quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Voltaire. Porque uma sobrinha de Pascal tivera uma doença no olho curada por um espinho da coroa de Cristo.


Em 1552 Dr. Baius começou a discutir certas questões que colocavam sob dúvida a doutrina do livre-arbítrio. Os monges cordelianos selecionaram setenta e seis dessas proposições e o denunciaram ao papa como herege, e do papa obtiveram aquilo que era conhecido como uma bula. Esta bula continha uma passagem duvidosa, cuja compreensão dependia da presença de uma vírgula. Os amigos de Dr. Baius escreveram para Roma para saber onde deveria ser colocada a vírgula. Roma, ocupada com outras questões, mandou outra bula na qual a sentença era colocada sem a tal vírgula. E a disputa continuou.

http://www.mphp.org/racionalismo/voltaire---robert-g.-ingersoll.html

Então surgiu uma grande controvérsia entre os jansenistas e os molinistas. Molini era um jesuíta espanhol que sustentava a doutrina do livre-arbítrio com uma sutileza sua: "O arbítrio do homem é livre, mas Deus vê exatamente como ele o usará." Os presbiterianos de nossa época ainda estão enrolados com este grande absurdo.

Jansenius era um jesuíta francês que levava ao extremo a doutrina da predestinação, assegurando que Deus comanda coisas que são impossíveis e que Cristo não morreu por todos.

Em 1641 os jesuítas obtiveram uma bula condenando cinco proposições de Jansenius. Os jansenistas então negaram que qualquer dessas proposições tivesse sido descrita por Jansenius.

Esta questão de molinismo e jansenismo ocupou a França durante uns duzentos anos.

No tempo de Voltaire, a questão primordial era se as cinco questões condenadas pelo para haviam sido, de fato, escritas por Jansenius. Os jansenistas provaram, então, que as cinco proposições não estavam no seu trabalho, porque uma sobrinha de Pascal tivera uma doença no olho curada por um espinho da coroa de Cristo.

A bula "Unigenitus" foi lançada em 1713, e então todas as prisões se encheram de jansenistas. Esta grande questão de livre-arbítrio e predestinação, meios e responsabilidade, ser salvo pela interferência divina, e condenado pela glória de Deus, ocupara as mentes do chamado mundo civilizado por muitos séculos. Todas estas questões eram debatidas na Suíça; e na Holanda durante séculos; e na Escócia, e na Inglaterra, e na Nova Inglaterra, e milhões de pessoas ainda estão ocupadas tentando harmonizar pré-ordenação e livre-arbítrio, necessidade e moralidade, predestinação e responsabilidade.

Depois da morte de Luís XIV o regente tomou posse, e então as prisões foram abertas. O regente pediu a lista de todas as pessoas, e dentre elas todas lá estavam pela decisão do rei. Ele constatou que não se tinha sequer conhecimento dos motivos que as levaram à prisão. Eles haviam sido esquecidos. Nem eles próprios tinham a menor idéia dos motivos que os levaram à prisão. Um italiano havia passado trinta anos na bastilha sem saber por quê. Logo após ter chegado a Paris trinta e três anos antes ele foi preso e encarcerado. Ele já havia envelhecido. Ele foi o único que sobrou da família. Quando os demais foram libertados, ele pediu para permanecer, e lá ficou pelo resto de sua vida. Os velhos presos haviam sido perdoados, mas em seu lugar outros foram colocados.

A essa época, Voltaire não estava interessado nas questões importantes – quase nada sabia sobre governo e religião. Ele estava ocupado escrevendo poemas, comédias e tragédias. Ele estava cheio de vida. Todos os seus gostos tinham asas, como borboletas.

Ele estava sendo acusado por escrever algumas frases mordazes. Ele então se refugiou em Tulles, a trezentas milhas de distância. Dessa distância ele escreveu decidido: "Eu estou num castelo, um lugar que deveria ser o mais agradável do mundo, se eu lá não estivesse refugiado, e onde não há nada faltando para minha perfeita felicidade, exceto a liberdade de me retirar. Seria delicioso ficar, se eu tivesse a liberdade de sair".

Por fim ele recebeu a permissão de retornar. E novamente ele foi preso; desta vez foi levado à bastilha onde permaneceu durante quase um ano. Enquanto preso ele mudou seu nome de François-Marie Arouet para Voltaire. E desde então passou a ser conhecido com este nome.

Voltaire, tão cheio de vida quanto um verão é cheio de flores, dando opiniões sobre todos os assuntos relacionados a príncipes e reis, foi expulso para a Inglaterra. Da ensolarada França ele foi para a nevoenta Albion. Ele ficou famoso como um dos grandes da Grã-Bretanha. Ele encontrou Pope, um maravilhoso mecânico verbal, um fabricante de flores artificiais, muito semelhantes às naturais, exceto quanto à ausência de perfume e sementes, ele tomou conhecimento de Young, que escrevera "Pensamentos Noturnos"; Young, um velho hipócrita com uma virtuosa imaginação. Um cavalheiro que trabalhara na eleição da senhora do rei, que poderia ser feito um bispo. Ele conheceu Chesterfield, e Thompson, autor de "As Estações", que adorava ver o sol nascer na cama e visitar o interior; com Swift, cujas setas envenenadas estavam sendo lançadas na carne de Mr Bull – Swift, que era tão mau quanto irônico, tão cruel quanto bem humorado; com Swift, um deão e um diabo; com Congreve, quem Addison considerava superior a Shakespeare, que nunca escreveu nada além de uma grande frase: "A catedral procurando tranqüilidade".

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