quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (100). Alheadas, já muito desfloradas, jovens com e menos de catorze anos de mocidade


O ataúde promovia o funeral do imbecil defunto
Do destruidor de nações e populações
e hábil negociante de armas
Enganou-nos neste mundo, não vai enganar no outro
O funeral era acompanhado pela multidão
de bajuladores
E meia dúzia de nobres que com ele muito lucraram
Seguidos dos seus lacaios como num faraó
Os analfabetos continuavam, seguiam-no como um deus
Acreditando na esperança das mudanças
Das novas vidas que ele muito prometera

Mais adiante seguia outro cortejo fúnebre. O de um Homem
cuja ocupação foi dar vida, democratizar, ensinar
Acompanhavam-no milhares de pessoas
os que souberam colher a sua sabedoria
Por aqui já ninguém liga a essas coisas
Perderam esses ensinamentos

Entretanto, na praia, a gaivota acreditava que estava só
Como se o mar e os ditadores não existissem
Aproximou-se confiante e deparou-se
com um desprezível governante. De repente lembrou-se
desse déjà-vu
Esqueceu a mariscada e asou para muitas milhas
Deixou-me a penar. Antes dos hediondos bancos
corruptos lá estarem, ela já lá estivera

A ilusão do amor é a escravidão da pessoa amada
Lá, nunca obtemos o que ansiamos
Nessa complexa dimensão
É um beco sem saída que começa nas palavras
e se unem no tempo quando ele inicia a contagem
desses momentos que parecem infindáveis

Em tempos muito distantes isso do amor não existia
alguém o inventou
Como qualquer invento os especuladores banalizaram-no
E compra-se, vende-se, revende-se
em qualquer local de uma rua murcha, amarga, nua

Existe um outro amor que anda há muito perdido
Puro, inocente, difícil de encontrar
Não se compra, não se vende, conquista-se
Quantos, tantos desses amores perdidos
sem dias, nas noites
Feitos máquinas gerando filhos metálicos
Abandonou a sua origem, perdeu-se nos labirintos oficiais
artificiais dos nossos decretos presidenciais

O vento parecia gelado
assolava a tarde enviado pela corrente fria
da olímpica Benguela
Alheadas, já muito desfloradas, jovens com e menos de catorze anos
de mocidade, atraem-se pelos míseros dólares do sexo monetário
destes novos-ricos
Para vestirem e comerem
Pairavam como pardais em busca dos filhos recém-nascidos

As crianças dançavam na areia do lixo
A árvore contemplava-as, acompanhava-as
deslocava-as, abrigava-as
O sopé volumoso rangia, sorria perante tanta infantilidade
Van-Gogh pintou esta infelicidade no lixo da areia

Porquê os idiotas teimam no poder
como imperadores?
Porque são como a câmara de filmar, capta, mas não lê
Pintar é libertar, democratizar o que ninguém vê

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