O alguidar abarrota de pão, parece que não conseguiu vender nada. Aparecem três clientes das escolas. Serve o primeiro. O bebé chora, amorosamente encosta-lhe a chupeta do seu mamilo. O cliente entrega-lhe o dinheiro. Inicia uma dança para embalar o bebé. Serve os clientes que restam. Vem mais três, mais um, mais outro. Cada vez que recebe o dinheiro vira-se de costas e dança, agitando o seu magro traseiro enquanto olha enlevada para o seu bebé. Vai-lhe dando palmadinhas no delicado rabinho para exprimir a sua felicidade e a pensar alto:
- Filhinho, hoje não passa fome!
O alguidar está quase vazio. Ela tira um pão, e portando-se como um cliente come também o seu almoço. O negócio hoje deu para comer. Em homenagem à sua beleza um jovem oferece-lhe uma gasosa. Ela bebe e come tão contente enquanto dança imaginando que está na festa da eleição da Miss Angola.
O general esteve aqui fardado. Parece que está com medo. Tinha um segurança militar colocado num canto estratégico, com a pistola pronta para ser sacada. Quatro senhores faziam-lhe observações sobre as obras. Olhámo-nos durante uns momentos. Todos olharam para mim. Apontaram os dedos na direcção do nosso prédio. O general continuou a olhar-me de rosto duro. Deu uma grande gargalhada e exclamou:
- Oh! Essa merda aí?
Bajuladores, todos o acompanharam no riso. Depois foram-se embora. Preocupado contei tudo à Lwena, e acrescentei.
- Vamos embora daqui, vão-nos roubar a casa.
Ela disparatou.
- Vá você se quiser. Vou arranjar uma casa de capim. Não se esqueça do seu filho.
- O almirante já me disse que ele é muito perigoso.
- Oh! Ele está com Sida, costuma ir em tratamento na África do Sul. As moças aqui da área são todas dele. Lembras-te daquela vizinha, a Mitó?
- Aquela ali do outro prédio à esquerda?
- Sim, essa mesma. Está com Sida… Vai-se casar e o marido não sabe. Vai apanhar Sida… dá-me aí esses pratos para lavar.
- Queres-me obrigar a viver na miséria, viver num país assim é viver? Se falamos demais corremos o risco de sermos assassinados. Não tem nenhum interesse viver nesta merda. Que porcaria de vida esta.
- Se quiser ir embora vá, ninguém te obriga a ficar aqui.
- Mas para onde o marido vai, a esposa acompanha-o, não é sua parva?!
- Faça como quiser!
- É muito difícil viver com esta população. Gostam de viver na miséria, na escravidão. Não sabes que estás outra vez colonizada? E que este colonialismo é pior que o outro?!
- Ah! Quero lá saber disso!
O meu filho alerta-me:
- Pai… deixa eles roubarem. Se fazes queixa ao ministro das Finanças vão-te matar.
- Mas ninguém se revolta porquê?! Grandes burros! Mataram o Savimbi, agora não têm ninguém para se desculparem. Nem falam nada sobre os assassinatos selectivos…
- Pai, se continuares assim também te vão matar.
- Sim. Difícil é andar sob o aguçado fio desta catana. Dum lado o inferno, do outro o inferno. É esta a Nova Vida.
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