As noites e os dias aprenderam a abandonar-me
cansar-me desta repetição, sem imaginação
Vivo, mas não sinto nada do porvir
Desmiolada nas ruas sem sentido. Apavorada, abandonada quando
a velhice chegada, e está quase, nem por um trapo serei trocada
Que discriminação! Existem países que se vive bem, neste não
Porquê esta excepção?! Biologicamente somos todos iguais, ou não!?
Será devido à minha cor e compostura de cão?
Exijo uma resposta. Saber porque não tenho direito ao pão
O meu professor professou-me cabisbaixo:
«A casa está a desabar, não suporta as enxurradas sazonais. Sem Governo, depreciadas na nossa desumana incúria»
Mais um mês, outra vez?!!
«A corrupção fortalece o crescimento económico, e a fome, o outro desenvolvimento
Tamanha hecatombe de juristas e advogados são formados, doutorados. São mais desempregados, mais esfomeados»
Pelo nome parece que a Democracia é uma mulher como eu. Que Ela não anda, não sabe andar. Hei-de falar com Ela. Talvez porque estamos sempre sentadas nas nossas vendas, deve ser por isso que Ela não singra. Vou falar com as outras mulheres e vamos ter, falar com Ela. Vamos convidá-la, acompanhá-la a andar.
Se soubesse onde Ela mora, ou onde trabalha…
É a pessoa de quem mais se fala. Nunca a vi passar na rua, mas lê-se nos jornais e nas ondas frequentes da frequência electrónica
Se não a vejo e só a sinto levemente, é com certeza uma fantasia aparente
que me arrasta na leva, como toda a gente
Hum! Essa gaja, essa Democracia deve ser uma grandessíssima prostituta. É pá, deixa lá Ela safar-se. Atravessar toda a corrente na mesma jangada
É que não se consegue falar com essa senhora. Acha-se muito importante. Desavergonhada… quando a vir… vou-lhe dar monte de chapada. Democracia à-toa
Deve ser muito rica, tem medo de manifestar-se, por isso está sempre escondida
Com a sua riqueza e nós sempre na pobreza
É é muito misteriosa, desaparece e aparece de vez em quando
O meu professor Pigmeu itinerante reapareceu avantajado, sempre deslocado. O que foi desta vez?
«Roubaram-me o carro, consegui recuperá-lo, patético é agora conservá-lo. Mas consegui consertá-lo. Não evitei chocá-lo, frontal a 130 à hora
Da tormenta sobressaíram duas costelas que me atormentam»
Como as naus trágico-marítimas, agora história trágico-automobilistas
Eis o nosso beber e vender coisas não importantes, importadas
Desconfiadas, a qualquer momento assaltadas
Mesmo assim, sem me dar conta pus-me a cogitar com o meu cogito
sobre o amor. São tão poucos, conhecidos, desconhecidos.
O amor de Deus e de Jesus Cristo. Amar para matar, amor pelo dinheiro
Amor pelo poder, amar as velocidades, amor carnal, amar o maltratar
o próximo. Amar o ódio. Amar o nuclear.
Amar com desplante que já não existe amor. Existe e que de sobremaneira
A humilhação de amar a Deus sobre todas as coisas
servida pela humilhante servidão aos tubarões
Que no amor ingénuo e servil nos exploram, nos esfomeiam
na prisão dos mandamentos. Não podemos reagir
porque pecamos. As famílias dos tubarões sabem-no
Impunes milenarmente escravizam as pobres almas
Temerosas que do céu Deus lhes envie um raio na cabeça
Os esqualos bem treinados tragam os esquálidos crentes.
Que dormentes, paralisados e caçados pelos mesmos sempiternos predadores
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