O processo de negação prática desde abril de 2001 renovou três aspectos que foram a força do movimento de 1988:
• Ataque a instituições e forças do estado.
• Ausência de reivindicações precisas, expressão de esgotamento generalizado de paciência dos proletários conscientes de não terem nada a perder, e de tampouco terem algo a ganhar negociando com o estado.
http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html
• O escasso resultado do tradicional enquadramento social-democrata do movimento (19).
Esta breve incursão histórica é suficiente para mostrar que o rechaço às estruturas de enquadramento social-democrata, como as lutas pela identidade, não cai do céu nem provem unicamente das condições de exploração imediatas. Aprender das lições de lutas passadas tem suma importância, e esta continuidade é infelizmente mal assumida hoje. Nós não dispomos de expressões claras ou textos de minorias provenientes da região, mas sabemos que as manifestações aconteceram em torno dos "monumentos" postos pelos proletários de fins de 1988. Nossa classe conseguiu assim manter viva a memória operária apesar das múltiplas tentativas de eliminar seus vestígios. Em todo caso, o desgaste progressivo das ideologias burguesas no transcurso de cada uma dessas lutas levou o proletariado a recusá-las cada vez mais abertamente.
Nestas bases, o movimento atual superou em certos pontos o seu predecessor:
• A "afirmação pela identidade cultural" e a "libertação nacional" já não são mais as portadoras da esperança dos proletários, para os quais quarenta anos de independência (dos quais vinte de governo do FLN) não trouxeram mais do que miséria e massacres suplementares.
• A ideologia islâmica perdeu seu peso, ao mesmo tempo que perdeu credibilidade a fração social-democrata que a representa, a FIS (20). "Hoje os muçulmanos não conseguem explorar as reivindicações dos jovens argelinos", ressaltou um historiador (21). Os próprios proletários denunciam as "concessões do presidente Bouteflika aos muçulmanos" como a recente diretiva governamental que proíbe o beijo nos bancos públicos e parques.
• Os movimentos independentistas parecem desacreditados quanto a sua capacidade de fazer mudanças reais. Apesar dos acentos "bérberes" de seu programa, a chegada do RCD ao governo não significou nenhuma mudança nas condições de vida em Cabila. Ao contrário, o proletariado denuncia sua participação nos planos de austeridade.
Cada onda de luta passada prepara assim diretamente as condições de um enfrentamento de classe futuro cada vez mais violento. Cada enfrentamento entre revolução e contra-revolução é um momento de exacerbação das contradições de classe, no curso do qual as máscaras caem, as ideologias desmoronam, as ilusões se dissipam..., abrindo-se assim a via da expressão cada vez mais clara do proletariado para a qual o empurram suas determinações históricas.
Da mesma maneira, o papel do exército na repressão feroz de 1988 (encarcerando, torturando, assassinando...) o faz aparecer hoje minado por contradições, pelo fato de que muitos soldados atuais participaram nos distúrbios da época. A exacerbação das contradições em seu seio constitui um limite para a repressão militar, ao menos quanto à amplitude que a mesma poderia tomar se o movimento continuar seu desenvolvimento. Inclusive um sociólogo ressalta: "Eu não penso que eles disparem contra o povo argelino. Os serviços especiais ou a polícia podem atirar. O exército de base, não o dos generais, têm primos e irmãos que vivem numa situação de merda.
E se há mortos, os jovens vão romper com tudo, e isso seria uma aventura." (22) Se bem que esta realidade parece surgir como produto da continuidade histórica da luta de classes, isso não significa nunca que tudo estivesse disposto de antemão. Com efeito, até agora não conhecemos nenhum sinal sério de fraternização ou de derrotismo interno contra o mesmo exército, nem tampouco chegaram até nós sinais de que o proletariado tenha tentado tomar as armas que havia nos edifícios que atacou. Além disso, não se deve esquecer o papel que ainda podem ter as forças contra-revolucionárias, como as frações "direito humanitárias", que também preparam a repressão sob uma máscara de denúncia, tentando de fato encerrar o proletariado numa "luta pela democracia contra os generais sanguinários".
Convém, segundo os apóstolos do pacifismo e do parlamentarismo, libertar Bouteflika da influência dos onze generais maiores (entre eles nove antigos oficiais do exército de libertação) que dirigem a Argélia, para permitir que o "processo democrático se desenvolva com normalidade". Isto significaria, mais uma vez, que a guilhotina parlamentar corte a cabeça do proletariado. Está claro que entre o sabre e o rochabus as urnas podem ter ainda um lugar honorável!
As soluções democráticas propostas pela burguesia
É evidente que a burguesia tenta também aprender as lições das lutas passadas. Por exemplo, como em 1988, a imprensa fala de uma "desesperança argelina", como um efeito específico do governo atual. Mas é óbvio que as condições às quais está submetido o proletariado não são exclusivas de um governo particular nem de uma nação particular.
Imagem: http://www.fantasticfiction.co.uk/images/x1/x8488.jpg
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