segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Albert Camus. Como sempre, quando a burguesia se encontra diante da radicalização de uma luta num território determinado, faz todo o possível para enc



Em meados de junho, a burguesia constata que perdeu todo controle da situação em Cabila; a insurreição vence nas ruas e assedia as forças repressivas que se vêem obrigadas as entrincheirar-se dentro de campos fortificados:

http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html

"Em Tadmït, Ouadhias, Boghni, Akbou, Aïn el-Hamman, Mekla, Larbaa-Nath-Irathen, Azazga, Bugia..., todas as brigadas da polícia nacional oferecem o mesmo espetáculo de fortins assediados, pórticos bloqueados, muros destroçados, fachadas incendiadas, portas arrombadas e, nos arredores, restos de pneus queimados, postes caídos e árvores tombadas, bloqueando todos caminhos que conduzem às brigadas. Por todos os lados, os comerciantes se negam a servir aos policiais. O boicote é total. As 36 brigadas de Cabila são aprovisionadas por Argel, mediante helicóptero ou rotas de comboios fortemente armados. Um jovem de Tigzirt, por ter lançado um pacote de cigarros para um policial, por cima do muro do quartel da brigada, quase foi linchado. O levantamento se transformou em insurreição generalizada. [...] Há três semanas não existe um só policial nas ruas de Cabila. Entrincheirados, a missão dos policiais é defender sua brigada e suas vidas. A região está nas mãos dos insurrectos". (10)

Contra o "particularismo cabilista", a luta se estende a outras regiões


Como sempre, quando a burguesia se encontra diante da radicalização de uma luta num território determinado, faz todo o possível para encerrá-la e evitar sua extensão.

"As autoridades temem que o movimento se espalhe como uma mancha de azeite. Os enfrentamentos já se estendem até as imediações de Sétif e os confins do leste de Cabila. No sábado, 28 de abril, houve uma tentativa de manifestação em Oran e Bourmedés, próximo de Argel, enquanto uma forte tensão reina na capital" (11), constatava um "enviado especial". A tática do governo é então apresentar a luta dos proletários em Cabila como um "combate pela identidade bérbere", mas ao mesmo tempo esse jornalista assinala com dedo prudente: "O medo de que o movimento ultrapasse Cabila levou o poder a tentar enquadrá-lo como uma reivindicação estritamente lingüística, escondendo o conjunto das reivindicações sociais e políticas que se expressam e que são comuns a todo o país. Isolando Cabila, Argel espera dispor o resto da população contra o particularismo de Cabila, com o objetivo de impedir toda unificação na contestação." (12) As frações burguesas instaladas no governo esperam utilizar os 250 km que separam Argel da província insurgente, para sufocar os riscos de "contaminação".

Mas o que se produz é o contrário, por muitos fatores:

• As condições de sobrevivência miseráveis impostas pela burguesia não são monopólio de Cabila, mas de toda Argélia, o que claramente constitui uma condição favorável para a generalização.

• Os proletários em Cabila atacavam alvos que, por seu significado, tornava difícil esse tipo de falsificação burguesa de que se trataria de uma reivindicação bérbere. Até os jornalistas reconheceram "que o incêndio que Cabila hoje conhece não tem comparação com as tensões que agitam regularmente a região. Desta vez não se trata em absoluto de reivindicações culturais e lingüísticas [...], mas de uma verdadeira explosão social. [...] Inclusive as formações políticas com forte inserção em Cabila, que controlavam e enquadravam não há muito tempo as reivindicações de identidade, já não são consideradas pelos manifestantes. Estes já não querem nem ouvir falar de reivindicações pacíficas e não têm dúvidas comunicar isso aos responsáveis da Frente de Forças Socialistas (FSS)" e, sobretudo, aos dirigentes da União pela Democracia e a Cultura (RCD), que pagam com isso sua participação no governo." (13)

Em 25 de abril, "as cidades de Sidi Aïch, El-Kseur, Tazmalt, Barbacha, Seddouk e Timezrit são presas dos saques de jovens exaltados que gritam palavras de ordem antigovernamentais. Os carros particulares não são respeitados, do mesmo modo que os tradicionais partidos que defendem a causa bérbere e de Cabila, que também foram destroçados e saqueados. [...] Os manifestantes incendeiam o edifício central da coleta de impostos, de Akbou e Barbacha, na Pequena Cabila. A estrada nacional entre Bugia e Argel foi bloqueada com barricadas levantadas pelos amotinados, impedindo toda circulação nuns 60 quilômetros." (14)

Ao atacar os partidos nacionalistas e expressar com clareza suo rechaço aos chamados "pela identidade", ao denunciar diretamente o "poder assassino", os proletários estão lutando concretamente pela extensão e o reconhecimento universal de sua luta. De fato, a carta da luta autonomista ou de identidade nacional não conseguiu se impor. Desde fins de abril, o conjunto da classe dominante foi tomado como alvo e reconhecido pelo que é: inimiga do proletariado. Esse reconhecimento inclui expressamente tanto frações autonomistas quanto frações governamentais, tanto as socialistas quanto as que não o são, tanto as oficiais quanto as de oposição. No 1º de maio, a RCD anunciava a retirada de seus dois ministros do governo de Argel, mas tal gesto não bastou para voltar a dar credibilidade a este partido frente aos proletários.

Imagem: http://4.bp.blogspot.com/_sg7ZLXwmom0/

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