A ação do proletariado na Argélia é, desde os primeiros dias, diretamente violenta e dirigida contra "sua própria" burguesia. A partir de um acontecimento particular e local, como uma gota d’água que faz transbordar o vaso, o proletariado consegue afirmar de imediato sua existência. Ocupa a rua por todos os lados. Em seguida a delegacia deixa de ser o alvo exclusivo, e a vingança proletária se generaliza contra o conjunto de instituições do estado, tanto civis quanto militares. A violência de classe contra a burguesia se produz sem concessões: incêndios, destruições, saques, reapropriação direta das mercadorias, combate à repressão...
http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html
Como sempre, diante desses acontecimentos, a burguesia trata de acalmar como pode a efervescência proletária, utilizando simultaneamente a porrada e o suborno. Desde segunda, 23 de abril, as unidades antidistúrbios são deslocadas de Tizi-Ouzou (capital de Cabila) até Beni-Douala, situada a 20 km. No dia 24, as autoridades, manifestando seus "desejos de apaziguamento", anunciam a suspensão do chefe adjunto da segurança da wilaya ("prefeitura") de Bugía, a detenção do milico autor dos disparos mortais em Beni-Douala e a colocação em funcionamento de um "programa especial de ajuda econômica a essa região". Além do mais difundem chamados à calma efetuados pelos familiares do estudante assassinado, que se dizem decididos a "iniciar os procedimentos judiciais para que se julguem os responsáveis".
Mas nem as promessas, nem os chamados à calma que os parentes das vítimas fazem, assim como os partidos e organizações social-democratas (RCD, FFS, MCB...) (5), nem tampouco a ação das forças repressivas conseguem impedir que o conflito se generalize. Ao mesmo tempo se produz um novo ataque ao edifício dos tribunais, que reflete a pouca ilusão que têm os proletários nos resultados das "perseguições ou processos judiciais". Os partidos social-democratas se mostram incapazes de modificar esta determinação e orientação violenta dos proletários, que escrevem em suas bandeiras: "Vocês não podem nos matar porque já estamos mortos". A indigência total em que foram jogados pelo capitalismo os impulsiona a lutar sem concessões.
Alguns números podem dar uma idéia da situação. De 1991 a 1999, em oito anos, o "poder de compra" do proletariado na Argélia baixou 60%. Entre 1999 e 2001, o número de pessoas declaradas "vivendo em condições de pobreza" passou de 10 para 14 milhões, dos 30 milhões de habitantes que tem a Argélia. Cerca da metade da população vive com menos de 50 dólares por mês, enquanto os aluguéis de apartamentos privados nos distritos populares oscilam entre 130 e 170 dólares por mês. Não surpreende que a taxa média seja de mais de sete pessoas por domicílio.
As negociações com o Fundo Monetário Internacional para renovar os créditos concluíram com um acordo que implicava a reestruturação do setor público e a indústria. Essa reestruturação produtivas impôs a supressão de 400.000 empregos. Dado o declínio industrial nessa região, aos operários concernidos não lhes restava nenhuma esperança de encontrar outra solução laboral.
Anteriormente aos distúrbios, a taxa de desemprego havia alcançado oficialmente 40% da população ativa. Um fato revelador da tensa situação social é que o único setor em que se encontrava trabalho era o das empresas privadas de segurança. Na Argélia existem mais de 80 sociedades desse tipo, nas quais às vezes trabalham até 1.500 pessoas. O que resulta mais sintomático é que as mais numerosas sejam as sociedades de segurança industrial.
Na Argélia, as necessidades mais elementares dos proletários, como a água potável, a moradia e a eletricidade, não estão cobertas. Os mais afetados por estas condições de vida são os jovens de menos de trinta anos, que constituem 70% da "população ativa". A cada ano, chegam cerca 300.000 jovens a um mercado de trabalho que não necessita deles. Agredidos até o limite de não ter possibilidades próprias para sobreviver, inventam estratégias para se arranjar. Visto preço dos aluguéis, é impossível sair do núcleo familiar e viver por sua conta. Esta é a razão pela qual os jovens repetem voluntariamente anos escolares para adiar a data em que ingressarão no serviço militar e em que passarão seu primeiro dia como desempregados. Compreende-se assim o papel que a juventude desempenha na revolta. Mas não nos deve assombrar que os jornalistas aproveitem a situação para expressar seus clichês sociológicos favoritos. Partindo da realidade do dilema entre o exílio e o desemprego, os jornais fomentam a imagem do "mal-estar dos jovens" e sua "sede se justiça e democracia", negando e escondendo que é o proletariado de todas as idades que enfrenta a justiça e a democracia.
Varrendo toda terapia cidadã, os proletários, que não têm nada a perder senão seus grilhões, empregam a única arma de luta eficaz para a nossa classe, a ação direta: "Os jovens manifestantes não querem falar com um poder que os despreza. Eles mesmos desprezam o poder. Então se rompe tudo aquilo que é símbolo do estado. Os manifestantes não querem dialogar" (6), se lamenta um desses escrevinhadores.
Imagem: http://www.manics.nl/images/misc_wp4_1024x768.jpg
Sem comentários:
Enviar um comentário