quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (101). A história da História repete-se. Nunca tão poucos espoliaram tantos


Prometeram-me a liberdade Ocidental
em troca obtive a liberdade condicional
neste campo de concentração angolano
Utilizaram a ingenuidade do meu ventre
Colocaram descolonizadores negros, fiéis seguidores
que mantêm a paz, estabilidade
E estrangeiros bem pagos juram que são hábeis governantes, defensores da democracia PIB
As riquezas escoam-se sob a bênção do sol tropical
nos doentes sem hospital
O cofre do meu estômago vaza, enche o Ocidente
e a China

Das duas democracias, ocidentalismo opulento e fome tropical
A riqueza é a democracia e a miséria é a sua filha bastarda
Um dicionário é mais rico porque contém muito léxico
dos esfomeados e miseráveis
da independência das esmolas
Há línguas ricas e línguas pobres
Falar ou não falar eis a escuridão
A história da História repete-se. Nunca tão poucos espoliaram tantos

Deito-me e levanto-me sempre de cabeça no ar
Deitar, levantar. A fome também se deita, se levanta
resiste a todas as peripécias. Cheia de galanteria, muito funcional
Tem boa memória, longa, longínqua
Aprisiona-nos, guarda-nos nas suas muralhas sem ameias
Acorrenta-nos por seculares guardas. Fiel nas encruzilhadas
Sempre à espera porque não sabe impacientar-se. Incansável
nunca esporeia a sua montada. Nunca se esquece
É uma amiga fiel, nunca está só. Milhões e milhões nela se abrigam
É possante, violenta como a tempestade que aflige os desabrigados

Tenho que vender qualquer coisa para não desfalecer
mas os guardas do soberano proíbem-me de o fazer
As polícias dele perseguem-me, roubam-me os haveres
não sei o que dizer, nem o que posso fazer
Apelo aos direitos humanos Ocidentais na secção ramos marginais
que me possam defender. Eles, os causadores da minha condição, têm que me valer. Ontem partiram-me o casebre, já não é o primeiro, a seguir será o terceiro
Ocidentais! Não sabem o que é dormir ao relento, morrer na companhia da chuva e do vento ditatoriais!
A democracia não pode ser apenas para angolano ver
e para o soberano exportar-lhes petróleo

A minha boca magoada porque está sempre fechada
Mas os meus lábios sensuais
o meu ventre delgado, os meus seios mate
De olhos feridos, tudo neles encerrado
O meu corpo ainda canta, encanta, moreno
Sou esta morena do amor não sereno
Quem ousa dar-me força, inspiração, para vencer esta barreira
e conseguir uma ténue claridade?
Oh! Que saudade ter presente, o que resta da minha mente
subjugada pelo eterno presidente

No altar das preces erguidas
onde só príncipes e princesas ousam falar do amor
petrolífero sugado pelo terror da violação constitucional
Onde mendigos e miseráveis ousam falar da fome
A novel nobreza colonialista fala dos seus reinos
os esfomeados falam das noites nas ruas
Entre príncipes, princesas, mendigos e miseráveis
Não existe nada de novo
Excepto que estamos óptimos
aprontados para mais uma colonização

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