sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Voltaire. Nome que, se pronunciar na presença de um clérigo, você verá que fez uma declaração de guerra.


Eles são os heróis que mataram os monstros da ignorância e do medo; eles desmoralizaram os gorgons e derrubaram os deuses cruéis de seus tronos. Eles são os inventores, os descobridores, os mecânicos, os reis da utilidade, que têm civilizado este mundo. E encabeçando este exército heróico, o maior de todos, está Voltaire, cuja memória honraremos nesta noite.
Robert Green Ingersoll

http://www.mphp.org/racionalismo/voltaire---robert-g.-ingersoll.html

Voltaire! Um nome que excita a admiração dos homens, a malícia dos sacerdotes. Nome que, se pronunciar na presença de um clérigo, você verá que fez uma declaração de guerra. Pronuncie este nome, e na face dele a máscara da mansidão cairá, e da boca do perdão se derramará uma Niágara de impropérios e calúnias. E no entanto, Voltaire foi o grande homem do seu século, e o que mais fez pela liberdade do que qualquer outro dos filhos dos homens.

No domingo, em 21 de novembro de 1694 um bebê nasceu. Um bebê tão demasiadamente frágil que sua respiração hesitou, e seus pais trataram de batizá-lo o mais rápido possível. Eles estavam ansiosos em salvar a alma do seu filho, e eles sabiam que se morresse antes do batismo, ele estaria condenado a uma eternidade de dor. Eles sabiam que "Deus despreza uma criança pagã". O padre que, com umas gotas de água lhe deu o nome de François-Marie Arouet salvou sua alma – o pequeno que, enrolado em panos, chorava debilmente, respirando com dificuldade, era aquele destinado a romper da garganta da liberdade as garras assassinas e cruéis da "Besta Triunfante".

Quando Voltaire veio para este grande palco de tolos, seu país havia sido cristianizado – não civilizado – por aproximadamente quatrocentos anos. Por mil anos a religião da paz e da boa vontade havia dominado. A lei havia sido dada pelos reis cristãos. E sancionadas pelos 'sábios santos homens'.

Sob o benigno reino da misericórdia universal toda corte teve sua câmara de tortura, e todo pastor usava o esmagador de polegares e a prancha de tortura. Foi tão grande o sucesso do evangelho abençoado que toda ciência foi proscrita. Exprimir honestamente suas idéias, ensinar seus semelhantes, investigar por você mesmo, buscar a verdade, tudo isso eram crimes e a 'santa igreja' perseguiam esses criminosos com a espada e a fogueira.

Os que acreditam num Deus do amor – um pai eterno – puniam milhares de ofensas com a morte e a tortura. Pessoas suspeitas eram torturadas para confessar. Pessoas indiciadas eram torturadas para dizer o nome dos cúmplices. Sob a liderança da igreja a tortura se tornou a única força de persuasão.

Nesse ano abençoado de 1694 todos os escritores estavam sob a influência da igreja e das coroas. A maioria deles eram jogados em prisões, ou empobrecidos com taxas e impostos, exilados ou executados. O pouco tempo que os verdugos tinham de folga era ocupado com a queima de livros. As cortes de justiça eram armadilhas com as quais os inocentes eram apanhados. Os juizes eram quase tão maliciosos e cruéis quanto os bispos e santos. Não havia julgamento com júri e as evidências permitiam o indiciamento do suposto criminoso apenas pelas suspeitas no depoimento. As testemunhas, correndo o risco de ser torturadas, geralmente diziam aos juízes o que eles queriam ouvir.

O sobrenatural e miraculoso dominavam o mundo. Tudo era explicado, mas nada era entendido. A igreja a líder. Os doentes compravam de monges pequenos amuletos de papel que eram benzidos. Eles não procuravam um médico, mas um sacerdote. E os padres vendiam aos doentes e moribundos esses amuletos. Esses pequenos pedaços de papel curariam doenças com a ajuda de santos. Se fossem colocados num berço, você poderia evitar que a criança fosse enfeitiçada. Se fossem colocados numa despensa, os ratos não iriam devorar seu milho. Se fossem colocados na sua casa, os maus espíritos não entrariam pelas portas, e se você os enterrasse no campo, teria bom clima, as geadas atrasariam, as chuvas chegariam quando necessário, e colheitas abundantes abençoariam seu trabalho. A igreja insistia que todas as doenças poderiam ser curadas em nome de Deus, e essas curas poderiam ser realizadas pela oração, pelo exorcismo, tocando ossos de santos, pedaços da cruz sagrada, sendo salpicadas por água benta, ou com sal santificado, ou tocados com santos óleos.

Naqueles dias os santos eram os melhores médicos. São Valentim curava a epilepsia; São Gervásio era excelente para reumatismo; São Miguel, para câncer. São Sebastião era bom para mordidas de cobra e picadas de insetos venenosos; Santa Apolônia, para dor de dentes; Santa Clara, para problemas nos olhos; São Huberto para hidrofobia; era comentado que os médicos diminuíam a confiança na igreja; era o bastante: a ciência era inimiga da religião.

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