quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Albert Camus. «um movimento de negação da sociedade atual, de ataque ao capital e seus defensores.»



Além desses "traços característicos das lutas atuais", a luta apresenta forças que denotam um nível de enfrentamento ao capital superior ao geralmente alcançado pelas lutas atuais do proletariado.

http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html

A primeira impressão dessas forças reside no fato de que aqui, inclusive quando superada a rápida surpresa, a burguesia não foi capaz de levar adiante, de forma eficaz, sua contra-ofensiva. Contrariamente ao que se passou, por exemplo, nos distúrbios em Los Angeles (18), todas as tentativas burguesas de destruir o movimento, separando a maioria dos proletários de sua vanguarda, fracassaram.

É um fato real que na cabeça de tais ações se encontram majoritariamente "juventudes proletárias" (60% da população têm menos de vinte e cinco anos e, além disso, é o grosso da população mais afetada pelo desemprego); também é certo que podem às vezes levar suas lutas sob bandeiras islâmicas, mas as tentativas burguesas de particularizar a ação direta do proletariado, com base nessas realidades parciais, não tiveram até o presente peso real no movimento. A prática do amálgama, que consiste em apresentar a luta da vanguarda do proletariado como uma luta de "jovens amotinados", assaltantes, bandidos e "muçulmanos radicais", não teve o efeito esperado no resto do proletariado na Argélia. O movimento se mostra mais forte do que todas as divisões que a burguesia tenta impor e, como temos visto, quem luta hoje na Argélia é o conjunto do proletariado.

Certas "divisões do trabalho" que a burguesia nos apresenta como políticas não são mais do que técnicas e organizativas. Até agora, a solidariedade e a unidade foram realidades concretas do movimento. Ressaltamos que as ações, como o bloqueio das estradas, pressupõem um certo nível de organização e centralização do movimento. Inclusive se elas fossem hoje realizadas por um punhado de solitários proletários, estas ações constituiriam um esboço da assunção incipiente de aspectos militares de luta.

No período atual, outra especificidade do movimento na Argélia é sua excepcional duração e extensão. Contrariamente à maioria das expressões atuais do proletariado, que aparecem como um simples relâmpago num céu sereno, aqui, o movimento perdura desde o mês de abril... os sinais de tempestade continuam enchendo a burguesia de medo! Desde 18 de abril, o movimento proletário não cessou de se estender, tanto em longitude como em profundidade, e ainda hoje a luta continua:

• Estendeu-se por diversas regiões da Argélia.
• Os alvos atacados são de caráter cada vez mais global; todo símbolo do estado é um objetivo potencial.
• A ação direta se afirma cada vez mais como a única arma do proletariado contra o estado.
• O proletariado tende a traçar, cada vez com maior clareza, sua fronteira de classe com relação ao conjunto da burguesia e, muito particularmente, com as frações de esquerda (FFS, RCD).

Esta força, esta persistência do movimento atual, se situa em continuidade a respeito da força manifestada em lutas passadas. Faz mais de uma década, nós já assinalávamos em nossas revistas centrais que o movimento de 1988 na Argélia tinha sido um movimento de negação da sociedade atual, de ataque ao capital e seus defensores.

Em 1988...
• Os proletários tomaram os edifícios e os bens oficiais (prefeituras, veículos de representantes do governo, diferentes sedes do FLN, delegacias, palácios de justiça e lugares centrais da acumulação capitalista e da administração da mais-valia como bancos e centrais de arrecadação de impostos).

• Fartos das condições de sobrevivência, os proletários em luta não formularam nenhuma reivindicação precisa. Não exigiram reformas, mas, pelo contrário, a revolta esteve ligada às expropriações diretas, evidenciando que o objetivo não podia ser outro que o de se reapropriar do produto social de que os proletários são privados.
• O movimento de 1988 foi obra da rua e se desenvolveu na rua e não de empresas ou setores concretos, o que não deixa lugar para o enquadramento social-democrata, cujos sindicatos não tiveram a possibilidade de jogar o papel de sempre de recuperadores, canalizadores e destruidores da luta.

Está claro que o movimento que abrasa hoje muitas regiões da Argélia apresenta flagrantes similaridades com as lutas de 1988. Voltemos a extrair parágrafos do comentário de Libération de abril de 2001: "Erigindo barricadas, eles destroem os símbolos do estado e os postos de polícia. ‘é a revolta de uma juventude radicalizada [categoria aclassista!] que não tem nada a perder, pois já se encontra esmagada pela miséria e sem esperança’. ‘Vocês não podem nos matar, nós já estamos mortos’, gritam os manifestantes. Lançando pedras, incendiando pneus, com coquetéis molotovs; escapam totalmente do controle de todos os partidos políticos e demonstram uma raiva que ninguém parece poder canalizar: três sedes da FFS e numerosos locais da RCD foram, por outro lado, incendiados".

Imagem: http://farm1.static.flickr.com/160/384746406_3653e77d7d.jpg

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