sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Albert Camus. "luta contra o terrorismo" constituem as coberturas ideais para a aplicação sistemática, por parte da burguesia, de seu próprio terror d


Sua complementaridade é evidente. Foi graças ao FIS que a combatividade proletária de outubro de 1988 foi desviada para a guilhotina parlamentar.

http://www.algosobre.com.br/historia/administracao-colonial.html

Como bom partido social-democrata, o FIS clamava que a hora havia chegado para que a "soberania de Alá" se instalasse igualmente no parlamento. Participou ativamente no fortalecimento da ilusão que muitos proletários tinham quanto à organização das primeiras eleições livres desde "a independência". Mas a "livre escolha" entre candidatos verdugos não pode fornecer outra perspectiva senão a de sempre: repressão de sua luta e manutenção da exploração burguesa! O FLN, partido único até então, sofreu uma derrota única, em proveito dos dirigentes do FIS, partido em que os proletários, despossuídos de sua luta, investiram suas melhores esperanças. O FIS ganhou as eleições municipais em 1990, e o primeiro turno das gerais, em dezembro de 1991.

Entretanto, o segundo turno das eleições legislativas, previstas para janeiro de 1992, nunca ocorreu. Foram anuladas depois da tomada de direção dos aparatos centrais do estado pela fração burguesa unificada em torno do estado maior do exército.

A persistência de uma forte combatividade proletária durante este período nos permite compreender que, na realidade, o FIS foi superado pelos acontecimentos (os distúrbios de 1991). Desde então, a fração burguesa unificada em torno do estado maior do exército, sabendo que não tinha nenhuma credibilidade a defender frente ao proletariado, estimou que só podia restabelecer a ordem burguesa. A situação, que escapava também do controle do FIS, podia então repolarizar-se dentro de uma guerra interburguesa entre o FIS e os militares.

Uma participação no governo poderia ter sido fatal para o FIS. Sua composição é demasiado heterogênea para que pudesse, sem risco de deserção massiva, assumir concretamente as tarefas da região, a saber:

• Conduzir abertamente a necessária repressão dos elementos mais combativos de outubro de 1988.
• Continuar com a destruição do proletariado excedente.
• Executar os inevitáveis planos de austeridade futuros.
A aplicação deste programa provavelmente teria conduzido o FIS a perder toda credibilidade frente ao proletariado.

O "golpe de estado militar" permitiu impor assim a ordem aos proletários na Argélia preservando o FIS. A fração burguesa reagrupada em torno do estado maior do exército, que jogou o papel de partido da ordem, pôde exercer sua repressão, como sempre, devido à combatividade do proletariado ter sido previamente deslocada pelas frações social-democratas. É essencial ver aqui que, apesar de não participar (oficialmente) do poder, o FIS havia preparado o enquadramento parlamentar dos proletários, o que de fato foi decisivo na restauração da ordem burguesa.

Assim, as frações social-democratas conseguiram preservar quase intacta sua imagem, apesar da real colaboração repressiva. Mais ainda, a fração islâmica podia se apresentar como mártir e continuar seu papel de catalisador do descontentamento proletário. Se não se pode excluir que certas frações islâmicas tenham inclusive empurrado certos proletários a efetuar atos de terror burguês, é inegável que a maioria - senão a totalidade - dos massacres, habitualmente atribuídos ao "islamismo armado", são pura e simplesmente atos do exército argelino, e portanto também do estado francês, através do enquadramento e aprovisionamento das forças repressivas argelinas que este não deixou de proporcionar.

Enfim, quando, sob a bandeira islâmica ou não, o proletariado desenvolve seu terror de classe contra o exército ou outras milícias organizadas pelo estado, nada mais normal do que a burguesia colocar as qualificações ideológicas de "fundamentalismo muçulmano" e "massacre cego de inocentes". Esta amálgama e a "luta contra o terrorismo" constituem as coberturas ideais para a aplicação sistemática, por parte da burguesia, de seu próprio terror de classe, "o terrorismo de estado". Assim, se justifica a militarização crescente do regime como "esforço nacional", em que o proletariado paga sempre o pato. A polarização burguesa entre FIS e militares, "terrorismo versus antiterrorismo", fez possível a desarticulação de toda verdadeira luta sob bandeiras proletárias e a imposição de condições de vida ainda piores, sempre pautadas além disso por novos massacres.



As "arch"


Uma debilidade importante, que constatamos e que na realidade é recorrente em todos os movimentos atuais que sucedem através do mundo, é que o conteúdo proletário é afirmado pelo próprio curso da luta, mas não é reivindicado explicitamente. O objetivo comunista não é identificado, não é assumido conscientemente.

Imagem: http://ogrifoemeu.files.wordpress.com/2009/07/camus-o-estrangeiro.jpg

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