sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Cavaleiro do Rei (77). Vamos embora… se até o Etona quer mudar de nacionalidade.


Em Samza Pombo, Norte de Angola, inaugurou-se uma escola primária com duas salas. Custou doze milhões de kwanzas. Nota-se de imediato que o custo daria para duas escolas.

- Lwena!!!
- Diga! Porra… você é chato, o que é agora?
- Vamos embora… se até o Etona quer mudar de nacionalidade.
- Quem é esse tona?!!
- Já não te expliquei?! É aquele artista plástico angolano muito admirado no estrangeiro e que aqui não lhe dão nenhum valor.
- Será que ele é mesmo angolano? duvido.
- Olha Lwena, vai à merda.
- Obrigado.

Há meses que espero a ajuda da minha filha que está em Portugal. Já lhe disse para nos apoiar, para nos aguentarmos aqui mais uns dias. Não compreendo o abandono dela. Até nos dias do meu aniversário nem uma simples mensagem. Deve ser por causa dos ensinamentos democráticos que aprendeu. Quem está em Angola que se lixe. Ao menos que democraticamente lhe ensinassem que os pais não são como os lideres políticos. Hoje estão no poder, amanhã não. Os pais são os únicos que permanecem eternamente no poder. Que civilização, que torpor edificamos! Os filhos são como os pássaros. Os pais ensinam-nos a voar, saem do ninho e esquecem-nos para sempre.
Como pai só me resta, na dor do meu coração pensar: olha, minha querida Lwena, hoje à noite vamos atacar a aldeia, porque as leoas estão a dormir.

O Cliente português não paga. Não pagam a ninguém. E o que pagam, dizem que é uma gasosa para distrair, para entreter o pessoal. Sem lei, a lei é deles, são eles. Vamos vivendo à espera que alguém se lembre que isto é um verdadeiro país, não é um reino. Entretidos com o aumento do preço do petróleo, que não pára de subir, fazem as suas contas. Quanto cabe a cada um. Pensam em comprar uma ilha e irem para lá. E nós que nos lixemos. Tiram-nos a luz, a água, o direito à alimentação. Tudo para eles, nada para nós. Não temos acesso a umas sobras. Isto é digno de um filme de ficção científica, daqueles onde surge um monstro que come todos os seres humanos.

A Lwena caiu nas escadas. Ficou meia hora sentada. Caiu tudo no chão. As meninas do quinto andar é que lhe ajudaram a apanhar as coisas que se espalharam nos degraus. Estou esclarecido. O colonialismo branco e este negro são demasiado monstruosos.

Na Rádio Nacional o locutor afina a voz, cria impacto. Trata-se de uma grande informação que aí vêm. Mais uma grande vitória para o país anuncia-se. «As alfândegas conseguiram arrecadar em receitas noventa e nove milhões de dólares até agora. A maior de sempre».
Que pobre espírito informativo. Será que estamos em 2005?... Não me parece. Retrocedemos no tempo, e disso ninguém parece dar-se conta. Não é assim que se informa. Está bem, não é necessário lembrar que estamos num país de analfabetos. Mas nem todos o somos. Vale lembrar que esta notícia deveria ser dada assim: com as receitas, menos as despesas, obtivemos um lucro de…
Convém acrescentar que a idiotice é igual ou superior ao valor das receitas, quando apenas se conhecem estas.

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