Nada do que os decisores políticos digam deveriam obscurecer o facto de que a crise alimentar de hoje é o resultado tanto de uma incessante pressão para o modelo agrícola da "Revolução Verde" a partir dos anos 1950 como da liberalização comercial e das políticas de ajustamento estrutural impostas aos países pobres pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional a partir dos anos 1970.
por GRAIN [*]
O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/grain260408.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
Estas receitas políticas foram reforçadas com o estabelecimento da Organização Mundial do Comércio em meados dos anos 1990 e, mais recentemente, através de uma barragem de acordos bilaterais de livre comércio e de investimentos. Juntamente com uma série de outras medidas, elas levaram ao implacável desmantelamento de tarifas e de outras ferramentas que os países em desenvolvimento haviam criado para proteger a produção agrícola local. Estes países foram forçados a abrir os seus mercados e as suas terras ao agrobusiness global, aos especuladores e às exportações de alimentos subsidiados de países ricos.
Em tal processo, as terras férteis foram desviadas da produção para mercados locais de alimentos em favor da produção de commodities globais ou de plantações fora da estação e de alto valor para supermercados ocidentais. Hoje, aproximadamente 70% de todo os chamados países em desenvolvimento são importadores líquidos de alimentos. [5] E dos estimados 845 milhões de pessoas famélicas no mundo, 80% são pequenos agricultores. [6] Acrescente-se a isto a re-engenharia do crédito e dos mercados financeiros para criar uma indústria maciça da dívida, sem qualquer controle sobre os investidores, e a profundidade do problema torna-se clara.
A política agrícola perdeu completamente o contacto com o seu objectivo básico principal de alimentar pessoas. A fome dói e o povo desespera. O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas estima que os recentes aumentos de preços significaram que um acréscimo de 100 milhões de pessoas já não pode mais permitir-se comer adequadamente. [7] Governos estão freneticamente a procurar proteger-se do sistema. Aqueles afortunados, com stocks para exportação, estão a retirar-se do mercado global a fim de cortar os seus preços internos da disparada dos preços mundiais.
Em relação ao trigo, proibições ou restrições a exportações no Casaquistão, Rússia, Ucrânia e Argentina significa que um terço do mercado global agora foi encerrado. A situação em relação ao arroz é ainda pior: China, Indonésia, Vietname, Egipto, Índia e Cambodja proibiram ou restringiram severamente as exportações, deixando apenas umas poucas fontes de oferta de exportação, principalmente a Tailândia e os EUA. Países como o Bangladesh agora não podem comprar o arroz de que precisam porque os preços estão demasiado altos. Durante anos o Banco Mundial e o FMI disseram aos países que um mercado liberalizado proporcionaria o sistema mais eficiente para produzir e distribuir alimentos, mas hoje os países mais pobres do mundo são forçados a uma intensa guerra de competição contra especuladores e comerciantes, os quais estão a ter um belo dia. Hedge funds e outras fontes de capitais errantes (hot money) estão a despejar milhares de milhões de dólares em commodities a fim de escapar ao resvalar dos mercados de acções e ao esmagamento de crédito, colocando os stocks de alimentos fora do alcance das pessoas pobres. [8]
Segundo algumas estimativas, os fundos de investimento agora controlam 50-60% do trigo comercializado nos maiores mercado de commodities do mundo. [9] Uma firma calcula que a quantia de dinheiro especulativo em commodities futuras – mercados em que os investidores não compram ou vendem uma commodity física, como arroz ou trigo, mas meramente apostam sobre movimentos de preços – inchou de US$5 mil milhões em 2000 para US$175 mil milhões em 2007. [10]
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