terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (85). Insistimos nos negócios que o vento leva



Um governo das maratonas e para as maratonas
que insiste beber o álcool não original das nossas origens e dos nossos destinos

Insistimos nos negócios que o vento leva
e na vocação das festas inatas para arder o tempo que nos sobra em demasia
A hipocrisia é a satisfação do dever cumprido
Semear injustiças é colher revoltas
Mesmo que o nosso governo faça alguma obra para algum africano ver
nós acabaremos com ela
Se tivéssemos a bomba atómica seríamos alcunhados «o Continente do cinzeiro radioactivo»
Se a bebida fosse livros eu seria muito culta
Até nos concursos internacionais de bebidas alcoólicas somos discriminados
porque de antemão todos sabem que somos vencedores
E nesta batalha não há Waterloo

Não fico exausta
Mas constrangida de não correr pela areia das praias
proibidas
Um instante muda muito, muita coisa

As estátuas dos meus seios erectos, modelados
como fruta afrodisíaca na avidez do espanto do prazer
na espera do alimentar a vida
e voltar a endeusar-me
sem corrupção nem queda
da actual governação
algo muito fácil
Sou uma deusa lendária amada, desejada por todos os deuses
e perante a realidade destas coisas sem mundo

Ó embarcações da emigração clandestina
levai-me e que chegue viva às fronteiras trágico-marítimas
da nova colonização

O prédio onde ainda consigo viver, restam alguns alicerces
ainda bem! Prefiro o capim seco da liberdade campal
Comprometo a minha queda africana
abismal
Ao assinar contratos de qualquer espécie
nacionais ou internacionais… para quê!? Se depois ficam esquecidos,
rasgados, abandonados nas lixeiras desproporcionadas, desgovernadas,
é por isso que o meu povo é acérrimo defensor da delinquência
Quantas mais leis, mais desordens
Melhor será não existir lei, porque a desordem está organizada
devidamente institucionalizada

Ai de mim se conseguir desenvolver a minha inteligência
Ficar culta, lá me chegam os ancestrais sacramentos:
«Vai lavar a loiça, a roupa e varrer o chão
depois cozinha funji com quiabos, jimboa e cacusso assado
Traz o jindungo regado com a bebida da nossa trovoada
tempestade tropical
Em seguida despertaremos a sombra do secular embondeiro»

Lutamos, sofremos, vivemos, morremos
Sem dinheiro. Está com eles e esses
das companhias petrolíferas

Raramente por amor. Se não existisse hoje, amanhã?!

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