sábado, 16 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (96). Os estrangeiros controlam-me, mandam-me trabalhar porque os meus libertadores são hábeis no desempregar



E a religião destrói Angola

Não sei por onde sair, o esgoto governamental
está a fluir
Piso nas pedras descalçadas, insegura espero não cair
outra vez
Mas que grande merda! Está tudo a ruir!
neste mercado das moscas ao ar livre
Comprar qualquer coisa importada
não importa. Não produzimos nada nesta nação vendada
Com tanta gatunagem receio ser assaltada
Os que roubaram, roubam, são, serão roubados

Pedi uns tostões emprestados sem juros
que restaram do escrito a lápis desta inconstitucional república
Bolachas, rebuçados, pastilhas elásticas, cigarros
depois gasosa. Bebidas alcoólicas não, bêbado se complica!
Foi o que comprei e nas mãos e cabeça carreguei
Cheguei, tive muita sorte, os gatunos estavam colaterais
Peguei numa travessa, limpei-a e nela arrumei a venda
Fiquei meia escondida na gruta de entrada do prédio
Um fausto vizinho, desses da democrática riqueza
corrupta
Se complicam muito comigo, com a minha pobreza
Que faço lixo, que contraria a sua natureza
São muito desconfiados, medrosos, vivem na insegurança
Da venalidade, imoralidade, dependem de armado segurança
Da ilicitude dos bens arregimentados contra natura

Ninguém paga a alguém
Depois do vizinho fausto, os fiscais policiados, sem vencimentos, sem sustentos
Para sobreviverem rapinam-me os mantimentos
Atacam o ponto mais fraco. A mulher indefesa
Os empresários, salafrários e outros otários
da impunidade fiscal tributários
Taxados heróicos impostores das fugas aos impostos
Sem a pena, com plena protecção do poder civil, militar
e presidencial
Deveres, obrigações, cumprem com os arremedos guturais
das ameaças mortais
A minha venda, desvenda algum dinheiro. Porra! Andei bem!
Hoje iludi, venci a fome. Por quanto lamento?! E amanhã, depois…
a luz e a água vão me controlar, cortar
Não vou cozinhar sem gás, sem ocupação, não posso pagar
Emprego?! Só para estrangeiros seguranças e policias

No espelho, conservo a pobreza, a leveza da minha beleza
Sempre a me chatear. Querem fiado aviar, depois… para pagar
Ah! Sou muito desavergonhada. Irrompo pelos escritórios deles
Antes que saiam com os vencimentos e gastem-nos nas amantes
Exijo tumulto, a minha confusão apresento
Envergonhados, retiram o que me devem, fazem pagamento
As esposas deles copiaram-me. Assediam-nos e vazam-lhes as carteiras
Deixam-lhes penúrias medidas, para umas cervejas bebidas
Com as amantes na mínima condição de fãs, fás sustenidas

Os estrangeiros controlam-me, mandam-me trabalhar
porque os meus libertadores são hábeis no desempregar

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