segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Voltaire. A igreja acreditava firmemente na existência de feiticeiras e demônios.


A igreja pensava que o ar era cheio de demônios; que o pecador era uma espécie de casa habitada por maus espíritos; que os anjos estavam do lado dos homens, enquanto que os diabos estavam contra; enquanto que Deus, quando as recomendações e doações eram o bastante, expulsava os maus espíritos da área.

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Satã tinha poder sobre o ar; conseqüentemente, ele controlava o congelamento, o mofo, os relâmpagos e as tempestades; e a principal ocupação da igreja era com sinos, com água benta, com incenso, com cruzes, para vencer o príncipe da força do ar. Confiava-se muito na força dos sinos; eles eram salpicados com água benta e seu som limpava o ar de impurezas e diabos. E os sinos protegiam as pessoas de relâmpagos e tempestades. Naquela época a igreja costumava anatemizar os insetos.

Processos eram instaurados contra ratos e existiam julgamentos; todo convento possuía seu mago mestre, que vendia incenso, sal e sírio, e consagrava palmas e relíquias. Toda ciência era vista como uma inimiga. Todo fato era mostrado pela igreja com ironia. Investigadores eram vistos como perigosos. Pensadores eram traidores; e a igreja exercia toda a sua força para evitar o progresso da humanidade.

Não havia verdadeira liberdade, nenhuma real educação, nem filosofia, nem ciência – nada além de credulidade e superstição. O mundo estava sob controle da igreja e de Satã.

A igreja acreditava firmemente na existência de feiticeiras e demônios. Desta maneira a igreja tinha todos os inimigos sob seu poder. Bastava acusá-lo de feitiçaria que a malta ignorante o fazia em pedaços. Tão comum esta crença, a crença no sobrenatural, que fazia com que as pessoas simples fizessem qualquer acordo com os diabos e espíritos do mal. Esta terrível doutrina fazia com que qualquer pessoa lançasse suspeitas sobre seus amigos; ela fazia com que maridos denunciassem suas esposas, crianças, denunciassem seus pais, e os pais denunciassem seus filhos. Ela destruiu as amenidades da humanidade; tirou a justiça dos julgamentos; quebrou os laços de amizade; encheu de veneno a taça de ouro da vida; e transformou a Terra numa perdição povoada de diabos maliciosos, abomináveis e traiçoeiros; este era o resultado na crença no sobrenatural; este era o resultado de desprezar as evidências dos nossos sentidos, e confiar em sonhos, visões e medos; este era o resultado do ataque contra a razão humana; este era o resultado de depender da imaginação, no sobrenatural; este era o resultado de viver neste mundo para um outro vindouro; em depender de padres, em vez de depender de nós mesmos.

Os protestantes competiam com os católicos; Lutero ficou lado a lado com os padres e promoveu a crença em diabos e maus espíritos. Mas para o católico, todo protestante era possuído pelo demônio. Para o protestante, todo católico era a casa do diabo. Toda a ordem, toda a sucessão de causas e efeitos era desprezada; o natural deixava de existir; o sábio e o ignorante estavam num mesmo nível; o padre era apanhado na rede que ele mesmo preparara para o servo; e o cristianismo se transformou num enorme hospício comandado pelos loucos.

Quando Voltaire nasceu a França era comandada pela igreja; era um período de corrupção disseminada; os padres eram na maioria libertinos; os juizes, cruéis e maus. Os palácios reais eram casas de prostituição. Os nobres eram insensíveis, orgulhosos, arrogantes e cruéis até o último degrau; a igreja passara mil anos até chegar a este estado de coisas.

As sementes da revolução estavam sendo semeadas inconscientemente por cada nobre e clérigo; elas estavam germinando lentamente nos corações dos maus; estavam sendo aguadas pelas lágrimas da agonia; havia um desejo de sangue; trabalhadores bronzeados pelo sol, curvados pelo trabalho, deformados pela pobreza, olhavam para as gargantas brancas das moças debochadas e pensavam em cortá-las.

Naquela época os interrogatórios eram conduzidos com instrumentos de tortura; a igreja era um arsenal de superstições. Milagres, relíquias, anjos e demônios eram tão comuns como mentiras.

Para conhecermos um grande homem, precisamos conhecer seu ambiente; devemos ver o palco no qual ele atuou; conhecer o ato em que ele representou; e devemos também conhecer sua platéia. Na Inglaterra George I estava divertindo-se com o "May Pole" e o "Elefante". Então, George II, ciumento e colérico, odiando os ingleses e sua língua, fazendo de si, entretanto, uma imagem de ídolo diante da qual os ingleses se orgulhavam de se curvar – triunfantemente esnobe – fazendo o código penal a cada dia mais sangrento – 223 ofensas punidas com a morte – as prisões cheias e os patíbulos apinhados – esforçava-se de toda maneira para reprimir a ambição do homem para ser homem, enquanto a igreja se esforçava na cerimônia e na supertição para fazer o homem bom – enquanto o estado dependia do couro, da corda e do machado para fazer os homens patrióticos.

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