quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Voltaire. E o sacerdote dizia: Deus vos fez ignorantes e vis; ele me fez sábio e santo; vós sois as ovelhas; e eu, o pastor


Os infiéis de determinada época se transformam nos santos da época seguinte. Os destruidores do velho são os criadores do novo. À medida que o tempo passa, o velho se vai e o novo, por sua vez, torna-se velho. Há no mundo intelectual, como no mundo físico, decadência e crescimento, e no túmulo dos que decaíram nasce a juventude e a alegria.

Robert Green Ingersoll
http://www.mphp.org/racionalismo/voltaire---robert-g.-ingersoll.html

A história do progresso intelectual é escrita na vida dos infiéis; direitos políticos têm sido escritos por traidores, e liberdades de mentes, por hereges. Atacar um rei era traição; disputar com um sacerdote, uma blasfêmia. Por muitos séculos, a espada e a cruz foram aliadas. Juntas elas atacavam os direitos dos homens. Elas se defendiam entre si. O trono e o altar eram abutres irmãos gêmeos, vindos do mesmo ovo.

Jaime I disse: 'nenhum bispo, nenhum rei'. Ele deveria ter acrescentado: 'nenhuma cruz, nenhuma coroa'. O rei era o dono dos corpos dos homens. O sacerdote era dono da alma. Um vivia de taxas coletadas pela força; o outro, de esmolas coletadas pelo medo – ambos eram ladrões, ambos pedintes.

Esses ladrões e esses pedintes controlavam dois mundos: os reis faziam leis e os sacerdotes faziam crenças. Ambas atribuíam sua autoridade a Deus. Ambos eram representantes do Eterno.

Com as costas recurvadas, o povo carregava as obrigações de um, e com as bocas abertas de espanto, recebia os dogmas do outro. Se o povo tentasse ser livre, seria esmagado pelo rei, e todo sacerdote era um Herodes que esmagava as crianças pensantes.

O rei governava pela força, e o sacerdote, pelo medo, e ambos dependiam um do outro.

O rei dizia ao povo: "Deus vos fez servos, e me fez rei; ele vos fez para o trabalho, e me fez para a alegria; ele vos deu trapos e ferramentas e me deu palácios e roupas ricas; ele vos fez para obedecer e me fez para comandar. Esta é a justiça de Deus".

E o sacerdote dizia: "Deus vos fez ignorantes e vis; ele me fez sábio e santo; vós sois as ovelhas; e eu, o pastor; vossas peles pertencem a mim; se não me obedeceis aqui, Deus vos punirá e vos atormentará para sempre num outro mundo. Esta é a misericórdia de Deus".

"Não deveis usar a razão. A razão é uma rebelde. Não deveis contrariar – a contradição é nascida do egoísmo. Deveis acreditar. Aquele que tiver ouvidos para ouvir, que ouça". O céu era só uma questão de audição.

Felizmente para nós tem havido traidores e hereges, blasfemadores, investigadores, pensadores, amantes da liberdade, homens de gênio, que deram suas vidas para melhorar as condições dos seus semelhantes.

Isto pode ser suficiente para nos fazer perguntar: o que é a grandeza?

Um grande homem adiciona a o nosso conhecimento, amplia os horizontes do conhecimento, liberta as almas das bastilhas do medo, cruza mares desconhecidos e misteriosos, desbrava novas ilhas e novos continentes para o domínio do conhecimento, novas constelações do firmamento para nossas mentes. Um grande homem não busca aplauso e colocação. Ele busca a verdade. Ele busca a estrada para a felicidade, e o que ele obtém ele compartilha com os demais.

Um grande homem joga pérolas aos porcos, e os porcos são freqüentemente transformados em homens. Se os grandes mantivessem para si as pérolas, grandes multidões seriam bárbaras hoje.

Um grande homem é uma tocha na escuridão, um farol. Na noite da superstição, é uma inspiração e uma profecia.

Grandeza não é uma dádiva para a maioria; ela não pode ser de qualquer um; não pode ser dada de um para outro homem; eles podem se dar poder e colocação, mas não grandeza.

A posição não faz o homem, assim como o cetro não faz o rei. A grandeza vem de dentro.

Os grandes homens são os heróis que libertaram os corpos dos homens; eles são os filósofos e pensadores que deram liberdade para os espíritos dos homens; eles são os poetas que mudaram os povos e encheram as vidas de milhões com canção e amor. São os artistas que cobriram os muros nus da vida com triunfo e gênio.

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