desenganar
porque a lei protege-os
Os poderosos e a gatunagem protegem-se dos fracos e desprotegidos
e daí o atroz terrorismo

Não adianta recorrermos porque existem duas advocacias:
uma para pobres, outra para ricos, e os deserdados…
Não foi em vão que esta palavra foi pela primeira vez pronunciada Deserdados… porque os cancerosos poderosos a herdaram
A garantia da minha recente liberdade era atirar para o lixo os livros técnicos deixados pelos colonialistas, porque na nova vida não teriam nenhum proveito. Era assim que pensávamos na nova ideologia revolucionária: só os livros marxistas-leninistas eram edificantes
E ainda o são
Quando demos pelo engodo, era demasiado tarde
Voltámos às cavernas, aos túneis do espírito sem luz
Novamente nas garras dos vampiros
A ouvir cigarra cantar e a ver formiga guardar

MEU POVO,
Quando ouvirem os políticos a falarem guardem silêncio
Quando eles se cansarem falarão
e sereis escutados
De noite não tenham medo das sombras das ditaduras deles
Pelo contrário, congratulem-se pelo luar que vos oferece
a democracia
não confiem em nenhuma igreja
porque vos levam à escravidão
Porque nos tempos que correm
devemos agradecer tão sublime jornada libertadora

Quando virem outros esfomeados passarem ao vosso lado
Não os desprezem. Eles indicam os caminhos que esperam
aos que desviam maliciosamente os caudais das nossas riquezas

Diariamente ouvirão muitos cantos de promessas
As mesmas musicas tocadas sempre nas mesmas rádios, jornais, TVs
Existirão sempre muitos ditadores com ares místicos
mas poucos serão escutados
Nas tormentas das cidades aprendam a mergulhar nas multidões
Afastem-se e observem-nas
Verão oradores no circo com muita palhaçada

Nas muitas horas vadias contem o tempo que resta para viverem
Verão depois que passaram muitos anos colonizados
E não terão mais horas vagas para recuperar o tempo perdido

Conhecem muitos governantes mas não pessoas
Nunca conhecerão ninguém
se não conhecerem profundamente uma delas
E quando finalmente sós e abandonados
Lembrem-se que os vossos pais
Nos silêncios das tumbas aguardam a vossa companhia
e estarão sempre convosco

E pior que o pior é ser melhor

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